Quadrinhos

HQ Tintim completa 75 anos de aventura

16 jan 2004 às 10:59

Nem Batman, Super-Homem, Capitão América ou Homem-Aranha. O primeiro grande herói das histórias em quadrinhos completa, neste mês, 75 anos, o jovem jornalista e aventureiro Tintim, criação do belga Georges Remi.

Em 1929, enquanto os Estados Unidos vivia intensa crise - principal causa da gêneses de super-heróis, como Super-Homem, um ser quase onipotente com poder de solucionar todos os problemas da época -, a Europa fervia com o avanço do capitalismo e também com os resquícios da Primeira Guerra Mundial. Além disso, a briga pelo avanço colonialista levava, aos poucos, os países ao período pré-Segunda Guerra Mundial.


Nesse contexto, surge o primeiro heróis das histórias em quadrinhos, que aos poucos, através dos jornais, populariza-se no mundo todo. Ele não era super, mas tinha todos os requisitos para se tornar uma referência da época: inquieto, Tintim sempre buscou com muita astúcia e coragem se superar a cada aventura, em suas jornadas pelo desconhecido. O topete loiro virou símbolo de aventuras intermináveis em cenários bastante reais.


O autor, Georges Remi - que assumiu o pseudônimo de Hergé - mostrava com sensibilidade e muita fidelidade as paisagens de vários países europeus, fruto de suas viagens na juventude. E a fórmula utilizada pelo autor virou até mesmo uma técnica da arte sequencial: o personagem, icônico e mostrado de forma caricaturizada, ganhava identificação com qualquer leitor; por outro lado, Hergé gostava de retratar cada locação com propriedades únicas, como se convidasse o leitor a viajar para esses lugares exóticos em cada aventura.


Além do espirutuoso Tintim que teve seu nome original (Tintin, leia-se ''Tantan'') modificado na língua portuguesa e seu fiel escudeiro, o cão Milú, as histórias também contavam com outros ótimos personagens de suporte.


Diferente dos super-heróis, todos tinham seus defeitos, por isso eram mais humanos, e logo ganharam o carisma dos leitores. O Capitão Haddock, um aspirante a lorde inglês que sempre luta para se manter sóbrio; o Professor Girassol, marca registrada dos gênios que inventam soluções para a humanidade mas conseguem se esquecer de coisas pequenas; Bianca Castafiore, uma péssima cantora de ópera; o chinesinho simpático Tchang; Dupont e Dupond, uma dupla de detetives atrapalhados; Séraphim Lampion, esportista e inconveniente por natureza, entre outros.


A gama de esterótipos aumentava a cada vez que Hergé diminuia sua visão colonialista e a globalização, ainda nos primeiros passos, avançava. Por isso, a Europa e seus povos, aos poucos, foram deixando de ser o centro das atenções para dar mais espaço a outras culturas.


Muito do que pode ser visto nas aventuras de Tintim também revelam o período histórico pela qual o autor passava. Não é difícil encontrar críticas ao modelo político adotado pela então União Soviética e também a idéia colonialista vigente da então grande potência européia, principalmente sobre a América e a África. Por isso, Asterix, ao lado de Tintim, são considerados álbuns pedagógicos, já que muito da história da humanidade pode ser contemplado em cada edição.


Mesmo após a morte de Hergé, em 1983, os álbuns de Tintim passaram a figurar entre os clássicos das histórias em quadrinhos. Apreciado pelo diretor Steven Spielberg, pelo artista plástico Andy Warhol e até mesmo pelo Dalai Lama, Tintim invadiu o mundo, dentro e fora da revistas de papel, e até mesmo ganhou um desenho animado. Neste ano, a companhia de teatro suíça Am Stram Gram, adaptou o álbum ''As Jóias de Castafiore'' para os palcos de teatro, numa peça de duas horas de duração.


Hergé chegou a ser homenageado, no ano passado, com o nome de uma rua na cidade de Angoulême, na França. O personagem também não poderia ficar de fora da grande rede e o site www.tintin.be é repleto de informações para os fãs e novos leitores.

A primeira aventura de Tintim, ''Aux Pays Des Soviets'', nunca foi editado em português. ''Tintim no Congo'' (1931), ''Tintim na América'' (1932), ''Os Charutos do Faraó'' (1934), ''O Lotus Azul'' (1936), ''O Ídolo Roubado'' (1937), ''A Ilha Negra'' (1938), ''O Cetro de Ottokar'' (1939), ''O Caranguejo das Tenazes de Ouro'' (1941), ''A Estrela Misteriosa'' (1942), ''O Segredo do Licorne'' (1943), ''O Tesouro de Rachkam, o Terrível'' (1944), ''As Sete Bolas de Cristal'' (1948), ''O Templo do Sol'' (1949), ''O País do Ouro negro'' (1950), ''Rumo à Lua'' (1953), ''Explorando a Lua'' (1954), ''O Caso Girassol'' (1956), ''Perdidos no Mar'' (1958), ''Tintim no Tibete'' (1960), ''As Jóias da Catasfiore'' (1963), ''Vôo 714 para Sydney'' (1968), ''Tintim e os Picaros'' (1976) e o inacabado ''Tintin et l'Alph-Art'' (1986). Uma biblioteca não muito extensa, mas bastante rara, já que o a cada fica fica mais difícil encontrar alguém com o talento de Hergé.


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