Na mesma semana em que chega às telas paranaenses 'O Exorcismo de Emily Rose', uma segunda estréia também é baseada nos tais ''fatos reais''. Segundo se informa na introdução do filme, a história é ''mais ou menos'' baseada na vida de Domino Harvey, rica modelo que decidiu mudar de vida e transformou-se em caçadora de recompensas.
Eis, portanto, um exemplo da premissa mal utilizada pelos truques hollywoodianos. O personagem até que é interessante: a jovem habitante do mundo glamouroso da moda, destacando-se onde muitas tentaram sem sucesso mas mandando tudo para os ares ao ingressar no universo brutal dos ''bounty hunters'', os caçadores de recompensas, perseguindo criminosos condenados e foragidos.
O que decreta a desgraça do filme é que o diretor Tony Scott (irmão de Sir Ridley Scott) preferiu apropriar-se desta personalidade complexa para reduzi-la à mera caricatura. Domino Harvey (filha do ótimo ator inglês Laurence Harvey, morto prematuramente) mantém um cigarro pendendo dos lábios, responde sempre brigona e com linguagem rude.
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Toda sua carreira de modelo está reduzida a dois minutos de filme, mostrando sua reação violenta quando uma colega tropeça nela. A cena não diz nada sobre o universo do mercado da beleza, apenas se supõe que Domino estava deslocada.
Suponhamos que Domino tenha abandonado as passarelas porque compreendeu que o que fazia era avalizar a exploração da figura da mulher, quando na realidade elas podem ser tão duras quanto os homens. Este teria sido um ponto de vista interessante. Mas vejamos o que faz Domino durante sua primeira missão como caçadora de recompensas.
Seu grupo se encontra frente à frente a uma gang de meliantes, situação que vai culminar em tiroteio a menos que, digamos, ela ofereça sexo oral em público a um dos indivíduos. Que é exatamente o que acontece.
Domino se despe e dança, resolvendo a situação com erotismo. Agora, pensem um pouco na ironia do ocorrido, já que ela tratava de demonstrar que poderia fazer o trabalho de um homem. A cena somente funciona para excitar os machos impressionáveis na platéia.
O filme tenta compensar os muitos tropeços do roteiro com seu estilo ágil. Não, a frase foi mal escrita. Corrigindo. O filme agrava os muitos tropeços do roteiro com um estilo (?) confuso e pretensioso. Truques de edição rápida e opaca podem até resultar interessantes em alguns casos, mas em ''Domino'' servem apenas para roubar a atenção e criar desconcerto.
O bombardeio de imagens rápidas faz crer que está acontecendo alguma coisa, quando na verdade a única coisa que acontece é que o espectador está tentando entender o que diabos está acontecendo em meio a tanta ação confusa, caos visual, barulheira constante e machismos exacerbados.
A verdadeira Domino (seu nome foi dado em homenagem a uma das garotas Bond), que estava em prisão domiciliar por tráfico de drogas quando morreu de overdose em junho último, aos 36 anos - houve indícios de suicídio -, deixou clara sua rejeição ao filme de Scott. Lésbica assumida, o filme a apresenta como hetero. Sua maior indignação deve ter sido por emprestar seu nome a semelhante mistificação.