Ao anunciar que havia marcado uma entrevista com Tony Ramos, a reportagem ouve de praticamente todos os seus colegas de redação o mesmo comentário, com algumas variações - mas a mensagem não muda: "Ele é o cara mais educado e gentil que existe". E é verdade.
Em tempos de subcelebridades que tentam impor assuntos a serem abordados em entrevistas (muitas vezes por email, porque elas estão "com a agenda cheia"), o protagonista de "Terra e Paixão" (Globo), topou na hora o convite para um bate-papo por telefone com o site, numa brecha de suas gravações diárias na TV. "Claro, com o maior prazer", disse, animado. Ele também topou, sem hesitar, contar algumas curiosidades sobre sua vida.
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Aniversariante do dia, Tony completa 75 anos com uma carreira que se confunde com a própria televisão brasileira. Com 60 anos de excelentes serviços prestados à arte brasileira, Antônio de Carvalho Barbosa (o Ramos vem de sua avó materna, que ajudou a criá-lo e de quem pegou emprestado o sobrenome) tem no currículo cerca de 120 papéis na TV, no cinema e no teatro, e, na estante de casa, em meio aos livros, estão dois prêmios Grande Otelo, quatro APCA, um Kikito, e um Prêmio Shell, entre outros. Tony adora o seu trabalho e não pensa em parar tão cedo.
"Pretendo atuar até morrer, pois conheço meu temperamento. Já sou aposentado pelo INSS após 37 anos e oito meses de contribuição, e isso ninguém me tira (risos). Mas sair dos holofotes não passa pela minha cabeça", diz ele, que já tem proposta da Globo para um projeto para julho de 2024 e mais três filmes para rodar a médio prazo.
Com 47 anos só de TV Globo (os 13 primeiros anos foram na TV Tupi), o paranaense de Arapongas não esconde que tem um xodó pelas novelas e conta que o convite para "Terra e Paixão" surgiu um ano antes de a trama estrear. "O Walcyr [Carrasco, autor] contou sobre a ideia e já aceitei, achei fantástico."
Uma unanimidade entre os colegas, que não cansam de exaltar sua generosidade e solidariedade em cena e fora dela, Tony, carrega a fama de ser "bom moço", o que não o incomoda. Ele diz se guiar pelo coração para fazer tudo na vida, sem jamais passar por cima de ninguém.
Casado há 56 anos com Lidiane Barbosa, por quem se apaixonou ainda na escola nos anos 1960, ele conta que sempre foi "determinado, perseverante, com amor ao meu país, à cultura, à liberdade e à democracia". Apesar de evitar se envolver com política, fez campanha pela vacinação no auge da pandemia e chorou na TV ao lamentar a morte do amigo Tarcísio Meira, vítima da Covid-19, em 2021. No velório de Aracy Balabanian, dias atrás, era um dos mais emocionados.
Apesar de ser um apaixonado pela TV, onde já emplacou ao menos 70 personagens, o ator celebra as novas possibilidades do streaming. No Globoplay, estrelou "Encantado's" no ano passado e curtiu a experiência. "Estou pronto e antenado em relação aos novos momentos. Se tem uma coisa que não sou é desinformado, leio muito sobre novas formas de comunicação."
Tony sabe que o streaming veio para ficar, mas considera que há espaço para todos. "Os equipamentos vão conviver e achar seus nichos, inclusive a TV aberta", opina o rei da televisão brasileira, título que talvez ele não goste, apesar de caber perfeitamente. "Sei que sou um artista popular e me sinto grato. Sou um brasileiro que alcançou a popularidade na profissão, mas nunca me coloquei em um pedestal."