Pesquisadores do CCB (Centro de Ciências Biológicas) da UEL (Universidade Estadual de Londrina) acompanham populações e diferentes espécies de abelhas no município e região. O trabalho, coordenado pela professora Silvia Helena Sofia, envolve alunos da graduação, IC (Iniciação Científica) e pós-graduação de programas de mestrado e doutorado da área de Ciências Biológicas.
Um dos projetos tem como fonte de observação a Mata dos Godoy, localizada na região Oeste de Londrina, a 20 quilômetros do Centro da cidade. Após mais de 20 anos da primeira pesquisa feita com abelhas de orquídeas na Mata dos Godoy, um dos projetos vai repetir o estudo para comparar como está a comunidade de abelhas no local. Como há redução das populações de abelhas no mundo, o que gera preocupação com a extinção de algumas populações e espécies, existe a hipótese de que elas também estejam declinando em número no Norte do Paraná devido à intervenção humana.
Mudanças climáticas, uso de agrotóxicos e crescimento urbano acelerado estão entre os principais motivos que podem influenciar na redução das populações de abelhas, segundo a professora Silvia Helena. Foi a pesquisadora a primeira a realizar o estudo, em 1998, quando chegou à UEL. Desde então, fez diversas pesquisas com abelhas e coletou centenas de espécies para coleção. Só na Mata dos Godoy, por exemplo, foram identificadas 11 espécies de abelhas de orquídeas.
Leia mais:
Segundo dia de provas do Enem 2024 ocorre neste domingo (10); veja horários e o que levar
Enem 2024: Londrinenses '50+' buscam vagas na universidade
Alunos da rede municipal terão atendimento oftalmológico gratuito neste sábado
Educação anuncia abertura de novo PSS com mais de mil vagas disponíveis no PR
No mundo, são 20 mil espécies catalogadas. No Brasil, 2 mil são conhecidas, embora o número possa ser ainda maior. “A preocupação com elas é devido à alta capacidade de polinização de plantas, o que possibilita gerar frutos de melhor qualidade e mais sementes. Isso pode influenciar diretamente na produção de alimento em todo o mundo”, como afirma Silvia Helena, que recorda o lema utilizado atualmente: “sem abelha, sem alimento”. Se nas plantações elas são responsáveis por 75% do processo de polinização, nas florestas e matas esse número chega a 90%.
COLETA E ANÁLISE - O estudo comparativo será conduzido pelas estudantes Giovanna Cesar, do 5º ano do curso de Ciências Biológicas, e Thais Kotelok, doutoranda do Programa de Pós-graduação em Genética e Biologia Molecular. Giovanna fará coleta e análise de dados, enquanto Thais trabalhará a diversidade genética das abelhas. Ambas afirmam terem se surpreendido com a quantidade de espécies identificadas – muitas delas não conhecidas pela população, e reconhecem a contribuição desse novo estudo para a região Norte do Paraná.
Recentemente, a pesquisa foi contemplada no Edital do Programa Institucional de Pesquisa Básica Aplicada da Fundação Araucária, com mais de R$ 12 mil. Ela integra o projeto PELD – MANP (Pesquisas Ecológicas de Longa Duração na Mata Atlântica do Norte do Paraná), coordenado pelo professor José Marcelo Torezan, do Departamento de Biologia Geral, e financiado pela Fundação Araucária e pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
EUFRIESEA VIOLACEA - A espécie mais encontrada na Mata dos Godoy, área remanescente de Mata Atlântica na região de Londrina, é a Eufriesea violacea, considerada uma abelha de orquídeas por ser atraída pela fragrância da flor. Segundo Silvia Helena, é o macho quem faz essa ação como um comportamento de reprodução e corte para a fêmea.
As características se diferenciam muito das tradicionais abelhas europeias, de cor preta e amarela. No caso da espécie de interesse, os machos, de cor esverdeada, são os mais encontrados e fáceis de serem capturados. Já as fêmeas apresentam cor violeta. Essa espécie é encontrada no período de outubro a janeiro, épocas de temperaturas mais altas. Por este motivo, as novas coletas na Mata dos Godoy serão realizadas no fim do ano e o resultado comparativo deve ser divulgado em 2023.
Apesar de não ser necessário o uso de abelhas para polinização das flores do cafezal, estudos mostram que a produção pode aumentar em até 20% quando elas visitam as plantações. É a partir disso que as pesquisas são conduzidas no Norte do Paraná para identificar as principais espécies de abelhas que habitam os pés de café, com o objetivo de comparar com outras regiões do país.
ABELHAS E PRODUÇÃO DE CAFÉ - Já o projeto “Abelhas polinizadoras do cafeeiro: avaliação bioeconômica das abelhas polinizadoras”, também conduzido pela professora Silvia Helena Sofia, avalia as propriedades rurais que fazem parte da Rota do Café, abrangendo de Londrina a Ribeirão do Pinhal, no Norte do Paraná. Em levantamentos prévios, a principal espécie encontrada é a abelha europeia (Apis mellifera), exótica, introduzida no país no século 19.
A professora lembra que o Norte do Estado já foi o principal produtor de café do país, entre os anos de 1930 e 1970. Atualmente, a região concede ao Paraná o posto de sexto maior produtor do Brasil. A pesquisa vem como forma de valorizar a região e, ainda, de conservar as espécies de abelhas que nos últimos anos estão sofrendo redução das populações devido à ação humana.
BRASIL - No país, o estudo é realizado há três anos pela UENF (Universidade Federal do Norte Fluminense Darcy Ribeiro) e UFU (Universidade Federal de Uberlândia), com financiamento do CNPq, da Associação Brasileira para Estudo das Abelhas (A.B.E.L.H.A) e do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). É com as plantações de café do Rio de Janeiro e de Minas Gerais que os estudos do Paraná serão comparados. Diferente daqui, a pesquisa já aponta que nessas regiões são encontradas espécies nativas, como a mandaçaia, uma abelha sem ferrão.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL - Outro objetivo do estudo, segundo Silvia Helena, também é contribuir com o produtor, visando ganho econômico e também educar sobre a importância das abelhas para a produção de alimentos. “Geralmente eles são abertos e têm interesse pelas abelhas”, afirma.
De forma semelhante, outro trabalho realizado pela professora é a divulgação, para crianças e adolescentes, da importância das abelhas. A ação já ocorreu em escolas da cidade e também na Fazendinha, durante a ExpoLondrina (Exposição Agropecuária de Londrina). Nos locais, foi levada a coleção de abelhas de orquídeas e outras abelhas brasileiras, que apresentam diferentes cores e tamanhos.
COLEÇÃO DE ABELHAS - A UEL tem uma coleção de abelhas de orquídeas com quase 10 mil indivíduos. São os mais diferentes tipos, que lembram, por exemplo, mosquitos e besouros, devido à variação de cor e tamanho. As espécies foram coletadas nos mais de 20 anos de estudos, em espaços remanescentes da Mata Atlântica, Mata dos Godoy e do Litoral paranaense.
A coleção está armazenada no LAGEA (Laboratório de Genética e Ecologia Animal) e no Museu de Zoologia, ambos no CCB (Centro de Ciências Biológicas). Os exemplares estão preservados em via seca, montados em alfinetes e devidamente etiquetados.