A menina de 12 anos vítima de um estupro coletivo na Baixada Fluminense, na semana passada, está sendo insultada na internet. Assim como aconteceu com a adolescente da zona oeste do Rio que sofreu a mesma violência há um ano, ofendida até numa letra de funk, a garota está sendo atacada em comentários misóginos. Nos dois casos, as violações foram filmadas e as imagens foram compartilhadas pelo WhatsApp.
No YouTube, uma internauta que se diz conhecida da vítima escreveu que "não é a primeira vez que ela faz isso" e que a denúncia e a repercussão do estupro é "tempestade em copo d'água". Outra diz que não houve estupro, e sim sexo consentido: "Agora os garotos se ferram... Ela tinha que chegar na mãe e na delegada, em quem for, e assumir que ela quis". Um outro disse que ela é "bem danada", e outro, que "ela estava lá porque quis". Vários pedem o link do vídeo.
O crime está sendo investigado pela Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (Dcav). O vídeo tem cerca de um minuto e está sendo disseminado nos últimos dias. Ele mostra a vítima cercada por quatro homens nus, enquanto um outro os filma. A menina grita enquanto é estuprada e tenta esconder seu rosto com um almofada. Um dos estupradores diz: "Cala a boca, se alguém ouvir sua voz vai saber que é tu". Outro fala: "Tapa o rosto da novinha".
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A polícia ainda busca o local do estupro e os criminosos. O nome do município não está sendo divulgado pela Dcav para a preservação da menina. Amanhã, ela deve prestar depoimento. O estupro teria ocorrido há uma semana, depois de uma festa numa comunidade pobre. Segundo apontam as investigações, ela teria sido enganada pelos estupradores, de modo que ficasse mais no local e fosse violentada. Eles teriam ligações com o tráfico de drogas local.
A denúncia à Dcav foi feita na última sexta-feira por uma tia da vítima. Ela contou que a sobrinha está muito abalada com a violência sofrida, e que, inclusive, pensava em fugir de casa. Ela não contou à família sobre o estupro por vergonha e medo de represálias dos criminosos.
A delegada Juliana Emerique de Amorim disse que não há dúvida de que houve estupro, e ressaltou que ainda que a menina tivesse consentido ter relações, trata-se de estupro presumido, por ela ser menor de 14 anos. Os responsáveis irão responder não só por este crime (pena de até 15 anos) mas também por terem filmado e divulgado as imagens (pena de até oito anos). Quem armazenou (em celulares ou computadores) e compartilhou as cenas também será implicado. Provedores e sites estão sendo oficiados para retirar o conteúdo do ar.
Na sexta-feira, a delegada disse que o caso requer resposta rápida. "É um crime abominável, muito grave, que demanda uma ação imediata. A gente não quer que a adolescente trave e não fale mais do que aconteceu. Isso não pode ficar impune. É uma falta não só com a ela e com a família, mas com a sociedade, que já viu o mesmo crime acontecer há um ano", lembrou.
Em maio de 2016, a Dcav investigou o estupro coletivo de uma menina de 16 anos na zona oeste do Rio, que resultou na condenação de três homens. Dois estão presos e um está foragido até hoje. A adolescente foi incluída no programa de proteção a testemunhas do governo do Estado.
O caso veio à tona e a violência a ela seguiu na internet. Nas redes sociais, foram compartilhados xingamentos e imagens depreciativas e áudios atribuídos a ela. Um funk que a insultava e citava suas partes íntimas teve milhares de visualizações. A letra, cheia de palavrões, listava homens que a teriam violado.