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Um modelo de militância política

Reportagem local
04 ago 2006 às 16:46

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Trajetória da estilista que se transformou em crítica e vítima do regime militar é resgatada num filme comovente - Divulgação
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Se alguém pesquisar na internet o nome Zuzu Angel, vai logo de saída encontrar vários sites sobre este filme do diretor Sergio Rezende que estréia em 170 salas brasileiras, Londrina inclusive.

O número é respeitável por duas razões. Em primeiro lugar é muito caprichada produção brasileira, portanto falada em português e por isto sempre naquela acirrada disputa de mercado com a pesada concorrência hollywoodiana. E depois porque trata de um tema que, embora não mais tabu, ainda hoje é de certa forma espinhoso: os anos de chumbo da ditadura militar que flagelou o país nos anos 1960 e 70.

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É um dos lançamentos do cinema nacional mais aguardados do ano. O diretor Sergio Rezende, 55 anos, tem currículo respeitável e se inscreve entre nossos mais notáveis realizadores. É um afiado contador de histórias que retira de nossa História maior. Já mostrou trajetórias polêmicas, como a do guerrilheiro Carlos Lamarca, do jornalista e político Tenório Cavalcanti, do Visconde Mauá, do líder messiânico Antonio Conselheiro.

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Seu personagem, desta vez, é uma mulher, a estilista mineira Zuleika Angel Jones, aliás Zuzu Angel, interpretada pela atriz Patrícia Pilar. A história dela chega ao cinema depois de vinte anos de tentativas, frustradas todas ou pela delicadeza do assunto, ou por dificuldades de viabilizar uma produção de época que resultasse de qualidade. Mais recentemente, Walter Salles tinha o projeto mais ou menos delineado, com roteiro de Jorge Duran e Fernanda Montenegro para o papel-título. Mas ficou mesmo no projeto.

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Outros cineastas quiseram o filme, mas foi afinal Sergio Rezende, fascinado pela personagem, quem acabou gravando em imagens a saga de Zuleika Angel. Que parte de sua notória trajetória como estilista de talento para chegar a uma morte trágica.


Sem nunca ser militante política, Zuzu, como era conhecida profissionalmente no meio da alta costura, teve a vida transformada em pesadelo quando o filho, Stuart Angel Jones (Daniel Oliveira), entrou na luta armada, foi preso em 1971, auge da repressão militar, e desapareceu para nunca mais ser visto.

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A princípio ponderada e apolítica a ponto de criar antagonismos com o filho engajado, Zuzu virou mãe leoa indomável diante do ocorrido com o rapaz. Mobilizou meio mundo, inclusive o então secretário de Estado dos Estados Unidos, Henry Kissinger. Ganhou espaços na mídia nacional e internacional, fez de sua profissão uma tribuna para denunciar os excessos de violência do regime militar, sempre em busca do paradeiro do filho. Passou a ser vigiada, perseguida, policiada. Até que em 1976 seu carro foi fechado num túnel do Rio de Janeiro. Zuzu morreu no local.


Sergio Rezende e seu co-roteirista Marcos Bernstein não têm nenhum dúvida de que Zuzu foi assassinada. Para acervo de informações, recorreram a depoimentos da filha da estilista, a jornalista Hildegard Angel, e de Elke Maravilha, na época modelo e muito amiga de Zuzu.

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Para o diretor, o filme vai permitir reavaliar a importância da figura do personagem central. Segundo ele, ''na época, a militância política de oposição ao regime fazia restrições a ela porque não militava em movimento nenhum, em facção nenhuma, nem na Anistia Internacional. Hoje reconhecem que Zuzu, mesmo sozinha, conseguia mobilizar o mundo inteiro nas denúncias das atrocidades.


Outros personagens verídicos compõem o painel desta tragédia que agora é passada a limpo. Entre eles a mulher de Stuart, Sonia Leal (Leandra Leal), também presa e assassinada; Elke Maravilha (Luana Piovani), modelo; Heleno Fragoso (Alexandre Borges), o advogado de Zuzu. E militares da repressão, como os interpretados por Othon Bastos e Flavio Bauraqui.

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Quase inteiramente filmado em Juiz de Fora, com orçamento por volta dos 6,5 milhões de reais, ''Zuzu'' está buscando grandes segmentos de platéia, aquela mesma que lotou os cinemas para ver ''Olga''.


Na trilha sonora produzida por Cristóvão Bastos, destaque natural para a musíca ''Angélica'', composta especialmente por Chico Buarque em homenagem ''velada'' a Zuzu, um ano depois da morte dela. Foi com Chico, aliás, que Zuzu deixou uma carta pouco antes de morrer, denunciando que, se alguma coisa acontecesse a ela, os autores seriam os mesmos que tinham dado um fim ao filho.

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Angélica
Conheça a música que Miltinho e Chico Buarque fizeram para Zuzu Angel em 1977. Agora, ela está na trilha sonora do filme

Quem é essa mulher que canta
Sempre esse estribilho?
Só queria embalar meu filho
Que mora na escuridão do mar
Quem é essa mulher que canta
sempre esse lamento?
Só queria lembrar o tormento
Que fez o meu filho suspirar
Quem é essa mulher que canta sempre
o mesmo arranjo?
Só queria agasalhar meu anjo
E deixar seu corpo descansar
Quem é essa mulher que
canta como dobra um sino?
Queria cantar por meu menino
Que ele não pode mais cantar


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