Nemo, quem diria, já era. O peixinho, até o último fim de semana campeão absoluto de bilheteria no segmento animação, agora é só registro estatístico. Quem dá as cartas no momento é ''Shrek 2'', que em quatro semanas de exibição faturou, apenas no mercado americano, US$ 353 milhões.
O lançamento brasileiro tem cópias dubladas em sua maioria. O que é uma pena, porque não há registro de um time de dubladores tão fulgurante e ao mesmo tempo tão eficiente quanto este que emprestou as vozes para os personagens do mais subversivo conto de fadas jamais saído de Hollywood.
Em 2001, um ogro verde, sujo e flatulento aplicou um toque nada sutil de humor irreverente ao universo de filmes infantis. As críticas mordazes às tradicionais narrativas sobre princesas sonhadoras, príncipes valentes e finais felizes transformou ''Shrek'' em produto inovador para crianças, adolescentes, adultos e pessoal da terceira idade.
Ninguém ficou indiferente àquela adorável sátira. Com todo o merecido sucesso e a conseqüente fortuna arrecadada, era líquido e certo que a DreamWorks repetiria a dose.
Mesmo sem o impacto da novidade, o filme que está ocupando o circuito mundial é tão bom quanto o primeiro e oferece a mesma diversão, outra dose de romance bizarro e novos e cativantes personagens.
Depois do casamento de Shrek e Fiona, não poderia faltar a lua-de-mel. É por aí que começa esta segunda parte, com a romântica viagem nupcial. Quando tudo parecia perfeito apesar da intromissão do Asno Falante , a trama se complica.
O rei e a rainha, pais de Fiona, desejam conhecer o genro, e nada mais natural que recebam a filha e o marido para a apresentação oficial à sociedade. Shrek sabe das coisas e evita a aproximação.
Mas ele acaba cedendo, e logo chegam ao reino familiar de Fiona, uma Hollywood medieval onde aparência, beleza e vaidade pairam acima de tudo shoppings centers, lojas de grifes mundiais, mundanismo e superficialidade.
Diante da reação negativa e das pressões do povo e da aristocracia, o casamento parece fadado literalmente ao fracasso. Mas Shrek, com o fiel escudeiro Asno e o Gato de Botas (a princípio contratado pelo rei para liquidar Shrek), novo companheiro de jornada, fará o impossível para agradar novamente Fiona e demonstrar seu amor.
''Shrek 2'' é uma formidável batalha entre a vida simples no pântano, habitat natural dos ogros, e os privilégios fúteis da nobreza. Isto com certeza está lá no roteiro, mas o recado não tem exatamente a função de ser crítico em demasia.
O que interessa é o mix inesgotável de gags e referências, o delicioso e hiper-dinâmico caos que não dá folga ao espectador. Assim, um conselho valioso é olho vivo na sucessão vertiginosa de situações cômicas, algumas podendo escapar ao controle às vezes relaxado pelo riso.
Por melhor que seja a solução encontrada pelos distribuidores ao redor do mundo, seja em que língua for, a cada cópia dublada ok, tem as crianças, etc e tal deveria obrigatoriamente corresponder outra com som original, legendada. Porque muito do encanto, do charme, da inteligência de ''Shrek 2'' está na ponta da língua dos atores que dublaram em inglês os personagens originais.
Assim, a criação que Antonio Banderas faz do Gato de Botas, com aquele acento hispânico parodiando seu Zorro canastrão e cabotino, não será imitada em nenhum idioma. E mais Julie Andrews como a rainha, John Cleese como o rei, Rupert Everett como o vilão gomalinado Príncipe Charmoso, Mike Myers, Eddie Murphy e Cameron Diaz repetindo seus papéis, todos afinal em perfeita harmonia com os personagens. Em Londrina, lamentavelmente, as duas cópias em lançamento são dubladas.