Ele foi amigo de Di Cavalcanti (1897-1976) e Volpi (1896-1988). Exibiu as primeiras individuais de Raymundo Colares (1944-1986) e Paulo Roberto Leal (1946-1971). Representa no Brasil o venezuelano Carlos Cruz-Diez, o artista cinético mais importante do mundo, em atividade aos 92 anos. Tem entre seus clientes grandes colecionadores, como o diplomata Gilberto Chateaubriand, dono de um dos maiores conjuntos de arte brasileira de que se tem notícia, com 8 mil peças. Em sua agenda, são pelo menos 200 os compradores que negociam obras que superam R$ 1 milhão.
A crise não chegou a Luiz Sève e a sua Galeria de Arte Ipanema, que comemora 50 anos com exposição e uma nova sede. "É a galeria mais antiga do Brasil ainda em atividade, e isso me dá um prazer enorme. Temos um legado à história da arte no Brasil, 50 anos são 10% da história do Brasil. Na época em que abrimos, havia outras três galerias na região, mas nenhuma está aí até hoje. É preciso que haja um sonhador, um persistente", disse Sève, destacando a Petite Galerie, inaugurada em 1953 pelo escultor peruano Mario Agostinelli (1915-2000), e a Relevo, do marchand romeno Jean Boghici (1928-2015), aberta em 1961, outros marcos daquele período de ascensão de novas galerias no Rio.
"Entendo a arte em seus quatro pontos de apoio: prazer, investimento, decoração e status. Quem gosta de dinheiro compra pelo lado do investimento. Quem gosta de arte, pelo prazer", afirmou Sève, recebendo endosso da filha, a economista Luciana Sève, que trabalha com ele há 15 anos e, como o pai, vem do mercado financeiro - ela brinca que, enquanto seu prazer está em montar exposições e vender, o do pai é comprar obras, para ele, para a galeria e para colecionadores.
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"Quem tem dinheiro cada vez tem mais dinheiro. A crise alavanca as grandes decisões, é quando aparecem as obras-primas, pois as pessoas precisam se desfazer delas. Os artistas modernos sofrem muito menos, porque têm maior liquidez. A questão é o artista contemporâneo. As vendas ficam mais lentas, as pessoas demoram mais a decidir", ele avalia.
Na SP-Arte, encerrada no domingo, dia 10, os resultados de vendas foram "excepcionais", bem superiores aos da edição 2015 da feira paulistana e da ArtRio do ano passado. Sinal de que a crise - ou as crises, econômica e política - não afetou os negócios. Para a exposição 50 Anos de Arte, que a galeria abre ao público nesta quarta, 20, o ambiente também é de otimismo.
Serão exibidas obras de Portinari, Milton Dacosta, Djanira, Guignard, Volpi, Cruz-Diez, Di Cavalcanti, Pancetti, Lygia Clark, entre outros nomes, do acervo da galeria e de colecionadores particulares, como Chateaubriand - cliente há 50 anos, para quem Sève já achou um Portinari que adornava a sala de seu pai, Assis Chateaubriand (1892-1968) - e a Fundação Roberto Marinho. É um pequeno apanhado dos artistas que fizeram parte da história da casa.
Dos que estão à venda, em meio a Volpis, Cruz-Diez e Portinaris, as duas estrelas são uma Beatriz Milhazes de 1996, Madame Carduvel, considerada raríssima, e uma obra de Sergio Camargo de 1978. Ambas estão na casa dos R$ 6 milhões.
A galeria foi inaugurada em novembro de 1965, no Hotel Copacabana Palace. Sève tinha 24 anos, cursava o último ano do curso de engenharia na PUC do Rio e já trabalhava como operador do mercado financeiro. Além da transferência para Ipanema, em 1973, outro passo foi a abertura de um espaço paulistano na Rua Oscar Freire, numa casa projetada por Ruy Ohtake, onde a galeria funcionou de 1972 a 1989.
Foram altos e baixos, crises econômicas, confisco do Plano Collor. "Tínhamos poucos recursos financeiros, mas fomos ganhando prestígio. O primeiro quadro que a galeria comprou, em 1965, foi do Volpi, que não era conhecido no Rio. Depois, Tomie Ohtake (1913-2015), na época também uma aventura, e Manabu Mabe (1924-1997), o maior expoente da época", ele relembra. "Fiquei amigo do Volpi, que, para mim, foi o artista mais importante do Brasil, e trazia pigmentos para ele de Paris. Di Cavalcanti também era um gênio, e genioso, tinha muitas namoradas."
Em 2017, Sève planeja trocar a casa atual, uma construção antiga da Rua Aníbal de Mendonça, pela nova sede, num imóvel moderno na mesma rua, ainda em obras, perto da praia de Ipanema.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.