Dez de dezembro de 1987, aniversário de Londrina. Sete homens invadem a agência central do maior banco da cidade e fazem mais de 300 pessoas de reféns ao longo de sete horas. Como resgate, a quadrilha exige 30 milhões de cruzados (cerca de R$ 10 milhões, atualmente). Os funcionários correm para conseguir o valor em várias agências bancárias da cidade. O enredo poderia muito bem ser de um filme de ficção, mas a história ocorreu de fato há 30 anos e foi transformada em um documentário que estreia na próxima quarta-feira (21).
Produzido pela Kinopus Audiovisual, "Isto (não) é um Assalto" tem direção, roteiro e montagem de Rodrigo Grota (Leste Oeste). Com patrocínio do Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura), da Prefeitura de Londrina, o documentário apresenta o mais longo sequestro de um grande número de pessoas na história criminal brasileira. O episódio foi repercutido por todo o País e diversos jornalistas acompanharam o desenrolar da situação. Além dos profissionais da imprensa, cerca de mais de cinco mil pessoas estavam do lado de fora e gritaram a favor dos assaltantes contra o governo Sarney. Após horas de negociação, a quadrilha fugiu com um valor aproximado do exigido, levando 14 reféns. Depois de uma semana de fuga, seis dos sete assaltantes foram presos: apenas "Barba" nunca foi localizado.
A ideia para a realização do filme surgiu em 2012, dois anos após a morte do jornalista Paulo Ubiratan, como revela o diretor Rodrigo Grota. "Ele foi repórter de polícia da Folha de Londrina nos anos 1980 - no dia do Assalto, entrou na agência e fez a mediação com os assaltantes para a liberação de alguns reféns, incluindo pessoas idosas, crianças. Foi o Paulo que me contou essa história em 1998, há 20 anos, quando eu era estudante de jornalismo na UEL e ele já era uma espécie de lenda do jornalismo londrinense. Ao saber que eu queria fazer cinema, ele me disse: "Guri, um dia você tem que fazer um filme sobre essa história". Inicialmente, a ideia era fazer um filme de ficção. Como teríamos de fazer uma extensa pesquisa, tivemos a ideia de fazer dois filmes sobre o episódio: o primeiro é o documentário "Isto (não) é um Assalto"; o segundo será um longa de ficção".
A produção começou em 2016, logo após a aprovação do projeto no Promic, da Prefeitura de Londrina. A equipe do longa começou a buscar pelas pessoas envolvidas no episódio e pode também dar continuidade à pesquisa de imagens de arquivo. Para essa etapa foram consultados os acervos da Folha de Londrina, da RPC TV Londrina e da rádio CBN.
Segundo Grota, a parte mais complicada do processo inicial foi encontrar "Moreno", o líder dos assaltantes, que foi preso uma semana após o assalto, cumpriu pena de 1987 a 2006, e hoje se dedica aos trabalhos em uma igreja. "Levou seis meses para ele confiar em nossa proposta e conceder uma longa entrevista. É importante lembrar que o filme não apresenta o Moreno como herói - queríamos apenas contar essa história com um mosaico bem amplo de pontos de vista".
Entre os entrevistados, Grota destaca o escritor Domingos Pellegrini e o historiador Rogério Ivano, que apresentaram o assalto dentro do contexto histórico da cidade, e os policiais Pedro Marcondes e Wanderci Corral Fernandes, que revelaram momentos vividos durante o episódio e a fuga pela estrada noite adentro. "Há também os arquivos de áudio da CBN Londrina, em que o Paulo Ubiratan relembra o assalto sob o seu ponto de vista muito particular; e há a entrevista com o Moreno, em que ele dá o seu testemunho de maneira mais misteriosa, revelando a estratégia de um assaltante para realizar um crime de proporções tão grandiosas como esse".
Ao todo, dos 300 envolvidos no Assalto, foram entrevistadas 50 pessoas, entre policiais, assaltantes, profissionais da imprensa, clientes do Banestado, e parte da população de forma geral. "Com o filme pronto e disponível nos cinemas, uma parte da história de Londrina se torna mais acessível aos londrinenses - isto porque para contar a história do Assalto ao Banestado, inserimos imagens de arquivos dos anos 1950, 1960, 1970 e 1980. O músico Rodrigo Guedes criou 13 músicas originais para a trilha sonora do filme, o que imprimiu uma pegada mais pop e deixou a narrativa mais leve, já que temos 100 minutos com informações e relatos variados e havia o risco de cansar o público com muita informação em pouco tempo. Estamos felizes com o filme, e agora daremos continuidade com o desenvolvimento do roteiro para um longa de ficção que já está sendo escrito desde o primeiro semestre desse ano", acrescenta o diretor.
"Isto (não) é um Assalto" estreia nesta quarta-feira (21), às 20h, no Cinemas Lumière, do Royal Plaza Shopping em Londrina. A produção será o primeiro longa londrinense a entrar em cartaz no circuito comercial local. De 22 a 28 de novembro, o documentário terá quatro sessões no Cinemas Lumière, e duas sessões noturnas no Cinesystem, no Londrina Norte Shopping.
*Sob supervisão do editor on-line, Rafael Fantin