Nem bem transcorreram os primeiros cinco minutos de projeção e já é possível dizer que se está diante de um caso - já não tão raro ou estranho assim - em que um roteiro se faz notar por sua ausência.
''Mandando Bala'', que estréia em Londrina, é desses chamados entretenimentos obtusos, um desses filmes que permitem ser observados sem qualquer necessidade de pensar em trama ou argumento ocasional. O que preside tudo é a ação em estado puro, aqui coadjuvada na medida por Clive Owen, um dos atores hipercool do momento.
Nenhum dúvida quanto às reais intenções do diretor e ''não-roteirista'' Michael Davis: estender os excessos até além dos limites do tolerável. De uma só vez ele reúne todos os componentes do filme de ação.
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Parte da vertigem dos videogames, agrega as imagens hiperbólicas de Sergio Leone, acrescenta a violência hiperrealista de Johw Woo (o filme é explicita homenagem a ''Fervura Máxima'', cult de 1992 do diretor chinês), multiplica porções de sadismo e um presumido humor negro. A idéia talvez fosse satirizar o gênero através do caminho da paródia fácil e não reflexiva.
De um lado, Smith (Owen), de antecedentes desconhecidos que pode ter sido alguém treinado pela CIA ou similares. Ele soluciona todos os problemas com uma arma e uma cenoura, hortaliça que substituiu o cigarro e eventualmente é utilizada como arma. De outro, um antagonista implacável vivido por Paul Giamatti, em papel nada habitual, o de vilão ultrasádico.
O herói durão deve proteger uma mulher grávida perseguida pelos bandidos da hora. Pois ele faz o parto, corta à bala o cordão umbilical, vê a mãe ser assassinada, carrega o bebê entre tiroteio cerrado, arranja uma prostituta ama-de-leite quarentona e frustrada (Mônica Bellucci!) e resiste a novos ataques. O porquê de toda esta sangrenta correria a esta altura é puro nonsense: tem a ver com uma conspiração que inclui ingredientes como política, transplantes, recém-nascidos e venda de armas.
Violento, sórdido, sádico, torpe, amoral: escolham uma vertente e ela se aplicará a ''Mandando Bala''. O ritmo, claro, é sustentado à força de balas e cuidadosa elaboração visual. Duelos à bala (a estatística de algum cinéfilo mórbido contabiliza 100 mortos) e perseguições automobilísticas se sucedem. A mais bizarra das sequências mostra Owen liquidando oito assassinos enquanto ele e La Bellucci atingem seus respectivos orgasmos simultâneos.