Um projeto de lei que tem como objetivo criar um incentivo financeiro para alunos de baixa renda do ensino médio se manterem na escola e concluírem o ensino básico foi aprovado pela Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (12).
A proposta é a criação de um fundo com aporte de até R$20 bilhões que poderá ser feito pela União para cobrir as despesas. O texto segue agora para análise do Senado.
O documento explica como o incentivo vai funcionar: o primeiro auxílio será pago mensalmente, ao menos por nove meses ao ano, e poderá ser sacado a qualquer momento. Além disso, a proposta prevê um pagamento anual ao final da conclusão de cada ano letivo que o aluno só poderá sacar após a conclusão de todo o ensino médio.
Leia mais:
Ainda é possível trocar o local de prova do Enem 2024? Entenda
Organizações elaboram carta para Unesco por justiça racial na educação
Histórico criminal de políticos é duas vezes maior que o da população, diz estudo
Concentração de gases de efeito estufa bateu recorde em 2023, diz ONU
Como critério para o recebimento do auxílio, o texto institui que o aluno deverá ter uma frequência escolar de 80% dos dias letivos, devendo aumentar para 85% de presença na sala de aula em até três anos após o início do programa. Essa frequência é superior aos 75% hoje exigidos para aprovação escolar.
Além disso, a proposta estabelece que o benefício poderá ser pago aos estudantes regularmente matriculados no ensino médio das redes públicas e que sejam de famílias inscritas no CadÚnico (Cadastro Único) dos programas do governo federal, com prioridade para aqueles alunos de famílias com renda per capita mensal de até R$218.
O incentivo também poderá ser pago aos estudantes da modalidade de EJA (Educação de Jovens e Adultos), mas somente se tiverem entre 19 e 24 anos.
A seleção dos alunos deve obedecer aos critérios de inscrição do CadÚnico e poderá ter outros critérios fixados em regulamento do Executivo baseados em vulnerabilidade social, idade do estudante e modalidade de ensino. A relação dos estudantes beneficiados deverá ainda ser disponibilizada na internet com acesso público.
O valor do auxílio deve ser definido periodicamente pelo Executivo federal por meio de regulamento “em decorrência da dinâmica socioeconômica do país e de estudos técnicos sobre o tema”.
Porém, ao analisar o projeto, o governo estimou que seria possível pagar aproximadamente R$200 mensais, iniciados quando a matrícula for efetivada. Em relação ao aporte anual, a previsão é de um pagamento de R$1 mil ao final da conclusão de cada ano, “reiterando que estes últimos somente poderão ser resgatados após a obtenção do certificado de conclusão do ensino médio”.
O projeto de lei definiu ainda que esse auxílio não pode ser contabilizado no cálculo da renda da família usado para obtenção de outros benefícios assistenciais, além de não poder ser acumulado com o BPC (Benefício de Prestação Continuada) ou com Bolsa Família no caso de famílias unipessoais.
A criação do projeto de lei foi feita com o objetivo de diminuir a evasão escolar, o que eventualmente beneficia o país de várias maneiras.
O relator do projeto na Câmara, o deputado federal Pedro Uczai (PT-SC), aproveitou no texto a maior parte da Medida Provisória 1.198, editada pelo governo federal no final de novembro e que instituiu poupança para incentivar a permanência e conclusão escolar para estudantes do ensino médio.
“O aumento de gastos promovido por essa política pública se reverterá em benefícios inequívocos para as políticas educacionais, com redução da evasão escolar e ampliação da escolaridade da população em geral”, argumentou Uczai.
O parlamentar defendeu a aprovação do projeto devido aos números do MEC (Ministério da Educação) sobre evasão, reprovação e distorção entre idade e série no Ensino Médio brasileiro. Segundo o Censo Escolar de 2019 a 2022, a evasão escolar foi, em média, de 8,8% no 1º ano do Ensino Médio, de 8,3% no 2º ano e de 4,6% no 3º ano da última etapa da educação básica.
O projeto é de autoria da deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) que, durante a sessão, destacou que o aluno não deve abandonar os estudos por precisar levar comida para dentro de casa.
“Quando fazemos uma política pública para dizer que nenhum aluno vai ter que escolher entre o prato de comida, entre levar dinheiro para casa e terminar os seus estudos, essa é a melhor aposta que podemos fazer, essa é a sinalização mais forte de que, de fato, acreditamos que vale a pena investir em educação, acreditamos que vale a pena investir nesses jovens”, destacou.
Fundo Social
Os recursos que a União usará para bancar essa política virão dos superávits financeiros do FS (Fundo Social). Criado para receber recursos do governo federal com exploração do petróleo do pré-sal, este fundo prevê o financiamento de ações em outras áreas, como saúde pública, ciência e tecnologia, meio ambiente e mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
O relatório do deputado Pedro Uczai determina que o projeto autoriza o uso de recursos do Fundo Social, que somam R$18,7 bilhões, e representa o total de superávit apurado entre 2018 e 2022, segundo cálculos da Secretaria do Tesouro Nacional.