O diretor inglês Danny Boyle, elevado a cult depois de ''Trainspotting'' e logo apeado deste pedestal por conta dos tropeços ''A Ilha'' e ''Por Uma Vida Menos Ordinária'' voltou às boas com a turma-cabeça quando, há quatro anos, visitou o cinema de horror com ''Extermínio'', reinvenção dos clássicos de zumbi.
Foi surpresa agradável, porque tomou os fundamentos deste tema exaurido e deu uma guinada semi-realista que injetou vida nova ao gênero. Mas sem perder o apelo alegórico que, afinal de contas, sempre foi o diferencial dos melhores trabalhos deste filão - leia-se aqui os títulos de George A. Romero.
Agora chega esta sequela, ''Extermínio 2'' (28 Weeks Later), que, como o título original sugere, nos mostra o estado em que se encontra a Inglaterra sete meses depois da epidemia de ''ira'', o estranho vírus que transformou grande parte da população em monstros humanos sedentos de sangue.
Bem no início - um início estarrecedor e magnético, provocando a única debilidade imperdoável, já que o restante do filme não repete o clima da abertura - encontramos Don (Robert Carlyle), sobrevivente da epidemia original que perdeu a mulher Alice (Catherine McCormack). Afogado em remorso por não tê-la salvo, fica mais aliviado quando reencontra os dois filhos que andavam refugiados na França. Mas o inferno abriu suas portas, e ele vai ter o seu quinhão por aqui mesmo
Agora, aparentemente os infectados morreram de fome, e o exército dos EUA organiza o regresso dos ingleses, ao mesmo tempo em que faz o extermínio total dos ''irados'' que sobraram. Como sempre, porém, há um imprevisto nos planos do exército, e aí...
A retomada da trama agora está a cargo do espanhol Juan Carlos Fresnadillo, que caiu nas graças de Danny Boyle (aqui somente produtor) com o longa ''Intacto'', de 2001. O novo diretor, usando com requintes o frenesi visual, fornece às cenas mais terríveis o dobro daquele sentido apocalíptico estabelecido na proposta anterior. Sua interpretação desta epidemia virótica resulta ainda mais obscura e fatalista, e o tema da humanidade predadora de si mesma surge de forma terrível.
Sem atentar muito para a alegoria ou a metáfora, Fresnadillo desenha um comentário social válido, ainda que um tanto óbvio. Por isso, o horror humanista do primeiro filme é substituído mais pela tensão e pelo suspense como fins em si mesmos, e não como agentes condutores de ação mais reflexiva.
Mesmo que o roteiro apresente uma ou outra fissura quanto à lógica e ao sentido comum, o filme oferece um inegável resultado de enorme impacto, sem seguir as cansadas convenções do gênero. Aqui os heróis são improváveis, e os personagens-chave encontram seu fim quando menos se espera. O exército dos Estados Unidos é o grande vilão, e referencias à situação no Iraque e ao 11 de setembro são facilmente detectadas.