Quando "O Massacre da Serra Elétrica", de 1974, "Pink Flamingos", de 1972, ou mesmo o recente "Titane" estrearam, a reação do público foi imediata. Amor ou ódio, nojo ou admiração, a sociedade soube responder às telonas. Seja ao abandonar os filmes no meio ou, no caso do último, ao premiar a obra em alguns dos maiores festivais do mundo.
Já "Como se Tornar o Pior Aluno da Escola" demorou cinco anos para, ao entrar em plataformas de streaming, virar assunto de justiça e ter sua classificação ajustada de 14 para 18 anos. A reação mais incisiva foi de bolsonaristas influentes, como o secretário especial da Cultura, Mario Frias, que viram ali uma apologia da pedofilia.
A cena em questão mostra Fábio Porchat pedindo que dois garotos menores de idade parem de discutir e se masturbem. Os meninos, com ar de surpresa, se negam.
Leia mais:
Vai fazer o Enem? Confira 7 opções de filmes para ver no fim de semana antes da prova
Sessão Londrina leva documentário 'Termodielétrico' ao Villa Rica
Selton Mello nega sequência de 'Lisbela e o Prisioneiro' e critica anúncio 'desrespeitoso'
Animação “Proibido a Cães e Italianos” estreia no Ouro Verde
"O que é isso, preconceito nessa idade? Isso é supernormal, vocês têm que abrir a cabeça de vocês", diz o personagem de Porchat, que em seguida abre a braguilha da calça e puxa a mão de um dos meninos em direção a ela. Mas pouco se vê, de fato.
Essa não é a primeira vez em que a imaginação faz seu papel. "O Massacre da Serra Elétrica", de 1972, tampouco mostrava muito sangue ou mutilações, já que os cortes se concentravam mesmo na mesa de edição, deixando a real violência a cargo da mente do espectador.
Entre obras premiadas e outras consideradas "trash", confira uma lista de filmes perturbadores para os quais a maioridade é mais do que recomendada.
Salò ou os 120 Dias de Sodoma
O último filme do italiano Pier Paolo Pasolini se consagrou como uma daquelas obras para se ver com cuidado e por vezes é evitada mesmo por seus admiradores. Afinal, é difícil comparar essa trama violenta –cheia de tortura, jovens comendo fezes e pregos, fascistas sodomitas e outras bizarrices difíceis de esquecer– com o tom humanista de "O Evangelho Segundo São Mateus". Ou até mesmo aos momentos mais ácidos de "Pocilga", do mesmo diretor. Não deixa de ser, porém, para o espectador avisado e com estômago, um relato brutal, um testamento e uma profecia da permanência dos autoritários no poder.
Itália, 1975. Direção: Pier Paolo Pasolini.
Raw
Se os narizes quebrados e as mutilações de "Titane" foram demais para você, "Raw" não deve ser um prato mais refrescante. O filme anterior de Julia Ducournau, lançado em 2016 e que integrou o catálogo da Netflix por um tempo, vai direto para o canibalismo (como metáfora da descoberta do mundo) quando uma garota vegetariana que estuda para ser veterinária começa a nutrir um insaciável desejo por carne humana.
Bélgica/França, 2016. Direção: Julia Ducournau.
A Centopeia Humana
Rotulado como um dos filmes "trash" de pior gosto deste século, o longa de Tom Six parte da proposta absurda de um cirurgião perverso que se aproveita de duas garotas –e de outras vítimas– para costurar o monstro do título, unindo a boca e o ânus de suas cobaias. A proposta, que virou piada na cultura pop, ainda rendeu duas continuações. A última leva esse experimento para outra dimensão, realizando o plano com dezenas de detentos. O filme foi banido de diversos cinemas, inclusive do Brasil. Já na França e na Dinamarca, por exemplo, a classificação indicativa ficou em 16 anos.
EUA, 2009. Direção: Tom Six.
Pietà
Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza de dez anos atrás, este filme de Kim Ki-Duk ficou conhecido como um exemplo de "cinema da crueldade". Nele, um agiota é obrigado a rever sua própria brutalidade com a chegada de uma misteriosa mulher que se diz sua mãe. A referência à piedade de Maria, mãe de Jesus, ganha traços cáusticos, com direito a incesto e canibalismo.
Coreia do Sul, 2012. Direção: Kim Ki-Duk.
Anticristo
Lars Von Trier é outro nome que divide opiniões. Entre gênio e farsante, com o advento do cinema digital (que recusou frontalmente no início da carreira), ele fez este e outra série de filmes perturbadores –destaque para "Ninfomaníaca" e "A Casa que Jack Construiu". Este, em especial, tem Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg no elenco. Eles interpretam um casal que, após a morte do filho, se isola em uma casa na floresta para tentar se reconciliar. O horror vai se construindo aos poucos, sempre com um erotismo sombrio, e atinge o ápice na mutilação de genitais.
Dinamarca/Suécia/França/Alemanha/Itália/Polônia, 2009. Direção: Lars Von Trier.
Pink Flamingos
Aqui o nojo é um pouco menos ligado à morte e mais a certas cenas explícitas e de escatologia exagerada. Ainda assim, com um pouco de estômago e bom humor, "Pink Flamingos" pode até ser engraçado e provocativo. Na trama, os personagens competem para saber quem é o mais repugnante de todos. No filme que lançou John Waters, com a drag queen Divine no papel principal, há desde a ingestão de fezes de cachorros, passando por uma idosa viciada em ovos e chegando a pessoas que lambem todos os cômodos de uma casa.
EUA, 1972. Direção: John Waters.
Begotten
Indo para a seara mais experimental, esse filme foi lançado em 1989, após anos de edições visuais que o fizeram parecer saído de algum porão oculto. Em preto e branco e sem diálogos, ele assombra por uma visão niilista da vida, representando a origem do mundo com um deus acorrentado e mutilado. Nesse mergulho sobre a morte da religião e dos mitos, a impressão final é de ter visto algo perigoso.
EUA, 1989. Direção: E. Elias Merhige.
Mártires
Representando o cinema extremista, o longa de Pascal Laugier é um dos mais terríveis da safra dos lançados no final dos anos 2000. Na trama, uma jovem vai atrás de vingança contra pessoas que a sequestraram quando criança. Tudo degringola num inferno inacreditável de mutilação e sanguinolência. O longa teve uma refilmagem americana em 2016.
França/Canadá, 2008. Direção: Pascal Laugier.
Irreversível
Assim como Lars von Trier, Gaspar Noé se tornou outro nome polêmico do dito cinema de arte ao abusar do sexo e das drogas em filmes como "Love" e "Clímax". Mas foi com "Irreversível" –cuja história é contada toda de trás para frente– que seu nome ficou cravado entre os mais incômodos nos festivais. O destaque aqui vai para um plano-sequência, isto é, sem cortes, em que a personagem de Monica Bellucci é estuprada em um beco. Muito do desconforto vem ainda das cores quentes e dos movimentos de câmera nauseantes.
França, 2002. Direção: Gaspar Noé. Disponível no Telecine Play e Globoplay.
Audição
Em uma lista de propostas perturbadoras, não poderia faltar um filme japonês. Este, de Takashi Miike –um dos mais prolíficos do cinema industrial do país–, não é o mais explícito de todos, mas decerto um dos mais notáveis. Na história, um viúvo aceita a ideia de um amigo de fazer uma série de audições para encontrar uma nova mulher. Apesar da trama inusitada, tudo parece correr bem até dois terços do filme, quando a mulher escolhida pelo homem toma atitudes inesperadas.
Japão, 1999. Direção: Takashi Miike.