Um dos maiores nomes do rock brasileiro, Erasmo Carlos morreu há exatamente um ano, no dia 22 de novembro de 2022. O Tremendão, como ele era conhecido, despontou durante a jovem guarda, flertou com o tropicalismo e depois seguiu trajetória própria entre o rock nacional e a MPB.
Em sua carreira, Erasmo compôs dezenas de canções clássicas e lançou mais de 30 discos, somando os feitos em estúdio e os gravados ao vivo. Fã desde adolescente de nomes como Elvis Presley e Little Richard, ele cresceu sem vitrola em casa e sem saber falar inglês. Usou sua criatividade para fazer a rebeldia do norte do mundo fazer sentido por aqui.
Um dos maiores símbolos da história do rock brasileiro, Erasmo encarnou a imagem do rebelde, cantando sobre carros vermelhos, gatinhas manhosas e sua própria fama de mau. Também fez dezenas de músicas românticas em conjunto com seu maior parceiro, o meio xará Roberto.
Este ano, o Tremendão ganhou seu primeiro lançamento póstumo. O selo Discobertas lançou em junho três álbuns em uma coletânea chamada "Erasmo Carlos ao Vivo (Anos 70)", com gravações de três apresentações na década de 1970.
O primeiro álbum foi gravado em 1975 na Cia Paulista de Rock, em São Paulo. O registro reúne clássicos da jovem guarda e músicas do álbum "Projeto Salva Terra", de 1974.
O segundo reúne seis faixas apresentadas em 1977 no MAM (Museu de Arte Moderna) do Rio de Janeiro. O repertório traz clássicos como "É Proibido Fumar" e "Negro Gato" junto à banda A Bolha, grande grupo de rock brasileiro.
O último álbum foi gravado em 1979, na boate Biblos, também no Rio de Janeiro, e tem as faixas "Cachaça Mecânica" e "Sentado à Beira do Caminho", entre outras.
Relembre a seguir dez dos álbuns mais importantes de Erasmo Carlos, além do álbum póstumo.
A Pescaria (1965)
Após o sucesso de compactos nos anos anteriores, este álbum de estreia reuniu clássicos definitivos da Jovem Guarda --desde "Festa de Arromba" e "Sem teu Carinho" até "Minha Fama de Mau", o grande sucesso do Tremendão. A sonoridade próxima do surf rock se unia a uma declaração de guerra com os britânicos em "Beatlemania".
Erasmo Carlos e Os Tremendões (1970)
Após anos de sucesso da Jovem Guarda na TV, o movimento entra em declínio após 1968, e Erasmo dá um salto de maturidade. Ele se alinha à musicalidade mais complexa da época em tom de manifesto. "Estou Dez Anos Atrasado" e "Teletema" são bons exemplos desta mudança num disco que tem ainda músicas de Caetano Veloso e Ary Barroso.
Carlos, Erasmo (1971)
O disco da tal "fase hippie" do cantor não teve tanto reconhecimento na época, mas foi redescoberto recentemente pelo seu tom tropicalista com hinos como "Gente Aberta", célebre por ter se tornado a favorita da redação de O Pasquim na prisão, e "De Noite na Cama", composição de Caetano. O álbum mistura rock e samba e o erotismo com a afeição.
Sonhos e Memórias (1941-1972)
O álbum marca uma nova crise particular do cantor, do alto dos seus 30 anos. Autobiográfico e reflexivo, com muitas composições próprias de Erasmo, com algum toque de Roberto Carlos. Aqui o samba e o jazz predominam dando gingado ao rock, colorindo letras elegantes e utópicas como "Meu Mar", "Mané João" e "Vida Antiga".
1990 - Projeto Salva Terra! (1974)
A fama de mau do Tremendão se fundiu com novas sonoridades nesse álbum que teve uma repercussão nas rádios que os discos anteriores não conseguiram. Com tons de futurismo, pop e folk, o disco traz sucessos como "A Lenda de Bob Nelson", "1990' e "Haroldo, o Robô Doméstico" --este último com ecos do tom trágico de músicas de Chico Buarque.
Banda dos Contentes (1976)
As canções "Paralelas", "Análise Descontraída" e "Filho Único" -esta que explodiu na trilha sonora da novela "Locomotivas"- são alguns dos clássicos que aparecem neste disco, cheio do rock de Erasmo. A faixa "Queremos Saber", a terceira do álbum, é uma composição de Gilberto Gil.
Amar para Viver ou Morrer de Amor (1982)
Erasmo considerava a canção que deu nome a este disco uma de suas músicas mais bonitas, segundo o site do cantor. Um dos destaques do álbum é a faixa "Mesmo que Seja Eu", composta por Erasmo ao lado de Roberto Carlos. Na capa, ousada para a época, o Tremendão rasga o peito para libertar uma pomba branca.
Gigante Gentil (2014)
Lançado em 2014, o disco abre com rock and roll na faixa "Gigante Gentil", que dá nome ao álbum e era também um dos apelidos do cantor. É um disco cheio de baladas, em que Erasmo fala de amor e sexo, como fez ao longo da carreira. "Todas as manhãs de sol estão intactas na memória", canta ele em "Manhãs de Love".
Meus Lados B (Ao Vivo) (2015)
Erasmo também foi além do rock e das baladas românticas. No disco "Meus Lados B (Ao Vivo)", o cantor reuniu faixas menos conhecidas do seu repertório, que vão do samba a ritmos tradicionais do Nordeste. Há até letras de cunho social, como "Maria Joana", que faz referência à maconha e foi censurada em 1971.
'O Futuro Pertence à... Jovem Guarda' (2022)
O último disco de Erasmo Carlos rendeu a ele o Grammy Latino de melhor álbum de rock/música alternativa em língua portuguesa. O projeto reúne faixas que remontam à época da Jovem Guarda, como "Esqueça", de Roberto Carlos, "O Ritmo da Chuva", de Demétrius, e "Devolva-me", gravada pela dupla Leno e Lilian.