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Carnaval, samba e sexo: saiba como se proteger contra o HPV

25 fev 2014 às 09:05

Está chegando a hora da folia nacional. As marchinhas do Carnaval já começam a ecoar pelas esquinas do País. Quem pretende cair na farra não deve deixar de fora a serpentina, o confete e, claro, a camisinha. O preservativo é a garantia de que a alegria continue depois do feriado. Afinal, além de método contraceptivo é a melhor maneira de se manter livre das doenças sexualmente transmissíveis, incluindo infecções genitais causadas pelo pelo papiloma vírus humano (HPV).

Há uma forte ligação entre a infecção genital pelo papiloma vírus humano (HPV) e o câncer de colo uterino. "O HPV está presente em mais de 99% das células destes tumores. Existem mais de 200 tipos de HPV e estes podem ser classificados segundo o risco para o desenvolvimento deste câncer. Aproximadamente 13 tipos de HPV são considerados de alto risco e estão relacionados com o câncer de colo uterino, dentre estes, os mais importantes são o HPV 16 e o HPV 18, encontrados em 70% dos casos", afirma Dr. Leandro Ramos, oncologista da Oncomed BH.


A infecção pelo HPV é muito comum: cerca de 50% a 80% das mulheres sexualmente ativas serão infectadas por um ou mais tipos de HPV em algum momento de suas vidas. "A maioria destas infecções é transitória, sendo combatidas espontaneamente pelo sistema imunológico", explica o médico. Estudos epidemiológicos mostram que apenas uma pequena fração (entre 3% a 10%) das mulheres infectadas com um tipo de HPV de alto risco de câncer desenvolverá câncer de colo uterino. O tempo necessário entre a infecção persistente pelo HPV e o aparecimento do câncer de colo uterino é em média de 15 anos.


A transmissão do HPV genital ocorre através da relação sexual, ou através do contato direto com a pele contaminada. "Por este motivo, o uso de preservativo na relação sexual diminui o risco desta transmissão, consequentemente, reduzindo também a incidência do câncer de colo uterino", destaca Dr. Leandro.


O câncer de colo uterino ainda é uma doença de alta prevalência no Brasil. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), em 2014, estão previstos mais de 15 mil novos casos da doença. A sua incidência torna-se evidente na faixa etária de 20 a 29 anos e o risco aumenta rapidamente até atingir seu pico, geralmente, na faixa etária de 45 a 49 anos. É o terceiro tumor mais frequente na população feminina, atrás apenas do câncer de mama e do colorretal, e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil.


Através do programa para detecção precoce do câncer de colo uterino, também conhecido como exame de Papanicolaou, a incidência e a mortalidade desta doença têm reduzido significativamente nos países desenvolvidos. Apesar das várias campanhas educativas realizadas no Brasil pelo Inca, grande parte de nossa população ainda está fora do alcance deste exame tão importante. Por este motivo, muitas vezes, o diagnóstico é realizado apenas quando a mulher apresenta sintomas de doença avançada - tais como sangramento vaginal e dor - tornando assim o tratamento menos eficaz.


Uma vez estabelecida esta relação entre câncer de colo uterino e HPV, muitas pesquisas estão sendo desenvolvidas para a criação e aprimoramento de vacinas contra este vírus. Foram desenvolvidas duas vacinas contra os tipos mais presentes no câncer de colo uterino (HPV-16 e HPV-18). Mas o real impacto da vacinação contra o câncer de colo uterino só poderá ser observado após décadas. Há duas vacinas comercializadas no Brasil. Uma delas é quadrivalente, ou seja, previne contra os tipos 16 e 18, presentes em 70% dos casos de câncer de colo uterino e contra os tipos 6 e 11, presentes em 90% dos casos de verrugas genitais (doença benigna). A outra vacina é específica apenas para os subtipos 16 e 18.


Tanto quanto importante a vacinação são os exames anuais de Papanicolaou e o tratamento precoce das lesões com alto risco de malignidade. Estes métodos reduzem significativamente a mortalidade por câncer de colo uterino. Porém, grande parte da população brasileira ainda não tem acesso a estes procedimentos.


Portanto, mais do que nunca, neste Carnaval a população não deve se esquecer que o sexo seguro é a melhor maneira de se proteger contra o HPV e das demais doenças sexualmente transmissíveis.


O que você precisa saber sobre o vírus HPV


Mas, o que é realmente importante saber sobre o HPV? O vírus sempre resulta em um câncer? Para tirar essas e outras dúvidas, entrevistamos o médico oncologista Ellias Magalhães e Abreu Lima, da Oncomed BH, que esclareceu as principais dúvidas sobre o assunto.


1. O que é o HPV?


O HPV, Papiloma vírus humano, é uma família de mais de 150 tipos vírus que infectam exclusivamente a pele e mucosas dos seres humanos. Aproximadamente metade das pessoas com vida sexual ativa se infectará por um ou mais subtipos de HPV durante a vida e por isso ele é considerado a infecção sexualmente transmissível mais comum do mundo. Pesquisas recentes mostram que 40% das mulheres são portadoras do vírus no trato genital, ao passo que outros 16% o têm alojado na orofaringe (garganta). O vírus é responsável pelo desenvolvimento de diversas patologias como a verruga vulgar, a verruga plana, o condiloma acuminado (verrugas genitais) e o câncer de colo uterino, canal anal, vulva, vagina, pênis e orofaringe. A maioria dos subtipos de HPV não apresenta potencial para levar ao câncer. Os subtipos mais encontrados nas doenças malignas são 16 e 18.


2. Quais os tipos de exame podem detectar o HPV?


O diagnóstico de infecção pelo HPV é feito através da pesquisa do DNA / RNA do vírus na amostra do tecido da mucosa genital, anal, oral ou outro local suspeito. Não é possível identificar a presença do vírus através de exames de sangue. Isso ocorre porque normalmente a infecção pelo HPV se restringe às camadas mais superficiais do epitélio (tecido de revestimento).


3. A infecção pelo HPV nem sempre resulta em câncer. Nesses casos, o HPV pode causar outro tipo de doença, pode causar infertilidade? Por quê?


Os HPVs são divididos em oncogênicos, aqueles que têm a capacidade de desenvolver câncer, e os não oncogênicos, não relacionados ao desenvolvimento de tumores. Alguns subtipos não oncogênicos têm predileção pela pele, neste caso levando ao aparecimento de verrugas comuns, planas e plantares (nas plantas dos pés). Outros subtipos têm tropismo pela pele e mucosas da região anogenital. Os sítios mais comuns de infecção são o pênis, o escroto, a região perianal, o canal anal, a vulva, o introito vaginal e o colo uterino. Levam ao aparecimento das verrugas genitais (condiloma acuminado). O HPV pode infectar a cavidade oral, levando ao aparecimento de lesões potencialmente malignas.


O HPV não é responsável direto por infertilidade na mulher. Entretanto, HPVs oncogênicos podem levar ao aparecimento de câncer e o tratamento da doença, muitas vezes envolvendo cirurgia (retirada de útero e ovários), radioterapia e quimioterapia pode levar à esterilidade feminina.


4. O que a mulher pode fazer para evitar a contaminação?


A principal forma de transmissão do HPV é o intercurso sexual, seja ele genital, anal ou oral. Assim sendo, a maneira mais eficaz de se evitar a infecção pelo HPV é a abstenção do contato sexual com outra pessoa. Para aqueles com vida sexual ativa, uma relação monogâmica duradoura com parceiro não infectado é a estratégia mais provável de prevenir o contágio. O problema é que, por tratar-se de infecção assintomática, é difícil determinar se o parceiro que teve vida sexual ativa no passado está ou não infectado pelo HPV. Pesquisas mostram que o uso correto e consistente de preservativos pode diminuir as chances de contaminação.


5. Além do sexo, há outras formas de transmissão do HPV?


5. A forma mais comum de contágio do HPV é o contato íntimo pele / pele, no caso das verrugas da pele, e o intercurso sexual (genital, anal ou oral), no caso das cepas anogenitais. Beijar ou tocar a genitália do parceiro com a boca também pode transmitir a infecção. 16% da população possui o vírus alojado na garganta. O HPV não é transmitido pelo sangue.


6. Quais os sintomas do HPV?


Lesões do HPV no colo uterino raramente determinam sintomas. Na maioria das vezes são descobertas ocasionalmente através do exame preventivo de papanicolau. Verrugas genitais podem causar prurido, sensação de queimação e eventualmente levar a sangramentos durante o ato sexual. Elas são associadas a depressão, disfunção sexual, sentimento de culpa, vergonha, medo da rejeição pelo parceiro e perda da sexualidade.


7. Como é feito o tratamento do HPV?


Diferentemente das bactérias, vírus não são destruídos por antibióticos. Atualmente não existem medicamentos capazes de eliminar a infecção pelo HPV. O tratamento dependerá do tipo de lesão e, no caso do câncer, da extensão da doença.


Tentar remover as verrugas genitais manualmente nem sempre elimina o HPV e as lesões podem reaparecer. Tratamentos com agentes químicos podem ser dolorosos, deixar cicatrizes e causar embaraço. Podofilina e ácido tricloroacético são capazes de destruir as verrugas genitais externas, embora várias aplicações possam ser necessárias. Dependendo do tamanho, localização e quantidade das lesões outras opções terapêuticas podem ser necessárias. São elas: Crioterapia (lesão por congelamento utilizando-se nitrogênio líquido); eletrocauterização (lesão por corrente elétrica); laser (lesão por calor).


O câncer de colo uterino em seus estágios iniciais é tratado cirurgicamente. Esses procedimentos podem preservar ou não estruturas fundamentais para manter a fertilidade feminina. A medida que o tumor avança, as chances do tratamento levar a infertilidade aumentam. Tumores mais avançados geralmente são tratados utilizando quimiorradioterapia.


8. Para quem cada uma das vacinas anti-HPV (bivalente e quadrivalente) é indicada e quando a mulher pode tomá-la (a partir do início da vida sexual ou a partir de uma certa idade)?


A chamada de vacina quadrivalente, é ativa contra quatro subtipos de HPV: 6, 11, 16 e 18. Os dois primeiros são agentes etiológicos das verrugas genitais, enquanto os subtipos 16 e 18 são os principais causadores do câncer de colo uterino e canal anal. A vacina é aplicada em três doses ao longo de seis meses. Usualmente a segunda dose é dada dois meses após a primeira e a terceira dose quatro meses após a segunda. A faixa etária recomendada para a aplicação da vacina é de 9 a 26 anos.


Já a vacina conhecida como bivalente, confere proteção para dois subtipos de HPV oncogênicos: as cepas 16 e 18. Está aprovado seu uso em mulheres de 9 a 25 anos para a prevenção de câncer de colo uterino. Sua aplicação também se dá em três doses no decorrer de seis meses. Se possível, a vacina deve ser aplicada antes do início da vida sexual para conferir imunidade à mulher desde o primeiro intercurso sexual.

Serviço:
Oncomed - Centro de Prevenção e Tratamento de Doenças Neoplásicas (www.oncomedbh.com.br)


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