Estreias

Um filme nacional feito pra vender e divertir

16 abr 2001 às 17:22
Longe do estilo predominante no cinema nacional, "Amores Possíveis", novo filme da diretora Sandra Werneck, foi nitidamente feito para agradar o público acostumado às comédias românticas americanas. Não se trata de nada parecido com "Central do Brasil" ou "Eu, Tu, Eles". Não tem cenários nordestinos. É uma produção ambientada na cidade e feita sob medida para um público urbano.
"Amores Possíveis" também é diferente do primeiro filme de sucesso da diretora, "O Pequeno Dicionário Amoroso", porque trata de modo mais sério o relacionamento complicado de um homem e uma mulher. São três histórias paralelas conduzidas com maestria - já vai aí um crédito para a edição do filme. A aposta na seriedade com toque de comédia resultou num bom filme, embora a quilômetros de um filme-arte - daqueles inovadores, com roteiro originalíssimo. Mas não era essa a intenção da diretora - o público se indentifica com o filme pela simplicidade com que o foco principal é tratado. Apostando na dobradinha "uma história comum com gente comum", "Amores Possíveis" cria a identidade brasileira para o filme comercial, ou melhor, o bom filme comercial.
Murilo Benício (de "Orfeu"), um dos melhores atores brasileiros da nova geração, prova sua versatilidade interpretando Carlos em três versões: o Carlos infeliz no casamento, o jovem Carlos, que se esconde na barra da saia da mãe para não assumir um compromisso sério com qualquer uma (ele acredita em alma gêmea), e o Carlos que descobre ser homossexual e abandona mulher e filho. Nos três romances, Carlos está confuso porque não sabe o que realmente sente por Júlia, vivida pela atriz Carolina Ferraz. Carlos acha que está apaixonado por ela, mas não sabe se será feliz ao seu lado ou se ela é a mulher certa para ele para o resto da vida ou no momento. Nas duas primeiras histórias, Carlos está há 15 anos esperando por Júlia e querendo resgatar um grande amor do passado. Mas o ponto forte mesmo (e polêmico!) é o drama número três.
Carlos sai do armário e de casa para viver com o melhor amigo. Com um filho pequeno, a Júlia deste caso é uma mulher amargurada pela perda do marido para outro homem. Ele não sabe se continua mantendo o relacionamento homossexual ou se volta para a ex-mulher. Sugada pela personagem, Carolina Ferraz teve a oportunidade de fazer o melhor papel de sua carreira e até que foi bem convincente, mas ainda faz caras e bocas - ranços da carreira de modelo. A chique Carolina Ferraz banca a dona-de-casa em trajes simplezinhos, longe de sua elegânica tradicional. Murilo Benício, que já esteve ao lado de Penélope Cruz no hollywoodiano "Sabor da Paixão", pegou muito bem o espírito da coisa e se destacou na pele do confuso homossexual.
Ninguém melhor do que Irene Ravache para interpretar a mãe do jovem Carlos - aquele da alma gêmea -, uma mulher engraçada e preocupada com o filho. Beth Goulart se saiu bem como a mulher do Carlos advogado bem sucedido. Ele passa a viver um relacionamento paralelo com Júlia. Sua esposa é uma dessas mulheres casadas que tampam o sol com a peneira acreditando nas desculpas do marido para dar suas escapadelas.
Apesar da superficialidade nos três ângulos, "Amores Possíveis" abre canais para discussão sobre relacionamento, um assunto que ainda vai render muitos filmes, que tratarão dele com naturalidade - como este - ou não. "Amores Possíveis" é bom de ser assistido. Não é capaz de provocar grandes emoções em quem o assiste, mas é romântico sem ser meloso. Isso já é uma grande qualidade. Os personagens são fortes, bem definidos, comuns, construídos sem apelar para os velhos clichês, e vivem histórias inspiradas no cotidiano que merece ser repensado sempre.

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