Com a rápida ascensão das novas tecnologias e da IA (inteligência artificial), o ambiente escolar tem passado por profundas transformações. Hoje, professores se veem diante de plataformas, aplicativos, assistentes virtuais e demandas digitais que transformaram não apenas o jeito de ensinar, mas também a própria rotina docente.
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“Foi a pandemia o divisor de águas”, afirma o professor Luciano Humberto Verdicchio, diretor do Sinpro (Sindicato dos Profissionais das Escolas Particulares de Londrina e Norte do Paraná).
O professor relata que fazia uso frequente dos celulares dos próprios alunos para promover atividades de fixação de conteúdo. “Eu usava o celular para fazer com que eles participassem. Pedir para pesquisar, comparar fontes, ver onde estão buscando informação”, conta.
Depois que entrou em vigor a legislação que proibiu o uso de celulares em sala de aula, o professor reduziu o uso das tecnologias. “Fiquei muito mais tímido no uso dessas tecnologias. Antes eu usava até IA com eles, a gente criava prompts, investigava respostas, comparava”, explica.
O professor afirma que a IA tem um potencial transformador no ensino. “Na minha disciplina, ela ajuda no levantamento de dados, fixação e reforço de conteúdo”, diz. Ele cita o uso da inteligência artificial para criar miniaulas a partir do conteúdo das apostilas, como uma forma de exercitar o pensamento crítico dos estudantes.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Significare, em parceria com a UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), revelou que o domínio da tecnologia ainda é limitado entre os educadores. Cerca de 69,4% dos participantes declararam ter apenas um conhecimento inicial sobre IA. Apenas 17,8% possuem domínio avançado e 1,9% se consideram especialistas.
Mais da metade dos professores (50,8%), segundo a pesquisa, nunca participou de um curso sobre IA na educação, embora tenham interesse. Apenas 25,2% já participaram de mais de uma formação, e 23,6% de apenas uma.
O Sinpro vem trabalhando para oferecer formação continuada para os associados. Recentemente, foi apresentada em várias escolas a palestra "Gerações, Inteligência Artificial e Educação", ministrada pelo professor Valdecir Veloso.
A integração da tecnologia no cotidiano escolar, embora promissora, não veio sem custos. Segundo o diretor do Sinpro, a pandemia exigiu um esforço extra dos docentes. Mesmo com o retorno ao ensino presencial, boa parte das ferramentas digitais permaneceu como exigência. “As escolas querem que a gente continue usando. Mas esquecem que isso demanda tempo de preparo, de teste, de adaptação. E esse tempo não entra na nossa jornada de trabalho”, aponta.
Ele também destaca a intensificação do trabalho fora da sala de aula: “Hoje, preparar uma aula com tecnologia exige mais que boa vontade. Não é só jogar três perguntas no quadro. É criar layout, pensar tempo, testar a ferramenta. E se ela falha? Precisa de plano B, senão você perde a aula”.
Para o professor, o uso da tecnologia na educação é, sim, um caminho sem volta, mas que exige responsabilidade, formação adequada e respeito às limitações do tempo e das condições de trabalho do docente.
Para o professor Sérgio Cavalheiro, diretor do Sinpro Londrina, o uso de ferramentas digitais exige cautela, preparo e apoio institucional. Segundo ele, o uso da tecnologia pode enriquecer o ensino com metodologias ativas, conteúdos interativos, plataformas educacionais e personalização da aprendizagem.
No entanto, também traz novas exigências, como o planejamento mais detalhado de aulas, a necessidade de domínio de diferentes plataformas e o aumento do trabalho fora da sala de aula, algo que, segundo o professor, nem sempre é reconhecido ou compensado.
“Você planeja uma aula com uso de recurso digital, e aí a plataforma sai do ar, a conexão falha. Tem que ter um plano B sempre. Isso impacta diretamente na carga de trabalho do professor, que cresceu muito nos últimos anos”, relatou Cavalheiro.
O professor lembrou que embora haja iniciativas de formação continuada oferecidas por editoras, instituições e plataformas, o ritmo das inovações tecnológicas é mais rápido do que o tempo da formação. “A gente está sempre correndo atrás”, disse.