Ok, é isso mesmo, o título aí de cima traz um componente de isca, um toque de provocação, um quê de convite. A idéia é a de que, além do leitor fiel de críticas semanais neste espaço, distraídos e curiosos também se detenham nessas informações sobre o filme e afinal se animem a ir ao cinema apesar do preço do ingresso, da ociosa lentidão de janeiro, faça sol ou chuva - e como faz chuva.
Mas por outro lado, na superfície e no fundo, são de fato estes os ingredientes que se articulam dramaturgicamente em ''Perto Demais'', o primeiro filme estrangeiro interessante da temporada.
Baseado em peça de Patrick Marber, que também assina o roteiro, o filme não deixa duvidas, entre qualidades diversas, de que o tempo não destemperou o talento do diretor Mike Nichols (''A Primeira Noite de um Homem'', ''Quem Tem Medo de Virginia Woolf ?'').
Leia mais:
Das estrelas ao fundo do mar: confira as estreias nas telonas neste mês de maio
Trailer de nova animação Disney traz Buzz Lightyear com a voz de Marcos Mion
Filme Kingsman 2 - O Círculo Dourado tenta repetir sucesso
Nova série do Star Trek mostra a luta pela paz no mundo
Aos 74 anos, Nichols trafega à vontade por argumento denso, complexo, com a mesma desenvoltura e ousadia com que manejou tema e atores em importante filme similar realizado em 1971, ''Ânsia de Amar''.
''Perto Demais'' segue as interseções românticas de quatro pessoas em Londres ao longo de vários anos. Jude Law é o jovem jornalista Dan; Natalie Porthman é Alice, norte-americana e ex-stripper. Eles se encontram quando ela é vítima de um acidente de trânsito.
Alice é impulsiva, amante da vida, muito jovem mas já com história suficiente para ter um passado. Dan não é lá muito satisfeito consigo mesmo, um redator de obituários que um dia teve aspirações artísticas.
A narrativa do filme assume uma estratégia pouco convencional para contar os fatos, com a fotografia marcando lapsos de tempo. Assim é que logo o espectador encontra Dan às voltas com o próximo lançamento de uma novela, baseada na vida da namorada Alice.
Julia Roberts faz a fotógrafa Anna, que se envolve com Dan. E por causa da falta de punch sensual da atriz e do excesso de azedume que ela imprime à personagem, fica um tanto difícil acreditar que qualquer homem queira alguma coisa com ela, muito menos um tipo como Jude Law, e menos ainda alguém que anda saindo com Natalie Porthman.
É neste momento que ''Perto Demais'' precisa de uma injeção de energia. E recebe na medida, com a entrada em cena de Clive Owen, um dermatologista com ostensiva carga de crueldade e desprezo para consigo mesmo.
É de longe o personagem mais interessante da trama. Perto de Owen, o garoto Law é como um peso-mosca. Natalie Porthman quase rouba o espetáculo - e não por acaso ela e Owen levaram os Globos de Ouro como coadjuvantes.
Infelizmente, muito de ''Perto Demais'' gira ao redor da obsessão sexual dos dois homens pela fotógrafa Anna/Julia Roberts. Pelo que passa do roteiro, a impressão é de que ela é impulsiva, com alta voltagem sexual e temerosa de ferir os sentimentos das pessoas.
Isto significaria a atriz trabalhando contra seu tipo. Mas ela nem mesmo tenta. Repare em como ela contracena com Owen e Law. Os dois homens parecem obter suas performances do ar, resignados por não obterem nada de Julia. É como se contracenassem com ninguém.
Mas há compensações. Diálogos espertos e cenas com suficiente veracidade ao captar nuances do intrigante jogo sexual. Um entretenimento inteligente e compensador.