A iniciativa, em caráter emergencial, faz parte de um plano da universidade para evitar a evasão das mulheres na comunidade acadêmica e científica após a maternidade. A concessão de bolsas irá acontecer primeiro como um projeto-piloto.
"Essa é uma primeira resposta que estamos dando para uma situação que há anos afeta as mulheres. A carreira científica pune a mulher pela maternidade, porque não há nenhuma proteção quando ela se torna mãe", diz Maria Valnice Boldrin, pró-reitora de Pós-Graduação da Unesp.
Para essa primeira experiência, a universidade destinou R$ 300.000 para o pagamento das bolsas por seis meses. Alunas da graduação receberão R$ 400 mensais e as pós-graduandas, R$ 1.500.
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As inscrições começaram na quinta-feira (30), mas o edital terá fluxo contínuo no próximo ano, até o limite de gastos. Ou seja, assim que as alunas tiverem filho ou adotarem, elas podem se inscrever para receber a bolsa.
Assim como em outras universidades públicas do país, as mulheres são a maioria no corpo discente da Unesp, mas a proporção se reduz no quadro de professores. Em 2021, elas representam 50,7% dos estudantes de graduação e 54,5% de pós-graduação, mas são apenas 40% dos docentes.
Nos últimos cinco anos, 156 professoras da universidade tiraram licença-maternidade e 32 não retornaram ao trabalho -ou seja, mais de 20% deixou a vida acadêmica após se tornar mãe.
"É um dado que nos deixou muito alarmados, porque se tratam de docentes que receberam o recurso financeiro para o período da licença-maternidade e mesmo assim se afastaram da universidade. Para as alunas, a situação é ainda pior já que não têm nem mesmo o suporte financeiro", diz Boldrin.
Ela lembra que, desde 2019, Capes, CNPq, e Fapesp, principais agências de fomento à pesquisa do país, passaram a prorrogar as bolsas por quatro meses nos casos de licença maternidade. No entanto, como o auxílio só é pago a uma pequena parcela dos pesquisadores e estudantes, muitas alunas ficam sem qualquer apoio financeiro ao se tornarem mães.
Na Unesp, das 53 pós-graduandas que se afastaram nos últimos cinco anos por licença-maternidade, apenas 35% recebiam bolsa das agências de fomento.
"Estamos dando um primeiro passo com ajuda financeira, porque a maioria delas fica completamente desamparada pela comunidade acadêmica ao se tornar mãe, mas outras discussões são importantes, por exemplo, como mudar a cobrança por produtividade e os prazos do mundo científico."
A Unesp também deve votar nas próximas semanas uma minuta determinando que as mulheres não podem perder o vínculo com os programas de pós-graduação por ao menos seis meses após a maternidade.
"Hoje, as mulheres correm o risco de serem desligadas por não acompanhar as atividades nesse período ou não conseguir cumprir os prazos de produção científica. É um absurdo", diz Boldrin.
Demanda antiga de cientistas brasileiras para que as regras se tornem mais compatíveis com a maternidade, as mudanças nas principais instituições de pesquisa e fomento do país só começaram a ocorrer nos últimos dois anos.
Somente em abril deste ano, o currículo Lattes passou a ter um campo para que as pesquisadoras possam indicar períodos de licença-maternidade. Até então, as mulheres apresentavam a informação sobre filhos de forma improvisada para justificar as pausas na sua formação e produção acadêmica.
"Em todo o mundo está ocorrendo esse movimento para que a comunidade acadêmica seja menos excludente com as mulheres, menos punitiva com quem está criando uma criança. Tivemos diversas gerações de pesquisadoras prejudicadas, imagine quantas cientistas e descobertas perdemos por essa exclusão", diz Boldrin.