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Ellis perturba em Estranho Beijo

16 out 2003 às 19:12
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Com certeza um dia você já sentiu sua pele arder e sentiu o cheiro de seus pêlos queimar quando foi tocado por algo muito quente. Mas um dia tentou imaginar como seria ter o corpo todo sendo incinerado? Ou já pensou em como se sentiria ao se afogar? E se pegasse ebola, como seria se sentir como uma polpa de sangue prester a explodir? Essas são, exatamente, as idéias que povoam Estranho Beijo (Strange Kiss), história de Warren Ellis e Mark Wolfer, e que chega ao Brasil neste mês pela editora nacional Pandora Books.

Ellis ficou famoso por sua forma politicamente incorreta de contar histórias, com um texto visceral em intensos ataques ao atual status quo da sociedade e de como o mundo sobrevive ao caos cotidiano que assola as grandes cidades. Sua obra mais famosa é Transmetropolitan, em que narra a trajetória de um jornalista num futuro apocalíptico bem próximo e parecido com a nossa atual realidade.

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Seus roteiros têm semelhança direta com Alan Moore (A Piada Mortal, V de Vingança, Watchmen), Grant Morrison (Os Invisíveis, Os Novos X-Men) e Garth Ennis (Preacher, Hellblazer): a ultraviolência, humor negro e personagens à beira da loucura, sempre em tom perturbador.

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A diferença de Ellis está em seus questionamentos - sempre presente em suas obras - sobre o futuro da humanidade e até onde o medo e a insanidade podem reger os atos de uma pessoa. Não é à toa que suas revistas geralmente são rotuladas no gênero splatterpunk: difícil não ver sangue jorrando e a contestação da estrutura social através de personagens que buscam a solução através de atitudes radicais e revolucionárias.

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E é sobre isso que Estranho Beijo fala. Eventos incomuns começam a acontecer quando, em uma perseguição de carros, um homem morre e sua assassina corta a própria face com uma faca em plena luz do dia, em frente a uma multidão no centro de uma grande cidade. Aterrorizados com o fato, as autoridades locais buscam investigadores para desvendar o mistério. É quando entra em cena a polícia local, que logo percebe uma ameaça ainda maior. Com requintes de filmes como A Experiência e Aliens, Estranho Beijo impressiona pela forma em que os diálogos sujos e ágeis mesclam-se com facilidade à ação.


A única deficiência da revista está na arte, que poderia dar um clima mais apropriado para o texto de Ellis. Wolfer não ousa e está muito preso ao gênero de super-heróis. Além disso, com os desenhos em preto-e-branco, a arte-final nada mais é do um leve sombreamento em tons de cinza. Mas o que mais deixa a desejar na narrativa visual está nas sequências de ação: o artista não consegue cadenciar ou acelerar o ritmo de forma ideal e muitas vezes algumas passagens são um tanto confusas.


O preço da revista também é um pouco salgado, R$ 14,90 para uma revista em lombada quadrada e formato 16,5cm x 25 cm, com 76 páginas de interior em preto-e-branco. No entanto, deve-se dar um ponto positivo para a editora Pandora Books: é preciso ter coragem para publicar um material alternativo (do pequeno selo norte-americano Avatar Press) e relativamente caro como este por aqui. E, ainda que aterrorizante, ácido e perturbador, Estranho Beijo é uma impressionante história que vai agradar aos fãs dos quadrinhos adultos, especialmente os fãs de horror e ficção científica.

Música+Quadrinhos: Placebo+Estranho Beijo


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