‘Um Show de Vizinha’ até que prometia, mas o politicamente incorreto esbarra na moral hollywoodiana. Se é que existe moral em Hollywood, esta insaciável filial da Dow Jones.
Mas de qualquer maneira, o trailer que se eternizou nas salas e que o espectador assíduo se acostumou a ver semanalmente (o mês inicial de lançamento era julho) criou simpática expectativa em torno de Matthew (Emile Hirsh), garoto high school meio nerd mas bonitinho, carregado de hormônios e boas intenções que cai de quatro diante da bela vizinha Danielle (Elisha Cutthbert), no caso ilegalmente loira – ela é estrela da sempre próspera indústria do cinema pornô.
Que ninguém se engane, e por vários motivos. Primeiro, pela idéia requentada de um subversivo e hilário filme de 1983, ‘Negócio Arriscado’, em que um ainda semipúbere Tom Cruise é apresentado aos prazeres da carne e do capitalismo (a ordem pouco interessa) e preparado para a vida por uma bela mulher mais velha, obstinada e sedutora (Rebecca DeMornay, pena que não deu certo).
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Segundo, pela ambição desmedida que desaba em resultados medíocres. Vale dizer: a proposta era de audácia, mas resulta branda; em vez de emoções reais, somente sentimentalismo genérico.
Terceiro, pelo recado global vagamente desagradável. A princípio, a pornostar Danielle sugere que os trabalhadores da indústria pornô são pessoas normais, com sentimentos, sonhos e aspirações como as de qualquer outra pessoa, merecendo por isso o mesmo respeito.
Mas, por conveniência oportunista do roteiro, aparece uma dupla de atrizes pornô que são tratadas indignamente, como meros objetos sexuais.
Uma sugestão àqueles que tiverem interesse em ver ‘Um Show de Vizinha’ por sua vaga conexão com a pornografia: tracem o rastro de um ótimo documentário de 1999 e que leva o mesmo título original, ‘The Girl Next Doord’, contando a vida da famosa atriz pornô Stacy Valentine.
Bastante explícito, mas longe de ser excitante, o filme mostra a crua realidade deste universo de suposto glamour e dinheiro fácil. Infelizmente esta ficção ‘Um Show de Vizinha’ não buscou a realidade do pornô e ainda freqüentou mal os domínios da high school.