O riso sincero, porém nervoso, lembra bastante o do pai. O olhar determinado busca, em alguma letra do Charlie Brown Jr., respostas para o trágico desfecho de uma das bandas mais importantes do rock nacional na década de 1990. Aos 25 anos, Alexandre Abrão, filho de Chorão, morto em 6 de março de 2013, aos 42 anos, é perfeccionista.
Xande, como prefere ser chamado, quer manter o legado do grupo, honrar o nome do vocalista santista e dar continuidade a projetos presos na gaveta há alguns anos. O primeiro deles é o livro Eu Estava Lá Também, que reúne mais de 300 fotos da banda nos últimos sete anos.
O material fotográfico, visto com exclusividade pela reportagem, traz imagens de shows, bastidores no estúdio e momentos de descontração do grupo paulista. "Faço por amor ao meu pai e ao Charlie Brown. Jamais me submeteria a isso para ter algum tipo de lucro. Não quero me aproveitar da situação, como alguns chegaram a falar por aí", diz Xande em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo, no escritório de sua produtora, no centro de São Paulo.
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A publicação, que ganhou pré-venda em campanha de crowdfunding pela plataforma Kickante, terá ao todo 200 páginas.
Chorão contratou o fotógrafo Jerri Rossato Lima para registrar todos os momentos do Charlie Brown Jr. Jerri acompanhou a banda em shows, programas de televisão, gravações em estúdio e sessões de skate durante sete anos, de 2005 a 2012, quando o vocalista decidiu dar um tempo com o projeto. "Lembro que cheguei na casa do meu pai e vi uma série de fotos dentro de uma maleta. Eu, mais do que ninguém, quis dar prosseguimento a isso, pois sabia quanto ele queria finalizar o livro. Era algo muito importante para a carreira dele. Infelizmente, não deu tempo. Não se trata de algo meu, portanto. Tudo aqui foi idealizado pelo meu pai. Apenas concluí. Tudo que envolve Charlie Brown sempre atrasa (risos). O livro deve ficar pronto em meados de setembro", afirma Xande.
Se personalidade explosiva e a maneira de se expressar lembram Chorão em todos os aspectos, as semelhanças com o pai terminam por aí. Xande não gosta de futebol (o pai era torcedor fanático do Santos) e pouco se envolveu com a música de uma maneira geral.
O jovem teve apenas algumas bandas ainda na adolescência. Teimoso, arriscou-se como baixista e guitarrista em duas oportunidades diferentes. "Já toquei baixo e guitarra, mas a coisa não foi para frente. Sei tocar um pouco. Acho que serve para não passar vergonha na frente da família. Têm vários instrumentos na casa do meu pai. Às vezes, brinco e tiro alguma música. Fico emocionado só de saber que aquele instrumento fez parte da história do Charlie Brown", crava.
De acordo com Xande, a relação com Chorão, que sempre foi boa, melhorou muito nos últimos anos de vida do vocalista. "Sempre respeitei muito meu pai. Ele foi um porto seguro para mim. Sem ele, não seria o que sou hoje. Seria só um moleque chato e mimado. Nunca fiz questão de ser conhecido como o filho do Chorão, tanto que me apresento como Alexandre, não como filho dele. E isso era uma coisa que ele gostava muito em mim: minha personalidade. Meu grande sonho sempre foi fazer alguma coisa para o Charlie Brown Jr. Meu pai, com toda a certeza do mundo, acha meu trabalho qualificado, não conquistei isso por ser filho dele. O Chorão era muito exigente", lembra ainda.
Xande também tinha uma boa relação com Champignon, ex-baixista do Charlie Brown Jr., morto em setembro de 2013. Segundo ele, o músico era não era só o maior parceiro do pai, mas também um confidente pessoal.
"O Champignon era meu tio, meu irmão, um grande amigo. É complicado falar sobre o assunto, porque ele sempre foi um grande parceiro. Quando meu pai me levava para turnê da banda, eu conversava muito com ele. Sempre contava meus problemas de escola. A gente ficava grudado e meu pai, muitas vezes, não gostava disso. Ele tinha um ciúme danado de nós. Reclamava horrores porque eu preferia compartilhar meus segredos com o Champignon e não com ele", revela.
Álbum de família
Filho do primeiro casamento de Chorão, após a morte do pai, Xande teve alguns desentendimentos com Ricardo Abrão, irmão de Chorão e seu tio, e Nilda Abrão, mãe do frontman do Charlie Brown Jr. e sua avó materna. Xande teria cortado a mesada da avó e entrado na Justiça para retirar o apartamento onde ela vive em São Paulo.
No ano passado, às vésperas do lançamento do musical Dias de Luta, Dias de Glória, que conta a história do grupo, o irmão de Chorão, Ricardo Abrão, fez uma série de acusações contra o sobrinho. Em três vídeos publicados na internet, Alexandre afirma que Xande não respeitou a família e a memória de Chorão por diversas vezes.
"O que meu irmão fez em vida tem que ser respeitado, coisa que o seu Xande não faz. Você dá risada, faz festa duas semanas após a morte do seu próprio pai. Nós sabemos porque as notícias correm, voam e temos conclusões com relação a isso", diz Ricardo em um dos vídeos de 2015.
Questionado sobre o assunto, Xande preferiu não entrar em polêmica. "Não acredite em tudo que você lê por aí. As pessoas mudam e falam muitas besteiras. Já recebi inúmeras críticas e isso me machucou bastante. Mas, depois de um tempo, a gente cria uma casca e aprende a se preservar minimamente. O Charlie Brown é minha vida, assim como foi a do meu pai". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.