Fala-se muito sobre ética. Julgo, porém, que, em muitos casos, não passa de mera utilização de palavra abstrata. É moda falar sobre ética devido às peripécias dos corruptos vereadores, prefeitos, deputados, governadores e senadores - parando a lista por aqui para não tocar na figura maior da política brasileira.
A questão, porém, não é só política; é mais abrangente. Age-se eticamente no dia a dia? Ou aeticamente? Todos os que criticam os vis políticos brasileiros são éticos, ou de quando em vez aéticos? Infelizmente, acredito que a resposta seja "não se age eticamente no dia a dia". Talvez por isso haja tantas falcatruas entre os eleitos pelo povo, afinal eles saíram do povo. Saíram, porque não são mais do povo; não são mais cidadãos comuns; são protegidos por leis absurdas que lhes dão poderes incomensuráveis. Não é sobre eles, porém, que quero discutir, e sim sobre nós, cidadãos comuns, cidadãos do povo.
PEQUENOS DELITOS NO DIA A DIA
Grande parcela da população pratica pequenos delitos (alguns, também médios e grandes) - às vezes sem o perceber, por tão comuns que se tornaram. Observemos alguns deles (Espero que você os veja como atos de outrem, e não seus próprios, pois, se assim o for, aético também será):
Inúmeras pessoas tentam safar-se de uma multa de trânsito oferecendo sorrateiramente alguns reais para o policial. Já fui ironizado por amigos por nunca tentar subornar policiais rodoviários que me pararam nas estradas. Julgam que quem não faz isso é tolo; quem o faz é esperto. Isso não é ser aético? Eu jamais o fiz por falta de coragem e por julgar que a maioria dos policiais seja íntegra e incorruptível.
Em um restaurante, no momento de pagar as despesas, o cliente percebe que determinado produto consumido por ele não foi incluso na conta. Quantos têm correção moral para avisar o garçom de que a conta está errada? Minha percepção me diz que poucos fazem isso. Acredito que grande parte dos clientes omitiria essa informação e pagaria exatamente o que foi apresentado. Estou errado?
NO VALOR?
O atendente de um restaurante ou lanchonete, em que o viajante faz sua refeição por conta da empresa em que trabalha, quando o cliente pede uma nota fiscal das despesas, pergunta-lhe se quer que a nota registre o valor exato do que foi gasto, o que abre a oportunidade de o cidadão sair com uma nota com o valor acima do que realmente consumiu. Acredito que a falta de ética, nesse caso, comece na pergunta do atendente, pois, se este julga não haver problema algum emitir um documento com o valor acima do real a outrem, também o faria para benefício próprio.
O mesmo acontece, muitas vezes, ao pagar uma corrida de táxi com necessidade de recibo. Invariavelmente se ouve a mesma pergunta: "No valor?". A minha resposta sempre é a mesma: "Lógico, pois foi isso que gastei!". Já, inclusive, comentei com um taxista que ele não deveria fazer essa pergunta aos clientes, pois estes devem apresentar às empresas as notas e recibos do que de fato gastaram, e não usarem isso como ardil para aumentar seu salário.
Em algum estabelecimento comercial, o funcionário que trabalha no caixa devolve o troco a mais. Aético é o cidadão que finge não perceber o deslize e sai com o dinheiro que não lhe pertence. Ético é que devolve a quantia excedente com naturalidade, pois sabe que o que não é seu, seu não é.
A ESSÊNCIA DA AETICIDADE
Observe que, nos exemplos dados, o dinheiro é a essência da aeticidade, palavra cujo significado é "o que não é condizente com a moral". Se observarmos os atos de corrupção dos desprezíveis políticos, constataremos novamente que o fazem por dinheiro. É o dinheiro que move o mundo; é pelo dinheiro que trabalhamos, mas não podemos deixar que ele tome conta de nossa vida, que ele se transforme no nosso deus, no nosso dono. Não podemos viver pelo dinheiro nem pelo poder.
Temos de pautar nossas ações pela ética, pela integridade. Nossos atos e atitudes têm de ser irrepreensíveis, retos. É preciso ensinar virtudes e valores aos jovens cidadãos para que, no futuro, sejam cidadãos de fato; não no significado de meros habitantes da cidade, mas no sentido de aqueles que desempenham os deveres que lhes são atribuídos e que respeitam as liberdades democráticas.
EDUCAR-SE PARA EDUCAR
Nosso dever maior como adultos não é educar o jovem para ser um bom cidadão, mas motivá-lo para que se eduque e para que aja sempre em prol da comunidade. Isso só se consegue pelo exemplo, e este não se dá com palavras, mas sim com ações. Ajamos, portanto, para esse fim!