A pandemia de Covid-19 atingiu milhões de trabalhadores no Brasil, deixando como saldo preliminar uma taxa de 14% da população desempregada. O índice de desocupação é recorde e explicita desigualdades de gênero, mostram dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
As mulheres lideram a taxa de desocupação: em setembro (dados mais recentes), 16,9% delas estavam sem trabalhar, contra 11,8% dos homens.
A discrepância pode ser explicada ainda por outros dados. Mulheres que têm filhos com até três anos têm menos chances de estarem trabalhando: apenas 54,6% delas estão empregadas, contra 67,2% das que não têm filhos até esta idade.
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A empregada doméstica Maria Margareth da Silva Pereira, 41 anos, trabalha há cerca de 20 anos para a mesma família e conta que a pandemia mudou drasticamente a sua rotina.
Ela, que percorre cerca de 50 km todos os dias entre Franco da Rocha (Grande SP), onde mora, e a Vila Mariana (zona sul), conseguiu negociar a flexibilidade da jornada com os patrões.
"Quando a pandemia ficou mais séria, entre março e abril do ano passado, reduziram os dias em que ia trabalhar, e depois parei de ir", explica. "Continuaram me pagando normalmente e foi por isso que consegui me manter. Conforme o passar das semanas, fui voltando gradualmente",diz.
A empreendedora Erika Fernanda de Lima Apalosqui, 39 anos, também precisou se adaptar. A pandemia, mesmo com seus revezes, fez com que ela mudasse o rumo do seu negócio.
Formada em administração, ela deixou a carreira no meio corporativo para acompanhar o marido numa transferência de emprego, em 2014. Na cidade nova, descobriu a confeitaria como paixão e como forma de complementar a renda da família. Começou a fazer bolos e doces e viu ali uma possibilidade de negócio.
Dois anos depois, ao retornar a São Paulo, decidiu abrir o atual ateliê de doces com a mãe e a tia, em Santana (zona norte).
"Não tínhamos capital de giro, a não ser R$ 100 que cada uma colocou. A princípio, nosso foco eram bolos, doces, decorações e lembrancinha de festa", explica. "Vimos que precisávamos ampliar nossos serviços, e foi quando começamos a trabalhar com buffet. Chamamos outra tia e, então, agregamos mais um item, o serviço de marmitas."
Erika diz que, com a pandemia e o crescimento do trabalho remoto, as refeições congeladas tornaram-se o carro-chefe da empresa. "A gente precisa se reinventar, com muita dedicação, persistência e fé. Estamos sempre buscando alternativas para melhorar e, graças a Deus, temos tido um retorno muito positivo", comemora.
A doméstica Margareth, que tem um filho de 16 anos, também tem otimismo, apesar das dificuldades. "Tenho um filho de 16 anos e fiquei em casa com ele, que teve aulas online. Foi um período que nunca havíamos tido, foi muito proveitoso."