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Métodos contraceptivos de longa duração beneficiam o planejamento reprodutivo

16 mar 2017 às 08:40

Métodos anticoncepcionais que dependem da disciplina da mulher, como a pílula, são mais propensos ao uso incorreto ou à falta de adesão, resultando em falha. Já os chamados contraceptivos reversíveis de longa ação, são à prova de esquecimento e não dependem da disciplina da usuária.

Além do implante - mais novo método do mercado - , existem mais duas opções no Brasil: o dispositivo intrauterino (DIU) de cobre, com duração de cinco a 10 anos, dependendo do modelo, e o sistema intrauterino (SIU) liberador de levonorgestrel – um DIU com hormônio e duração de cinco anos.


Apenas cinco a cada 10.000 mulheres engravidarão em um ano usando o implante subcutâneo, duas a cada 1.000 usando o DIU hormonal e oito a cada 1.000 usando o DIU de cobre. Para se ter uma ideia da efetividade desses métodos, a laqueadura tubária tem a estimativa de cinco falhas em cada 1.000 mulheres.


"Ao pensar em como evitar a gravidez, a pílula é sempre a primeira opção lembrada. Mas ela não é a única e nem sempre é a melhor opção. Hoje já existem inúmeros métodos contraceptivos que ampliam as possibilidades e podem se adequar às circunstâncias de vida, cotidiano e histórico clínico de cada mulher", explica a Dra. Cristina Guazzelli, Ginecologista e Professora da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).


Quais mulheres podem se beneficiar com dispositivos de longa duração?


Os contraceptivos de longa ação podem ser especialmente benéficos para as mulheres que acabaram de ter filho. Por mais tranquila que seja a chegada do bebê, a nova rotina acaba fazendo com que as mulheres se esqueçam de ações rotineiras, como tomar a pílula para evitar uma gravidez ou retornar às consultas pós-parto.


Segundo estudos, 10% a 40% das mulheres faltam na primeira consulta após o nascimento do bebê, o que pode resultar em uma gravidez não planejada. Um dos motivos mais reportados aos médicos para uma gestação durante o puerpério – período em que a mulher deve manter alguns cuidados para atingir a completa recuperação do corpo – é o esquecimento do anticoncepcional por causa da nova rotina. "Além do impacto no dia a dia da família, intervalos intergestacionais são recomendados pelos médicos para evitar complicações, reduzindo o risco de mortes maternas e infantis", complementa a Dra. Cristina.


Gestações que ocorrem com intervalos menores de um ano e meio entre um parto e um novo teste de gravidez positivo podem estar associados a vários efeitos negativos no bebê como baixo peso ao nascer, prematuridade, maior risco de paralisia cerebral, maior risco de autismo e maior chance de mortalidade no primeiro ano de vida. Como não contêm estrogênio, os contraceptivos de longa ação podem ser usados durante a amamentação, sem afetar o bebê.


Por não precisar da lembrança periódica da mulher, os contraceptivos de longa ação trazem menos riscos de uma gestação seguida da outra. Pelo mesmo motivo, podem ser especialmente benéficos para as mulheres que têm um ritmo de vida atribulado e não querem ter o compromisso de tomar contraceptivo diário, como aquelas que estão iniciando a carreira profissional ou universitárias.


Estudos mostram que mulheres jovens apresentam altas taxas de esquecimento do uso da pílula anticoncepcional, e até 65% das brasileiras já admitiram ter esquecido de tomar o contraceptivo oral, ao menos uma vez, nos últimos três meses de acordo com uma publicação sobre o assunto.


Importância do planejamento reprodutivo


O planejamento reprodutivo foi um dos maiores avanços em saúde pública alcançados no último século. Ele permite que as mulheres, informadas, tomem decisões sobre se ou quando querem ter filhos e pode reduzir a mortalidade materna e de recém-nascidos. Também pode diminuir as taxas de gestações não planejadas e abortos inseguros, e aumentar as oportunidades para as mulheres, resultando em famílias e comunidades mais saudáveis.


Apesar de o uso de anticoncepcionais ser elevado no Brasil, ainda existem mulheres com necessidades de contracepção não atendidas, que se refletem em percentual significativo de gestações não planejadas.


O país registra 1,8 milhão de gestações não planejadas por ano, o que representa 55,4% de todos os partos. A falta de conhecimento e de acesso a todas as opções para o planejamento reprodutivo ainda são barreiras para o uso correto dos métodos capazes de evitar gestações não planejadas.

Políticas públicas que priorizam o investimento preventivo em planejamento reprodutivo economizam recursos e podem evitar não apenas gastos, mas uma série de problemas sociais. "Toda mulher deve ter o direito de escolher se ou quando quer ficar grávida, e precisa ter acesso a métodos eficazes para evitar uma gestação não planejada. Só assim conseguirá criar seu filho com os cuidados de que ele precisa para se desenvolver de forma saudável e feliz", finaliza o Dr. Silvio Franceschini.


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