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Caixa Cultural apresenta O Documentário Britânico

19 mai 2011 às 13:26
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Mostra exibe clássicos da produção documental da Grã-Bretanha dos anos 1930 ao período do Free Cinema, em 1960

O documentário nasceu junto com o cinema. As primeiras imagens em movimento registravam acontecimentos reais – a saída de uma fábrica, a passagem de um trem, etc. Mas foi somente na década de 1930 que o documentário ganhou identidade. E devido ao trabalho do que passou à história como Movimento Documentarista Britânico, encabeçado por John Grierson. Grierson considerava o documentário um tipo de filme superior, por usar formas criativas para trabalhar com material real. Só em 1960, despontará um grupo que se opõe à ortodoxia do documentário clássico, com nomes como Lindsay Anderson apostando na liberdade poética. Agora, uma mostra vai exibir, pela primeira vez no Brasil, uma seleção da produção documental britânica, dos anos 1930 a 1960, permitindo o acesso do espectador ao trabalho de John Grierson, Anderson e seus conterrâneos. O DOCUMENTÁRIO BRITÂNICO, com curadoria do professor e crítico Sérgio Moriconi, estará em cartaz de 24 a 31 de maio, no Teatro da Caixa em Curitiba (Rua Conselheiro Laurindo, 280, Centro).

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Serão exibidos 36 títulos, entre curtas, médias e longas-metragens, produzidos nos períodos entre guerras e pós-Segunda Guerra Mundial na Grã-Bretanha, chegando ao chamado Free Cinema. Logo após a sessão de abertura, haverá uma conversa aberta ao público, reunindo o curador, Sérgio Moriconi, e o cineasta Luciano Coelho.

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Ao longo de uma semana, será possível assistir a clássicos da produção documental mundial, como Britânicos (People of Britain), de Paul Rotha, de 1936, conhecido como "o filme da paz", por incentivar a população a reivindicar a paz e não a guerra; Drifters, de John Grierson, de 1929, que é propositalmente mudo, ganhando assim grande contundência ao mostrar a vida difícil dos pescadores de arenques; Grã-Bretanha Industrial (Industrial Britain), de Robert Flaherty, de 1931, um divisor de águas da linguagem do documentário por combinar pensamento artístico e intenção social; e Problemas de Habitação (Housing Problems), de Arthur Elton e Edgar Anstey, de 1935, está no catálogo do cinema britânico, por inovar ao colocar os entrevistados dando seus depoimentos direto para a câmera, inédito na época.

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Do período do Free Cinema estão exemplos memoráveis como Menos no Natal (Every day except Christmas), de Lindsay Anderson, grande vencedor do Festival de Veneza de 1957, que celebra a "poesia da vida cotidiana", ao exaltar a dignidade do trabalho dos carregadores do mercado Convent Garden; Os Garotos de Lambeth (We are the Lambeth boys), de Karel Reisz, de 1959, sobre os adolescentes comuns de Londres e que rendeu até continuação 30 anos depois pela BBC; e o mais recente deles, Dia de Festa (Gala Day), de John Irvin, de 1963, que utiliza várias técnicas do Free Cinema, como câmera na mão e uso criativo do som não sincronizado.


UM POUCO DE HISTÓRIA

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O movimento do documentário inglês surge a partir da percepção da necessidade de criar uma cinematografia – segundo os termos de John Grierson – "voltada para a promoção da integração social e de uma cidadania madura". Com o fim da primeira grande guerra, a Inglaterra se viu numa desesperadora depressão econômica. Com o seu parque industrial destroçado, o país se surpreendeu invadido por produtos estrangeiros, especialmente norte-americanos, obrigando as autoridades responsáveis pelas finanças do país a buscar uma drástica saída para a mentalidade liberal dominante, favorável ao livre comércio. O impasse só poderia ser revertido com uma reforma tarifária juntamente com uma agressiva campanha publicitária visando conquistar o gosto dos consumidores pelos produtos do Império Britânico.


O cinema foi o instrumento escolhido para colocar adiante um amplo programa de educação. Sob a supervisão do EMB (Empire Marketing Board), Grierson deu o primeiro passo realizando a obra-prima Drifters (1928), sobre a pesca no Mar do Norte e o escoamento dessa produção para consumo no continente. O forte impacto do filme fez com que Grierson pudesse criar uma unidade cinematográfica no EMB e levar adiante seu projeto de filmes educativos, mesmo com a eclosão da recessão dos anos 30 que desativou essa unidade. Seu prestígio possibilitou a transferência de todo o grupo de documentaristas para a GPO (General Post Offce). Na GPO, como produtor, John Grierson garantiu a realização de obras fundamentais do documentário, assinadas por diretores que passaram à história.

Várias circunstâncias explicam o surgimento do Free Cinema. No início de 1956, um grupo de jovens cineastas lutava para poder mostrar seus filmes, realizados com parcos recursos. Tinham a intenção de contestar o modelo adotado há pelo menos duas décadas a partir das idéias de John Grierson. Lindsey Anderson (responsável pela expressão "free cinema"), Karel Reisz, Tony Richardson e Lorenza Mazzetti, que formavam o núcleo inicial do movimento, tinham um pensamento e uma atitude em comum: adotaram o termo "free" porque queriam um cinema livre das pressões da bilheteria, assim como da propaganda do Estado, independentemente dela ter a melhor das intenções do mundo. O Free Cinema queria fazer o retrato – a sociologia - das pessoas comuns.


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