Pesquisar

Canais

Serviços

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Pandemia e misticismo

Moda vive onda esotérica liderada pela Dior com looks inspirados no tarô

Pedro Diniz - Folhapress
22 fev 2021 às 20:25
- Elina Kechicheva/Dior/Divulgação
siga o Bonde no Google News!
Publicidade
Publicidade

Já leu o horóscopo de hoje? E a carta de tarô? Se nem um nem outro, a moda pode ter uma mensagem para dar. De tanto costurar signos, astros, constelações e ícones dos baralhos místicos, os estilistas parecem mais inclinados ao ofício de oráculos que de arquitetos do guarda-roupa.


Um trânsito astrológico tão duradouro quanto se acredita ser o de Saturno pousou nas passarelas e nas araras dos últimos cinco anos jogando luz sobre o oculto segundo marcas tão diferentes quanto Gucci e Balmain. Seu auge, no entanto, ocorreu no final de janeiro, quando a grife francesa Christian Dior apresentou uma coleção de alta-costura inteiramente dedicada ao tarô.

Cadastre-se em nossa newsletter

Publicidade
Publicidade


O filme do cineasta italiano Matteo Garrone, que ilustrou as ideias da estilista Maria Grazia Chiuri na temporada mais recente de desfiles virtuais, trouxe a aura mística intrincada ao jogo, com roupas de estilo renascentista nas quais foram aplicadas referências às cartas da Papisa, da Justiça e do Louco.

Leia mais:

Imagem de destaque
Queixas dos primeiros clientes

Após críticas a produtos, Bianca Andrade adia lançamento oficial de marca

Imagem de destaque
Estreia recente

Peças da marca de Sasha Meneghel custam de R$ 230 a R$ 3.190

Imagem de destaque
Alerta

Peeling de fenol deve ser feito por médico habilitado, diz sociedade médica

Imagem de destaque
Arrase!

Do curto boy bob aos longos com muitas camadas, veja tendências de cabelos para o outono e o inverno


Despertar a feminilidade, ser consciente nas decisões e encarar os desafios, nesta ordem, resumem os conselhos dessas cartas usadas pela grife para justificar capas acetinadas com bordados astrológicos, longos plissados e conjuntos de alfaiataria adornados com espécies de mandalas.

Publicidade


Se tudo parece uma grande elucubração típica de quem tem o sol em Aquário como indica o mapa astral de Chiuri, vale notar que esse caso de moda romântica bem marcado em cartas de tarô não é obra do acaso e nem estava "escrito nas estrelas”.


Num momento em que o mundo se agarra ao divino para explicar o mal-estar do tempo e tenta buscar nos astros alguma previsibilidade sobre a vida em meio às incertezas do futuro provocadas pela pandemia, o interesse pelo misticismo volta a pautar a costura na esteira de um boom sobre o assunto.

Publicidade


Na lista dos podcasts mais ouvidos do Brasil no ano passado segundo a plataforma de streaming Spotify, por exemplo, consta em primeiro lugar o "Horóscopo do Dia", logo à frente do diário Café da Manhã, produzido pelo jornal Folha de S.Paulo. Emoção e razão, nesta ordem, estão refletidos ali e também no sentimento das pessoas que a moda tenta reproduzir.


Elina Kechicheva/Dior/Divulgação
Elina Kechicheva/Dior/Divulgação


"As cartas podem ajudar a não ter medo de algo que você não conhece, que está tão inseguro”, disse Chiuri à imprensa internacional para explicar as motivações místicas da coleção que já é um dos seus maiores sucessos de crítica à frente da casa.

Publicidade


A estilista já havia testado a ideia antes, em 2017. À época, ela se apoiou no resgate da história de que o próprio Christian Dior, antes de abrir sua marca nos anos 1940 e quando ainda era galerista de arte, teria ouvido previsões de uma cartomante sobre a fortuna que conquistaria pelas mãos das mulheres.


É sabido também que Coco Chanel não fazia nada sem a consulta de sua taróloga, e as cartas do baralho que usava ainda pousam sobre a mesa de seu apartamento em Paris mantido pelos donos da grife.

Publicidade


Uma de suas maiores rivais da costura, porém, levou primeiro o oculto para a mesa de corte. Foi Elsa Schiaparelli quem colou no corpo da elite cultural europeia, no final dos 1930, sua coleção "Zodíaco".


A coleção da estilista foi pioneira ao explorar um tema até então visto com reticência pela indústria da moda e serviu como espécie de ponto final da extravagância estética que antecedeu o período de restrições da Segunda Guerra.

Publicidade


A constelação Ursa Maior combinada à simbologia dos signos bordados na chamada jaqueta Zodíaco foi fundamental na construção do imaginário sobre Schiaparelli, uma esteta que firmou com sua obra a aproximação da costura com o movimento surrealista. A famosa coleção chegou a ser reeditada em 2016 pela marca e, claro, copiada pelas cadeias de fast fashion.


Coincidência ou não, foi nesse mesmo ano que as redes sociais passaram a registrar um aumento significativo na procura de temas vinculados à astrologia. Segundo dados da consultoria americana especializada em métricas para vídeos digitais, a Tubular Labs, o Youtube acompanhou em 2016 e 2017 uma escalada de 67% na busca pelo termo, enquanto no Facebook a escalada foi de 116%. No Twitter, foi de 300%.

Publicidade


Elina Kechicheva/Dior/Divulgação
Elina Kechicheva/Dior/Divulgação


É para copiar números de vendas tão expressivos quanto esses que o horóscopo entra em cena mais uma vez, só fora das linhas ocidentais. No ano passado, a Gucci, sob o comando do estilista Alessandro Michele, lançou uma coleção especial dedicada ao Ano-Novo lunar, marcado sempre por um dos 12 animais do horóscopo chinês.


Naquele ano do rato, foi o Mickey da Disney que ganhou releituras pop em bolsas e roupas da marca. Neste, no qual se comemora o boi, a italiana Fendi e a inglesa Burberry entraram na onda astral para lançar acessórios com detalhes em vermelho, tal como é a bandeira chinesa, e a própria imagem do animal estampada nas peças.


Vale lembrar que é do lado de lá do planeta onde os astros estão melhor alinhados para girar o caixa das grifes, com um mercado de luxo pujante e jovem que não dá sinais de cansaço mesmo com uma pandemia em curso.


Somado ao fato de que o consumo por conteúdo celestial é puxado pelos millennials, como indicam os gurus das métricas, e –de acordo com dados da consultoria Bain & Company, são esses mesmos jovens na faixa dos 30 anos os responsáveis por 35% das vendas globais de luxo– não é preciso bola de cristal para analisar esse céu.

O interesse da moda pelo oculto está menos para trabalho de adivinhação e mais para ciência exata, que nem um trânsito de Mercúrio retrógrado, um dos mais temidos por quem costuma olhar para cima pelo suposto potencial de provocar atrasos e incidentes, poderia abalar.


Publicidade

Últimas notícias

Publicidade