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Fotografia

Ianomâmis estão marcados para viver, não para morrer, diz artista Claudia Andujar

Folhapress
12 mai 2021 às 16:35

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- Divulgação
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As primeiras fotografias da série "Genocídio do Yanomami: Morte do Brasil", de Claudia Andujar, mostram sua chegada à aldeia no início dos anos 1970. Ao olhar as imagens da mata e das malocas ainda de longe, a fotógrafa lembra que ela foi à terra indígena, com seu próprio carro, porque queria entender quem são os ianomâmis como povo. "Fui para entender como são organizados. Para os conhecer como gente", ela diz.


Esta é a primeira vez que a série, idealizada antes como uma instalação audiovisual, é montada no formato de impressões de papel, na galeria Vermelho. E, assim como quando foi exibida pela primeira vez, em 1989, no Masp, o contexto em que as imagens são mostradas ao público é de uma crise na terra indígena.

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Como instalação, ela fez parte da exposição "Planeta Terra", que também homenageou a liderança indígena Davi Kopenawa, que havia recebido naquele ano um prêmio das Nações Unidas por proteger os ianomâmis, que na época padeciam de doenças trazidas principalmente por garimpeiros.

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Hoje, o território demarcado volta a sofrer um aumento da malária e da desnutrição infantil crônica, e os indígenas enfrentam uma grande invasão de garimpeiros, incentivados por promessas do presidente Jair Bolsonaro de legalizar a sua atividade.

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"O governo atual não tem interesse num povo como os ianomâmis e isso, vou dizer, é uma tristeza. Eles ainda estão lá, tentando também entender o que eles são para nós. Mas acho que não estou falando só dos ianomâmis, são todos esses povos antigos que ainda vivem como um povo", afirma Andujar, que faz 90 anos no próximo mês.


"Acho que hoje é importante entender o que está acontecendo com eles, como que a gente está entendendo o valor de um povo desses para ter o respeito de os deixar viver."

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À medida que se avança nas 228 imagens da série pela galeria, se desenrola a intimidade que Andujar constrói com os ianomâmis, com quem nunca deixou de ter contato a partir de então. Eles passam a aparecer sorrindo nas suas redes, com os rostos pintados com tinta escura.


Os retratos, no entanto, são costurados com fotografias de recortes de jornal que evidenciam o crescimento da malária e o avanço do garimpo na região naquela época.

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Chegamos, então, às palavras "marcados" e "para", destacadas e sobrepostas aos retratos de crianças e adultos. "Eles estão marcados para viver, não para morrer", diz Andujar, lembrando suas imagens.


A fotógrafa avalia que, hoje, o valor desse povo está relacionado mais ao ouro que se encontra na terra deles e menos a uma ligação com eles enquanto pessoas –e é essa conexão que ela também busca com o seu trabalho. "Hoje eu estou tentando, como com você vendo esse trabalho, que as pessoas entendam o valor dos outros, o que é, aliás, bastante complicado. É um processo", diz.

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A galeria também exibe a série "Sonhos Yanomami", mostrada pela primeira vez ao público integralmente. Boa parte das 20 imagens foram clicadas na mesma época de "Genocídio", entre os anos 1970 e 1980, mas formuladas já num período de maior alívio na articulação pelo direito ao território, dez anos após a demarcação da terra indígena que foi resultado de um processo longo de que Andujar participou.


São sobreposições que lançam o público num registro onírico e espiritual dos ianomâmis. Segundo a artista, é uma visão "mais interna dos pensamentos deles".

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A vontade de conhecer esses povos orientou o trabalho de toda a sua vida e, segundo Andujar, isso se relaciona com sua própria biografia. "Nasci na Europa e passei pela Segunda Guerra Mundial, toda a família do meu pai foi morta num campo de concentração pelos alemães", conta a fotógrafa.


"Acho que entender que o mundo é sempre um que quer dominar o outro foi uma coisa essencial. Na verdade, teria que respeitar os diferentes povos e seus mundos, o valor da vida, mas estamos falando da história da humanidade."


Andujar, que cresceu com sua mãe, suíça, na Transilvânia, hoje parte da Romênia, também lembra que, quando chegou ao Brasil, com cerca de 25 anos, se sentiu mais perto do que desejava aqui do que quando se mudou para os Estados Unidos. "Foi onde me senti mais perto das pessoas", diz. "Provavelmente vou morrer aqui. É onde me sinto em casa."

E, nesse desejo pelo contato próximo com as pessoas, a fotografia foi a maneira de mostrar "como entendo o mundo e o ser humano". "Entender eles foi, para mim, muito importante e continua sendo", afirma a fotógrafa. "Acho que eu aprendi através deles como o ser humano entende a vida."


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