Educação

Alunos de colégio cívico-militar exaltam violência durante atividade no PR

01 dez 2025 às 16:48

Um vídeo com cenas gravadas no Colégio Cívico-Militar João Turin, em Curitiba, mostra uma atividade no pátio com os alunos marchando e entoando um canto com exaltação da violência associado ao Bope, polícia de elite do Rio de Janeiro. A gravação foi divulgada na sexta-feira (28) pelo APP-Sindicato (sindicato dos professores e funcionários da rede estadual de ensino do Paraná).


A Seed (Secretaria Estadual de Educação) afirma que o vídeo foi feito em 2023 e que, após o ocorrido, foram adotadas medidas pedagógicas para que episódios assim se repitam.


De acordo com a presidente da APP, Walkíria Olegário Mazeto, o vídeo foi enviado por um professor da instituição, que o recebeu via grupo da escola em aplicativo de mensagens na última sexta.O sindicato publicou o vídeo em suas redes sociais como forma de explicitar o motivo de ser contra o modelo cívico-militar para as escolas.


Na gravação, um grupo de alunos marcha na quadra da escola e entoa versos como “Homem de preto, qual é sua missão?/ Entrar na favela e deixar corpo no chão”. Também faz exaltação ao sugerir “matar” e “esfolar” usando “o meu fuzil”. O Bope, esquadrão de elite do Rio de Janeiro caracterizado pela farda preta, foi retratado de forma crítica no filme "Tropa de Elite", de José Padilha, num retrato de crueldade praticado tanto pelos bandidos quanto pelos policiais.



A atividade é acompanhada por um policial militar da reserva que atua na escola, conforme preconiza o modelo cívico- militar do Paraná. No vídeo, ele não faz qualquer objeção à música entoada pelos adolescentes.

Mazeto afirma que um dos motivos pelo qual a APP é contrária ao modelo cívico-militar,  é o ingresso de práticas não-pedagógicas em ambiente escolar. “Professores e funcionários de escola que possuem formação específica para isso e estão em constante capacitação, sabem qual linha pedagógica deve ser adotada. Ao incluir um policial da reserva dentro da escola, você tem riscos como esse. Temos acompanhado, ao longo desses anos de implantação do programa, [denúncias de] assédios dos policiais sobre estudantes, porque não é o ambiente de trabalho deles [policiais], não estão preparados para aquele ambiente de trabalho”, afirma.


Para ela, por mais que o governo do Paraná afirme que os policiais reformados passem por preparação ao ingressar no programa, os anos de formação e práticas relativas à segurança pública acabam sendo incorporados como valores pessoais. “Por mais que passem por formação, os policiais da reserva já passaram, pelo menos, por 25 anos atuando na segurança pública, numa outra linha de preparo, que não é a pedagógica. Não são meses que fazem uma pessoa alterar toda a preparação de uma vida”, diz.


'Caso isolado', afirma a Seed


Por meio de nota, a Seed informou que, após esclarecer os fatos com a direção do colégio, identificou que o vídeo foi feito em 2023, que foram adotadas medidas pedagógicas à época e que, desde então, não houve mais registros de vídeos similares gravados em escolas estaduais.O órgão de comunicação também ressaltou que o uso de celulares está vetado em ambientes escolares desde 2024.


Ainda de acordo com a nota, os representantes da Seed que conduziram a reunão reforçaram que as escolas “não admitem, em qualquer hipótese, práticas ou manifestações que incentivem violência ou discriminação”. Estes representantes relataram que a gravação foi uma atitude isolada de uma aluna, “que foi orientada a encerrar a gravação assim que o monitor ouviu o teor do que estava sendo gravado”.

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