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'O Terminal' é mais nova fábula de Steven Spielberg

Carlos Eduardo Lourenço Jorge - Folha de Londrina
02 set 2004 às 18:48
Tom Hanks e Steven Spielberg na entrevista coletiva em Veneza: ator, que já fez outro filmes com o diretor, é protagonista de uma história humanista -
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Apto para todos os paladares, ''O Terminal'' foi o prato de resistência do menu inaugural da 61ª Mostra Internazionale d'Arte Cinematográfica de Veneza. Logo após a exibição para a imprensa, Steven Spielberg e Tom Hanks fizeram as honras do filme na entrevista coletiva.

Este selecionado ''hors concours'' é parte da ambiciosa estratégia do diretor Marco Muller para que o festival se reinvente a si mesmo. Isto é, combinar filmes - autorais ou não - e glamour, embora esta combinação não admita grandes variações.

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O melhor da história consiste em dosar as proporções de cada coisa, e este é o desafio. ''O Terminal'', se nada acrescenta à evolução do cinema, pelo menos garante a circulação de ''caras'' como as de Spielberg e Hanks. Muller está absolutamente seguro de que este é o ingrediente que deixará o festival bem mais popular.

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Naquela mesma linha ''menor'' que imprimiu a ''Prenda-me Se For Capaz'', Spielberg fez de ''O Terminal'' uma comédia agridoce, quase um melodrama.

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Ou seria uma melofábula, aquilo que Frank Capra fazia como ninguém na remota primeira metade do século passado? O fato é que a história do homem sem pátria prisioneiro no aeroporto tinha todos os ingredientes para satisfazer primeiro ao próprio Spielberg, e por uma questão de persistente fidelidade, aos milhões de seguidores de seu cinema sentimental sempre com aspirações maiores que a vida.


Por mais que subtemas, velhos ou novos, apareçam no cinema spielberguiano, há duas recorrências vitais. Podem não coexistir simultaneamente, mas pelo menos uma assina o ponto religiosamente.

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No caso de ''The Terminal'', tudo se encaminha não para solucionar o problema do passageiro com a imigração, mas para que ele resolva de vez a relação com o pai, para que ele possa afinal voltar à pátria pacificada.


A figura do pai é forte e onipresente na filmografia de Spielberg, tão forte e determinante quanto a outra vertente: criança versus adulto, o menino tentando crescer, o Peter Pan tentando se libertar, o universo infantil que prende o personagem e impede seu crescimento como pessoa, o seu desligamento de vez para o mundo adulto.

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No fundo ambas as idéias se completam. Como está absolutamente posto em ''Prenda-me Se For Capaz'', um compêndio de travessuras adultas do moleque Leonardo di Caprio esmagado pelo carinho do pai Christopher Walken.


Munição para a teoria: Tom Hanks, a esta altura quase um ator do repertório do diretor (''Soldado Ryan'', ''Prenda-me se For Capaz''), deve ter encantado Spielberg a partir de ''Quero Ser Grande''. Aqui, toda semelhança nem de longe é mera coincidência.

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Durante a lotada, reverente, insossa e rápida coletiva, ator e diretor responderam em dueto as mesmas perguntas. Depois de relatarem as piores experiências que já tiveram em aeroportos, Spielberg confessou outra homenagem que pretendeu fazer em ''O Terminal'', desta vez a Jacques Tati, além da óbvia referência ao território habitado pela dramaturgia concebida por Frank Capra.


A melhor e mais espirituosa pergunta, se ele faria uma continuação de ''Soldado Ryan'' agora com o título de ''Saving Private Bush'', mereceu uma discreta evasiva. Mas Tom Hanks não deixou por menos e aplicou um ''I don't see Bush as a private''.


Na quarta-feira, 1º desetembro, o espaço do festival ainda recebia os últimos retoques, aqueles tradicionais arremates de última hora, fiação, pintura, instalações em geral.

A fachada do Palazzo Del Cinema, na sempre bela avenida Lungomare, virou uma espécie de imponente Simba Safári: uma enorme coleção de grandes leões dourados, um para cada ano do festival, com data, título do filme e nome do diretor. A mostra deve esquentar de fato a partir de quinta-feira, já com os primeiros concorrentes e com maior fluxo de celebridades


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