FILOSOFIA NÃO SE ESTUDA; FILOSOFA-SE.
Para Kant, filósofo alemão, Filosofia não se estuda, e sim filosofa-se, ou seja, é
mais profícua a reflexão acerca dos próprios pensamentos e dos acontecimentos
do mundo, do que o estudo da Filosofia, como se faz com Português ou
Matemática. Lógico que todo estudo é bem-vindo, pois quanto mais se estuda,
mais conhecimento se adquire. E o conhecimento é a base para o
desenvolvimento pessoal. Deve-se estudar Filosofia, sim, mas, se só houver o
estudo sistemático, sem a adequada prática filosófica, será mera memorização
de conteúdos, enquanto que, se houver a prática reflexiva, no mínimo passará a
haver uma preocupação com o próprio pensamento.
Pensar não é fácil. Deixar que os pensamentos passem por nossa mente nem
hábito é, pois não temos domínio sobre eles. Passam, vêm e vão; voltam,
desaparecem, tornam a aparecer; perturbam, tranquilizam, deixam-nos
confusos, alegram-nos. Tudo isso sem que nos atenhamos sobre eles. Eles
existem por si só. Desenvolver-se é praticar o exercício de pensar
sistematicamente, é ter consciência de que podemos produzir pensamentos
proveitosos para a nossa vida e que eles nos ajudam a ter uma vida melhor.
A VIDA COTIDIANA NOS ENTORPECE.
A vida cotidiana nos entorpece. Preocupamo-nos tanto com os problemas
pessoais e profissionais, que nos esquecemos de que a vida começa na nossa
mente. Somos o que pensamos, o que sentimos, o que retemos em nossa
mente no decorrer da vida. O que vivemos, porém, costumeiramente, é a vida
externa: procuramos a felicidade nas coisas e nas pessoas; encontramos a culpa
de nossos dissabores em ocorrências alheias a nós. Não vivemos a nossa vida;
vivemos a vida do mundo. Como escreveu Sartre, o filósofo precursor do
existencialismo: ''O inferno são os outros''. Raramente aceitamos os nossos
pontos negativos como inerentes a nós. Sempre há alguém ingerindo em nossa
vida, atrapalhando-nos. Isso acontece, porém, porque deixamos que isso
aconteça: se alguém foi o culpado por meu fracasso, a culpa, na verdade, é
minha, pois deixei que esse alguém ingerisse em minha vida, ou seja, perdi o
controle dela.
Para retomar o controle da vida, temos de tomar o controle de nossa mente.
Temos de nos conscientizar de que a perfeição não se atinge e de que o nosso
ponto de vista não é o único adequado; somos falíveis como todos os outros o
são; temos os mesmos defeitos que os outros têm, talvez menos, talvez mais,
talvez da mesma maneira, mas temos defeitos. Não podemos acreditar que
sejamos os ''donos da verdade'', até porque a verdade não existe; o que existe
são crenças, são mitos, são convicções, que nem sempre condizem com a
realidade. Cada um tem a sua própria verdade; cada um tem sua própria
maneira de ver o mundo.
SOMOS DIFERENTES.
Gosta de goiaba? É-me indigesta. Emociona-se ao assistir a novelas e filmes a
ponto de chorar? Poucas coisas me emocionam em filmes e novelas, pois
racionalizo o que vejo. Somos iguais? Somos diferentes em quase todos os
aspectos e temos de aceitar essas diferenças, não exigindo que os outros se
adaptem às nossas diferenças, mas aceitando os outros como são. Se assim
fizermos, passaremos a ser o exemplo às demais pessoas. Estas, observando o
nosso desenvolvimento, quererão fatalmente desenvolver-se da mesma
maneira.
A grande indagação sobre isso tudo é a seguinte: Como desenvolver-se
mentalmente? E a resposta é única: por meio da reflexão acerca da vida. Isso
não quer dizer que temos de nos transformar em monges, que temos de nos
trancar em claustros para meditações profundas. Quer dizer, sim, que temos de
tomar conta de nossa mente. Uma das maneiras para isso é praticando a
meditação, não a profunda, como acabamos de ver, mas a meditação que
acalma a mente e que, por isso mesmo, nos deixa à vontade para produzir
pensamentos mais auspiciosos, em que nos atemos à respiração sem
preocupação com o que adentra em nossa mente ou com o que sai dela,
deixando os pensamentos livres. O segredo é prestar atenção na respiração:
inspirando, expirando; inspirando; expirando. Somente isso. Direcionar toda a
atenção à respiração. Mais nada. Durante quinze minutos, vinte ou trinta,
simplesmente ater-se à respiração sem se prender a pensamento algum.
MAIS REFLEXIVOS E MAIS CALMOS.
Essa meditação nos auxilia a controlar os pensamentos, tornando-nos mais
reflexivos e mais calmos. A consequência disso é que passamos a ser mais
gente, mais humanos e nos preocupamos mais com a essência da humanidade
e menos com os nossos próprios problemas.