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Entre drama e suspense, 'Em Pedaços' aborda terror nazista

12 mar 2018 às 16:02

"Não se preocupe, apenas viva até morrer / Eu quero me afogar sem nenhum lugar para cair / Nos braços de alguém / Não há nada a se dizer que eu saiba / Você vive até morrer." Os versos recitados por Josh Homme na canção "In the Fade", da banda "Queens of the Stone Age", é o script perfeito seguido por Katja Sekerci (Diane Kruger), protagonista de "Em Pedaços". A música inclusive dá nome ao filme no original, em alemão: "Aus dem Nichts" ("Do Nada", em tradução livre).

O longa-metragem representou a Alemanha na última edição do Oscar, apesar de não ter sido indicado. Também competiu à Palma de Ouro de 2017, principal prêmio do Festival de Cannes. No filme, Katja perde o marido e o fillho em uma explosão criminosa e batalha na Justiça pela punição dos suspeitos, um casal de neonazistas.


O roteiro, assinado pelo diretor Fatih Akin e por Hark Bohm, é dividido em três atos, cada um com um título. No primeiro é onde se passa o atentado e o início das investigações, assim como o início do drama de Katja. A atriz Diane Kruger entrega uma atuação emotiva e forte, sendo a grande estrela do filme. Pelo papel, venceu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes.


A primeira parte do longa carrega um tom mais dramático, com cores escuras e uma presença quase constante de chuva, ressaltando a melancolia da protagonista. Há pouco uso de músicas na trilha sonora, deixando o espectador no silêncio agoniante do luto de Katja e de seus familiares.


É também no primeiro ato que a estrela de Kruger brilha mais forte, de forma a passar toda a tristeza de uma pessoa que acaba de perder o filho e o marido. Um momento em que todos os elementos em tela contribuem de forma perfeita para o tom gélido do filme. Esta talvez seja a parte mais interessante de toda a produção, o que é um problema, já que o restante do longa fica aquém das expectativas.


No segundo ato, o caso vai para os tribunais, transformando o longa em um típico filme jurídico, no qual advogados entram em conflito e o senso de injustiça é ainda maior. O casal de suspeitos é colocado – intencionalmente – de forma fria e vilanesca, ficando todo o segundo ato do filme em silêncio, com olhares sem expressão.


Mesmo oferecendo poucas inovações aos tradicionais filmes de tribunal, a segunda parte de "Em Pedaços" consegue fazer uma boa transição entre o drama do ato inicial para um suspense. Os tons começam a se tornar menos escuros e, depois que uma testemunha esclarece algumas coisas, o próprio filme se torna mais claro, inclusive com o fim da chuva que rondou todo o primeiro ato. A trilha sonora também se torna mais frequente, mas ainda discreta, com ótimo uso em momentos dramáticos.


Já no terceiro ato, o filme evolui para um suspense em ritmo mais ágil e rápido, quase como acontece em alguns filmes de ação. O final deixa a desejar se comparado ao ótimo primeiro ato do longa, mas ainda assim consegue construir um bom conflito interno com Katja.


Reprodução//IMDB


O cuidado com o psicológico da protagonista, inclusive, é um dos principais méritos do filme. Em um primeiro momento, pode parecer que o longa funcionará como uma espécie de estudo sobre o ódio humano – e também pode ser visto dessa maneira – mas é no luto de Katja que ele realmente se sobressai.


O diretor Fatih Akin é conhecido por suas polêmicas políticas, com destaque para a vez em que usou uma camiseta com o nome do ex-presidente americano Bush, mas com uma suástica no lugar do "s". Mas em "Em Pedaços", o cineasta consegue ir além das polêmicas e da política, explorando a natureza humana frente à perda. O formato "fragmentado" do longa, que também faz jus à tradução brasileira do título, é interessante e permite que o filme passe por diferentes nuances de forma bem executada.

Em Londrina, "Em Pedaços" está em cartaz no Royal Plaza Shopping, aos sábados, às 21h. Confira a programação completa de cinema na cidade aqui.


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