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Ciência e fé

Arquiteto traça o que seria o ‘mapa do inferno’

Agência Estado
11 abr 2016 às 10:57
- Reprodução
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Qual o tamanho do inferno, sua localização exata, temperatura aproximada e quantas infelizes almas ele pode abrigar? "Inferno, novas topografias: de Dante e Blade Runner", dissertação de mestrado defendida no Departamento de Multimeios do Instituto de Artes da Unicamp pelo arquiteto e artista plástico Paulo de Tarso, 62 anos, dá respostas surpreendentes a essas questões.

O céu é mais quente que o inferno, que, diferente das imagens claustrofóbicas de pinturas e ilustrações, é enorme e pode receber todas as almas que já passaram e, possivelmente, as que vão passar pelo planeta até que ele acabe. Mesmo que todos os seres desencarnados sejam mandados para arder eternamente junto a Lúcifer, eles poderão reclamar do cheiro de enxofre, mas nunca da falta de espaço.

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Para chegar a essas conclusões, uma boa dose de humor, cálculos matemáticos e leis da física foram aplicados a conceitos literários, artísticos e bíblicos totalmente imaginários, pelo menos para quem não é religioso. Mas a ciência aplicada à fé e à criação artística não é algo inusitado e nem inédito. Isso já foi feito por cientistas renomados, como o matemático e arquiteto italiano Antonio Manetti (1423-1497) e o físico e astrônomo Galileu Galilei (1564-1642), que inspiram muitas conclusões do mestrado.

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O objetivo do autor da dissertação não foi fazer o famoso "mapa do inferno" virar algo real, com escalas e medidas definidas, acrescido de informações de trânsito e climáticas, tal qual um destino turístico. "A ideia era mostrar como o conceito de inferno foi construído, em especial pela igreja católica nos séculos IX e X, e que ainda hoje serve como forma das religiões incutirem temor em seus fiéis e para fazer controle social deles. Também mostrar como atualmente ele aparece diferentemente e de modo nem sempre óbvio e explícito em diversas formas de arte, como o cinema e histórias em quadrinhos", diz Paulo de Tarso.


Depois de 30 anos de formado em arquitetura pela PUC-Campinas, Paulo resolveu voltar a frequentar aulas que um de seus ex-professores estava dando na Unicamp, o doutor Ernesto Giovanni Boccara, que acabou sendo o seu orientador do mestrado. No início, Paulo pensava em usar como objeto de estudo sua coleção de 15 mil anúncios de prostitutas publicados em jornais. Seria um estudo semiótico sobre a linguagem dessas publicações. Outro tema que ele mantinha grande interesse era sobre religiões, apesar de ser um ateu convicto.

"Estava lendo um livro chamado A Velocidade da Sombra, de Jean-Marc Lévy-Leblond, quando vi uma parte em que ele fala sobre uma palestra de Galileu sobre a localização e dimensão do inferno a partir das descrições de Dante Alighieri (1265-1321) na Divina Comédia", lembra Paulo. Foi o estopim do mestrado. Os cálculos apresentados na tese são apenas complementos, não objeto central do estudo, mas deram um tempero especial na dissertação.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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