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Maurício de Sousa para os íntimos

12 abr 2006 às 11:00

Em "Derrotista", Joe Sacco mostra o lado irreverente do hoje engajado jornalista-cartunista
- Reprodução
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Curitiba - Muitos não gostam dele, alguns o chamam de ''vendido'', outros o tratam como um verdadeiro mestre. Opiniões à parte, dois pontos são indiscutíveis sobre seu trabalho: Maurício de Sousa tem talento e continua sendo a largada para a maioria dos iniciantes nos quadrinhos, e até mesmo em qualquer tipo de leitura, no Brasil e em vários países. Assim, nada mais justo que uma homenagem ao autor, através da edição Maurício, Quadrinho a Quadrinho - A História da Paixão do Criador da Turma da Mônica Pelos Gibis, escrito pelo jornalista Sidney Gusman e lançado este mês pela editora Globo.

Maurício de Sousa nasceu em Santa Izabel, no interior de São Paulo, em 1935, e foi levado ainda na infância para Mogi das Cruzes, quando teve acesso a revistas como Globo Juvenil, Gibi. Mais tarde, passou a acompanhar outro tipo de quadrinho, como Príncipe Valente e Capitão América, entre outros. Ali nascia a paixão do quadrinhista mais bem-sucedido do Brasil.

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Suas criações, Mônica, Magali, Cebolinha, Cascão, Chico Bento e vários outros personagens já atingiram três gerações, desde 1959, e hoje podem também ser acompanhadas em diversos países, como Itália, Japão, Indonésia, Estados Unidos, Portugal, Coréia do Sul, Bélgica e por aí vai, mundo afora. Além de conseguir gerar uma identidade nacional para o quadrinho infantil, o autor é fundamental para a iniciação de novos leitores no setor.

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Tudo isso e a mais completa biografia já compilada sobre o criador está no livro, idealizado por Sidney Gusman, com a bênção de Maurício de Sousa, autor do prefácio. É importante aqui destacar que Gusman, conhecedor de quadrinhos -tanto os estrangeiros quanto os nacionais-, como poucos, tem bagagem e autoridade suficiente para escrever sobre o assunto, pois é um dos mais importantes jornalistas no setor, colaborador da revista especializada Wizard e editor do site Universo HQ (www.universohq.com).

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A obra traz toda a trajetória de Maurício até os dias atuais, ilustrada com fotos do arquivo pessoal do artista e as revistas citadas pelo texto. Também conta com comentários pra lá de interessantes sobre criações de outros autores clássicos e contemporâneos.


Veja o que Maurício pensa, por exemplo, sobre o mestre Will Eisner: ''A forma como Eisner fazia 'O Espírito' (Spirit) me fascinou desde pequeno. A criatividade e o desrespeito que tinha com padrões gráficos dos quadrinhos da época eram ousadia pura. Nada era certo, igual ou óbvio. Tudo apresentava um grafismo lindo, um ritmo maravilhoso. Era inusitado''.

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A edição também traz comentários do autor sobre um personagem que gostaria de ter criado, Calvin & Haroldo, de Bill Waterson: ''Calvin é relativamente novo, mas é maravilhoso! Graficamente é lindo, adoro o desenho de Waterson. E as piadas são tão inteligentes quanto divertidas. Se há algum personagem que eu gostaria de ter criado, é o Calvin''.


E Maurício ainda fala sobre muitas outras coisas, outros personagens e autores, como Luluzinha, Mafalda, Capitão Marvel, Angeli, Laerte, Henfil, Milo Manara... O resto você terá que ver por si mesmo no belo livro, com capa dura, e excelente impressão da editora Globo.

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Derrotista - Joe Sacco ficou conhecido nos anos 90 por estabelecer de vez o jornalismo nos quadrinhos, depois das experiências realizadas na década anterior, por Art Spiegelman, em Maus. Autor de novos clássicos como Palestina - Uma Nação Ocupada e Área de Segurança Gorazde - A Guerra na Bósnia Oriental, Sacco vem colecionando prêmios com seu cartoon journalism. Mas nem tudo é tão sério e engajado na vida do escritor e desenhista, como mostra seu mais novo trabalho, lançado no Brasil pela Conrad Editora. Derrotista traz uma versão pra lá de irreverente do quadrinhista.


Antes de iniciar sua jornada antiguerra, retratando os efeitos da violência em áreas de conflito, Sacco não passava de um promissor artista editando histórias curtas na revista Yahoo, entre 88 e 92. Durante esse período, o autor trouxe trabalhos bem diferentes dos atuais, destilando acidez e humor negro em uma fase bastante despretensiosa. Sua narrativa autobiográfica com a viagem pela Europa junto de uma banda de rock, as aventuras amorosas, assim como a difícil vida de estudante e de bibliotecário, arracam risadas até dos mais sisudos leitores.

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O traço, bastante rebuscado, cheio de hachuras em preto-e-branco, aliado ao sarcasmo do roteiro, remetem à inevitável comparação aos trabalhos de Robert Crumb. A referência, no entanto, não deixa de ofuscar o brilho próprio conquistado por Sacco e surge aqui para destacar ainda mais o material de um autor que usa das ferramentas do quadrinho underground para lapidar o diamante bruto extraído de sua mente.


Serviço: Mauricio - Quadrinho a Quadrinho, sai pela Editora Globo, tem formato 19 x 27,5 cm, 112 páginas coloridas e capa dura, a R$ 39,90. Derrotista, da Conrad Editora, tem formato 18 x 27 cm, 224 páginas, e custa R$ 35.

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O povo quer saber: Alguma editora vai trazer Fell, quadrinho alternativo de Warren Ellis (Transmetropolitan) e Ben Templesmith (30 Dias de Noite), em formato inovador nos Estados Unidos, para o Brasil?


A revistas citada acima podem ser encontradas em Curitiba na Itiban Comic Shop: Av. Silva Jardim, 845. Fone: (41) 3232-5367.

Música+Quadrinhos: Rolling Stones+Derrotista


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