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Variação linguística - Parte I

12 jun 2009 às 10:10
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A língua não é una (com N mesmo), ou seja, não é indivisível; ela pode ser
considerada um conjunto de dialetos. Alguém já disse que em país algum se fala
uma língua só. Há várias línguas dentro da oficial. E no Brasil não é diferente.

Cada região tem seus falares, cada grupo sociocultural tem o seu. Pode-se até
afirmar que cada cidadão tem o seu. A essa característica da Língua damos o
nome de variação linguística.

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Qualquer cidadão, quando resolve emitir algumas palavras, faz isso não
isoladamente. As frases ditas por cada um de nós não são construídas por nós
próprios, mas sim por tudo o que nos fez tornar o que somos hoje: nossa
família, a terra em que nascemos e em que vivemos, as escolas em que
estudamos (principalmente nas séries iniciais), as pessoas com as quais
convivemos, os livros que lemos, os filmes a que assistimos, enfim, nossa
maneira de falar é formada, não é criada. E é formada pouco a pouco. Aliás,
nunca é totalmente acabada.

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Terra sem cultivo não produz; tampouco a mente.


Imagine um idoso que nunca aprendeu a ler nem a escrever entrando em
contato com as letras; seu mundo se transformará. Ele se apoderará de um
conhecimento nunca antes imaginado. Passará a usar expressões desconhecidas
até então e se tornará um cidadão de fato. O mesmo acontece com os
indivíduos que aprenderam a ler e a escrever, mas que não leem nem escrevem
jamais. Se passarem a entrar em contato com o mundo das letras, por meio de
romances, contos, textos filosóficos, poesias e textos jornalísticos, transformarão
sua visão de mundo e passarão a ter um novo falar, uma vez que terão o que
falar: aquilo que leram. Ler é, portanto, essencial para o desenvolvimento
intelectual de cada um de nós.

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VARIAÇÃO DIATÓPICA


O assunto de hoje é, porém, as diversas variedades linguísticas existentes em
uma língua. A mais evidente é a que corresponde ao lugar em que o cidadão
nasceu ou no qual vive há bastante tempo, chamada de "diatópica": dia- =
através de; tópico = lugar. Há jeitos de pronunciar as palavras, há melodias
frasais diferentes de região para região. A variação diatópica mais famosa do
Brasil é o "s" chiante do carioca da gema.

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Chiante não é depreciativo ao modo de falar do carioca, e sim um termo usado
na fonologia – ou fonética – que representa um som cujo ponto de articulação é
pré-palatal, como ocorre nas palavras "chá" e "já". É assim que o carioca
pronuncia o "s". E "da gema" significa "sem mistura, genuíno, puro". Carioca da
gema, portanto, é o cidadão nascido na cidade do Rio de Janeiro; não aquele
que para lá foi ou que lá vive há muitos anos.


CARRRRRNE

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Outra variação diatópica bastante perceptível pelo visitante é o "r" retroflexo do
londrinense quando pronuncia palavras como "porta, carne, certo" e do
piracicabano quando pronuncia as mesmas palavras do londrinense e também
as que têm "r" entre vogais: "cara, cera, tora".


Retroflexo significa "curvado para trás, flexionado para trás". É o que acontece
com a língua quando ocorre a pronúncia das palavras apresentadas: a ponta
dela é flexionada para trás, às vezes até exageradamente. É uma pronúncia
idêntica à de "car" em Inglês.

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Também o "l" (letra ele), na região de Pato Branco, PR, que é alveolar, mesmo
antes de consoante e no final da palavra. Alveolar é o nome dado à consoante
que, quando pronunciada, é articulada com a ponta da língua próxima ou em
contato com os alvéolos dos dentes incisivos superiores (o céu da boca). Na
região de Pato Branco, pronuncia-se a letra "ele" de "alto" da mesma forma que
o "ele" de "alô".


MACAXEIRA, MANDIOCA OU AIPIM?

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A variação diatópica pode não ser de som, mas sim de vocabulário, ou seja, de
palavras diferentes em sua estrutura. Por exemplo, em Curitiba, PR, os jovens
chamam de "penal" o estojo escolar para guardar canetas e lápis; no Nordeste, é
comum usarem a palavra "cheiro" para representar um carinho feito em alguém;
que em outras regiões se chamaria de "beijinho". Macaxeira, no Norte e no
Nordeste, é a mandioca ou o aipim.


A variação diatópica pode não ser de som nem de vocabulário. Pode estar na
estrutura frasal, ou seja, na frase toda. Em algumas regiões brasileiras é comum
utilização do pronome "tu"; em outras, não. No Maranhão, no Espírito Santo e no
Rio Grande do Sul, um cidadão diria o seguinte: "Tu já estudaste Química?" Na
maioria dos outros estados, o cidadão diria assim: "Você já estudou Química".


Conhecer maneiras de falar de cidades ou de regiões brasileiras é aprimorar-se
culturalmente, é aumentar a bagagem de conhecimento de mundo, o que auxilia
na formação completa do indivíduo.

Na próxima semana trataremos de outras variações linguísticas.


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