John Ridley ganhou o Oscar de roteiro em 2014 por 12 Anos de Escravidão e, de lá, fez o que tanta gente talentosa tem feito: foi para a televisão. Ridley já tinha experiência no meio, mas nenhuma tão reconhecida quanto American Crime, que usa o formato de antologia - em cada temporada, apresenta uma história diferente.
Na primeira, usou o assassinato de um jovem de classe média para debater questões raciais e vício em drogas. A segunda, que estreia no Brasil nesta quarta, 3, às 22h, no AXN, e concorre a quatro prêmios Emmy, apresenta o caso de um estupro de um garoto branco em uma escola de ensino médio e examina classe social e sistema educacional.
"É algo que está acontecendo agora, damos a oportunidade para o espectador ver que são vozes reais", afirmou Ridley em entrevista à imprensa no evento da Associação de Críticos de Televisão. "Espero que tenhamos feito direito. Que não sejamos sensacionalistas na nossa observação desse assunto." Os crimes exibidos não são investigados a fundo. "A série lida mais com a forma como as pessoas reagem quando deparam com as evidências. Tem até um diálogo dizendo:
Quantas pessoas precisam dizer que foi um estupro para nós considerarmos um estupro? Infelizmente, esse tipo de coisa está acontecendo neste momento. A série não é sobre a investigação e descobrir se aconteceu ou não. É sobre verdades particulares. Cada um dos personagens acredita na história que está contando. Mas isso não significa que é a verdade." Uma grande diferença é que o caso se estendia por meses na primeira temporada e, desta vez, a história se passa em semanas. "Estamos interessados nas reações mais instantâneas", disse o criador da série.
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O formato antologia está na moda, com programas como American Horror Story e American Crime Story. O curioso é que American Crime usa o mesmo elenco, em papéis completamente diferentes. Felicity Huffman, que concorreu ao Emmy no ano passado e repete a dose este ano, deixou para trás a dura e intransigente Barb da primeira temporada para fazer Leslie, a diretora da escola. Timothy Hutton, que tinha uma relação difícil com todos à sua volta como Russ, agora é o treinador do time de basquete Dan. Regina King, vencedora do Emmy de coadjuvante ano passado e na corrida novamente este ano, era uma mulher isolada por sua religião na primeira, e agora é a matriarca Terri, a mãe de um dos garotos possivelmente envolvidos no crime. Lili Taylor fez uma especialista em utilizar o sistema na primeira temporada e, agora, é alguém que se vê superada por ele, como Anne, a mãe do garoto que sofre abuso. Elvis Nolasco e Richard Cabral, revelados na primeira, também voltam.
Como se percebe pelos temas e pelos atores, diversidade é fundamental para John Ridley. "Mas, mais importante do que falar de diversidade, é ser representativo", disse. "E veja nosso elenco. Claro que sempre podemos melhorar. É um país grande. E um planeta grande. Para nós, trata-se de representar pessoas, fés, crenças, espaços socioeconômicos, orientações, idades. Mas não é suficiente ter tudo isso na frente da câmera, é preciso fazer o mesmo atrás das câmeras. Temos uma sala de roteiristas que é refletiva - não gosto de dizer ‘com diversidade’ porque é um termo dos anos 1970."
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