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Moda e prevenção

Grifes apostam em máscaras de estilo e lucram com a pandemia

Roberto de Oliveira - Folhapress
13 mai 2020 às 08:50
- Arquivo Pessoal/Aline Rodrigues
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No teatro e no Carnaval, elas criam personagens, em movimentos revolucionários, já serviram para proteger a identidade de manifestantes e, nos hospitais e consultórios, são itens de prevenção do contágio de infecções.

Em meio à pandemia de Covid-19, as máscaras ganharam status de peça do vestuário. Algumas marcas de roupas decidiram entrar em campo e pôr no mercado itens de grife, candidatos a objeto de desejo.

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"Estamos vivendo a ocidentalização das máscaras", conta o estilista Thomaz Azulay, 33, da grife carioca The Paradise. "Não vamos mais sair de casa sem elas, como já se faz na Ásia há muito tempo", diz.

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Ao lado do sócio, Patrick Doering, ele criou dez estampas para as peças, vendidas, cada uma, por R$ 30 (duas peças por R$ 50). "Comecei a fazer máscaras para funcionários e amigos, mas os pedidos aumentaram muito'', conta Azulay. "Foi uma forma de manter a grife funcionando."

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Sobras de tecidos de coleções passadas, além de lotes das atuais e até das próximas, ganharam novos recortes. "Se fosse uma guerra, estaríamos confeccionando uniformes."

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Quem comprar as máscaras poderá cobrir o rosto com imagens caras à arte clássica, com desenhos de folhas e com paisagens do Rio de Janeiro.


A Osklen tentou surfar a onda, mas sua ação de marketing foi rejeitada nas redes. No início do mês, depois de anunciar um kit com duas máscaras por R$ 147, com direito à doação de uma cesta básica a uma comunidade do Rio, a grife carioca foi bombardeada por causa do preço das peças e retirou o produto do e-commerce.

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Recém-formada em moda, Aline Rodrigues, 30, galgou seu espaço usando tecidos de origem africana –a samakaka, de Angola, e a capulana, de Moçambique. "É uma forma de mostrar a identidade pelo vestuário", define.


A samakaka exibe formas geométricas nas cores da bandeira angolana ou em preto, branco, bege e marrom.

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O tecido capulana contém uma diversidade maior de estampas, multicoloridas, que retratam temas comemorativos ou trazem motivos florais.


Cada peça custa R$ 12, mas há opções de complemento. A peça pode vir acompanhada de chapéu, a partir de R$ 70 o conjunto, e também de blusa ou turbante, por R$ 60 o kit.

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A temática africana é uma homenagem de Rodrigues à bisavó materna. Católica, parteira e benzedeira, a bisa Sátira representava o sincretismo, que começava a ganhar formas e cores aos olhos da menina.


Ao apostar numa moda inclusiva, sem gênero e distinção de idade, o estilista Issac Silva caiu no gosto de Taís Araújo, Camila Pitanga, Elza Soares e Liniker. Na hora do sufoco, regressou à máquina de costura.

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"A miscelânea de tudo o que é Issac Silva está virando máscara", sintetiza. No mês passado, fez uma limpa nos estoques. O lote foi doado a um grupo de costureiras da Brasilândia, bairro da zona norte de São Paulo com o maior número de mortes pela Covid-19, a cargo das quais ficou a tarefa de produzir máscaras.


Mais - ele criou um kit de seis itens, vendido a R$ 49,90 sob a condição de o comprador levar quatro unidades e destinar duas à doação. Do material vendido, 250 máscaras foram doadas até agora, 80% delas a uma ONG voltada a imigrantes e os 20% restantes à população de rua.


"Nunca jogo fora retalho. Além do forte impacto no meio ambiente, esses tecidos sempre têm serventia, como estamos vendo agora", explica.


Para o designer de moda Antonio Borges, 31, tecidos reciclados estão ganhando novo significado nestes tempos. "Sempre estoquei", reforça. Com a mercadoria armazenada em casa, passou a criar máscaras (R$ 10). A peça, de dupla face, ganhou modelos em quatro tamanhos (baby, kids, adulto e adulto ampliado), de modo que fique bem ajustada.


A cara de gente como Sergio Moro e o presidente Jair Bolsonaro inspirou o designer gráfico e ilustrador Julihermes Cavalcanti, 38, de Natal, a desenhar uma coleção de máscaras em nove estampas (R$ 7).


Uma laranja dentro da boca de um Moro amarelado, a imagem do coronavírus vestindo a faixa presidencial ou dizeres como "eu avisei" e "fora, Bozo", são uma prova de que, no Brasil, a pandemia e a política estão na ordem do dia.

As máscaras de hoje podem cobrir a boca, mas não vão deixar ninguém calado.


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