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Cadê a graça?

18 out 2005 às 11:00
Ronald Golias: um dos últimos expoentes do humor de personagem - Divulgação
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Dias atrás morreu aos 76 anos Ronald Golias. Comediante de muitos programas como "Família Trapo", "A praça é nossa" e "Escolinha do Golias". Golias era, assim como Chico Anysio, criador de inúmeros personagens: Pacífico, Bronco, Professor Bartolomeu e o Mestre. Sua morte acentua ainda mais o processo de extinção do humor de personagens que a televisão brasileira enfrenta. Seria esse processo uma crise ou apenas a transformação do humor brasileiro?

O fato é que olhando a grade semanal de programas humorísticos na televisão, há pouquíssimos que ainda provocam risadas nos telespectadores. A maioria deles chega a ser constrangedor de tão sem graça, com quadros que beiram o ridículo. Besteiras que nos fazem acreditar que nossos comediantes perderam a noção ou a inspiração.

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A própria "Praça é nossa", onde Golias era uma das estrelas, continua o mesmo modelo de meio século. Quando mais jovem costumava achar bem engraçado personagens como Dona Vamércia e a Velhinha surda. Hoje o programa é uma sucessão de quadros idênticos, desgastados e monótonos. Assistiu um, assistiu todos. Será que nós, telespectadores, enjoamos da fórmula e ficamos mais exigentes ou foram os roteiristas e escritores que foram piorando ao longo do tempo?

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No mesmo horário da Praça há o "Zorra Total", que leva o título de pior programa de humor da tv brasileira. Artistas consagrados como Nair Bello, Jorge Dória, Agildo Ribeiro, Pedro Bismarck e até mesmo Chico Anysio são totalmente subaproveitados. Todas as piadas giram em torno de sexo. Ou é o caso clássico do bobão casado com uma gostosona ou o velho assanhado que dá em cima das jovenzinhas que mal saíram da puberdade. Assistir isso todo fim de semana é uma punição. Onde foi que nós, meros espectadores erramos? Estranho que o público da Zorra Total é composto em sua maioria por crianças e casais mais velhos, exatamente o público que está em casa no sábado à noite, esse mesmo público que, teoricamente, é o que menos deve gostar de piadas sexuais. Alguma coisa errada nisso? Será?

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Entre os bons exemplos nessa mesma rede de TV temos os seriados "A grande família" e "A Diarista". Com o fim do ótimo "Os Normais", essas séries detém hoje o título de melhores seriados humorísticos da TV. As duas apostam num grande elenco e uma forma simples e eficiente que vem garantindo bons níveis de audiência: típicos brasileiros de classe média com todos seus estereótipos. Há também de leve alguma crítica social, caso do episódio "O Pastelão do Beiçola" da Grande Família, que criticava claramente o caso do mensalão.


O "Casseta e Planeta" é outro programa que vem melhorando consideravelmente. Depois de passar por uma crise criativa que durou uns 5 anos, o programa volta a provocar risadas, mas ainda está longe do sucesso que obtinha quando estreou. Até a Maria Paula começou a ficar mais simpática, mas isso só em alguns instantes.

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Tom Cavalcante também vem oscilando bons e maus momentos. Seu forte é a sátira. Quadros como da CPI, Faustão, o Infeliz são hilariantes. Até mesmo Tiririca volta a ser engraçado nessas situações. Suas imitações da senadora Heloísa Helena são de chorar de rir. Mas, infelizmente não é sempre que ele acerta a mão. Quadros um tanto quanto jacus como "esta é a sua vida" e um concurso de piadas que não tem nada a ver com o seu programa são incompreensíveis.


O título de mais inovador e irreverente humorístico fica com "Pânico na TV". A experiente trupe de humoristas tira sarro de tudo e de todos. O programa tem um ritmo bem ágil, basta mudar para o Faustão que é exibido no mesmo horário, para você morrer de sono e tédio. Emílio, Bola e companhia vem até criando modismos. O "pedala Robinho" é uma febre nacional. Os episódios políticos são os que geram as melhores piadas. O quadro com os repórteres travestidos de Lula, Roberto Jefferson e Enéas tem garantido ótimas risadas. Recentemente a diversão deles era passar pulando por de trás dos repórteres que faziam cobertura ao vivo do caso Maluf. Molecagem infantil diriam alguns, mas que o público adora. Os episódios das "sandálias da humildade" com Clodovil e Carolina Dieckman só fortaleceram o programa como um dos mais iconoclastas da televisão, chamando atenção para esse novo jeito de fazer rir, um tanto quanto extravagante e muitas vezes desrespeitoso.

Fazia tempo que o humor brasileiro precisava de uma renovação. Talvez "Pânico na TV" seja um passo importante para isso. Parece que chefões das emissoras de TV ainda procuram o novo Didi Mocó ou o Costinha do amanhã, mas o público já vem dando provas que está cansado dos mesmos formatos. Trapalhões, Chico City, Praça é Nossa, Viva o Gordo eram ótimos programas em sua época, mas hoje ninguém mais quer saudosismo.


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