"Fogo à vontade!", diz um tenente do Exército, erguendo o braço esquerdo, e o que se ouve depois é ensurdecedor. Em menos de um minuto, 88 tiros de fuzil, rajada que encobre a voz do tenente, o ruído dos quero-queros ali perto, os carros da rodovia ao longe. O vento traz um pouco de gás lacrimogêneo, que faz arder olhos e nariz, e a orientação é respirar normalmente.
Nada anormal no treino de tiro do Exército, nesta terça-feira, 22, na escola preparatória de Campinas (SP). Há, porém, na fileira de jovens alunos de 17 a 22 anos, de barriga no chão, dedo no gatilho e rostos camuflados, um detalhe impensável pouco tempo atrás: um conjunto de tranças bem firmes, de cabelos claros e escuros, que despontam dos capacetes balísticos e se movem com o forte recuo dos disparos.
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Deitadas no chão, empunhando fuzis automáticos leves (FAL), estão as primeiras mulheres brasileiras a serem treinadas para combate pelo Exército do Brasil – uma instituição fundada em 1648 que, agora, parece querer tirar o atraso.
Desde fevereiro, 37 alunas frequentam a escola campineira, porta de entrada para a formação de oficiais combatentes, inaugurando a presença feminina na linha bélica da força.
Aeronáutica e Marinha já formam mulheres oficiais, respectivamente, desde 1996 e 2014. No Exército, elas compunham apenas quadros auxiliares, em funções administrativas ou de saúde – houve um aumento de 82% no número delas na Força em dez anos (4.447 em 2006, ante 8.110 no ano passado), mas eram só nos quadros complementares.
A partir de agora, elas finalmente podem treinar para o combate, prosseguir para a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e ter condições de ascender – levará décadas, mas agora podem – ao posto de general.