Curitiba - ''Todo mundo que veste um traje destes pinta um alvo no peito de sua família''. As palavras de Ralph Dibny, o Homem-Elástico, lembradas outras vezes por Superman, resumem a preocupação dos super-heróis com seus entes queridos. E se um dia alguém que descobrisse as identidades secretas dos vigilantes multicoloridos decidisse fazer uma contagem de corpos com seus familiares? Essa é uma das tramas de ''Crise de Identidade'', minissérie que chega agora ao Brasil e vai revolucionar o Universo DC Comics, de Batman e Cia.
Quando foi lançada nos Estados Unidos, há pouco mais de um ano, ''Crise de Identidade'' era alardeada como o grande evento da temporada, principalmente com o anúncio da morte de personagens imprescindíveis no Universo DC. Tempestade em copo d'agua à parte, a produção realmente ''matou'' vários coadjuvantes. No entanto, o mais importante não passa a ser as novas ausências, e sim a possibilidade de uma visão inovadora sobre os super-heróis.
O romancista Brad Meltzer, famoso por suspenses policiais e que fez uma boa estréia nos quadrinhos com ''Arqueiro Verde: A Busca'' (também disponível no Brasil), fez um ótimo trabalho, apesar de decepcionar alguns leitores na conclusão da minissérie. O bom desenvolvimento do papel de cada personagem na trama, a intrigante identidade de um assassino dentro da Liga da Justiça e o conflito interno no maior supergrupo de heróis da DC Comics, devido a um segredo guardado há anos, faz da produção o melhor lançamento nas histórias do gênero este ano por aqui.
Os traços de Rag Morales seguem o estilo de Meltzer e busca o realismo, mesmo respeitando o estilo fantástico do universo de super-heróis. A dramaticidade nas expressões faciais são seu forte e reforçam a atmosfera mais sombria sugerida pelo escritor, tanto é que a mini é desaconselhável para menores de 18 anos.
O trabalho foi tão bem recebido por crítica e público que reverbera até hoje no Estados Unidos: foi o ponto de partida para dezenas de outras histórias interligadas, que vão culminar em ''Crises Infinitas'', mais uma reformulação em todo o Universo DC, uma continuação de ''Crises nas Infinitas Terras''.
Rolando - A editora Via Lettera trouxe ao Brasil no mês passado a primeira publicação dos gêmeos paulistanos Fábio Moon e Gabriel Bá. Enquanto ainda começavam a popularizar suas histórias com o fanzine ''10 Pãezinhos'', ambos já exportavam seus traços para o mercado norte-americano, em 1999.
Rolando, escrito por Shane Amaya, traz uma versão do épico medieval francês ''A Canção de Rolando'': o sacrifício de Hroulandus (Rolando), capitão do exército conquistador de Carlos Magno, em batalha nos terrenos entre Espanha e França, no ano de 778 d.C. O que se segue é uma história de vingança, heroísmo, traição, fé e lealdade.
O roteiro de Amaya é empolgante e só pela preocupação em imortalizar em quadrinhos uma história lendária, que sobreviveu 300 anos apenas na linguagem oral, já vale ao menos uma boa olhada de perto no material. Os mais acostumados aos textos dinâmicos vão estranhar um pouco mas os fãs de épicos medievais têm um prato cheio nas mãos.
O traço dos gêmeos, ainda em evidente evolução nessa época, estão ainda um pouco ''verdes'' e não tão confortáveis quanto nas histórias urbanas que costumam fazer atualmente. A arte-final, em especial, revela indefinição em busca de um estilo próprio, que hoje ambos apresentam em álbuns como ''Crítica''. No entanto, os mais atentos vão perceber, como os próprios autores reconhecem, a mesma composição dramática na narrativa, um dos pontos fortes da edição.
Serviço: ''Crise de Identidade'' é minissérie em sete edições, pela Panini Comics. O número um tem 44 páginas, no formato americano (17 x 26 cm), e custa R$ 5,50. ''Rolando'', da editora Via Lettera, tem 118 páginas, também no formato americano, a R$ 47.
Ambas as publicações citadas acima podem ser encontradas em Curitiba na Itiban Comic Shop: Av. Silva Jardim, 845. Fone: (41) 3232-5367.
Música+Quadrinhos: Crise de Identidade+PJ Harvey