Dizem que o orçamento de ''Sahara'' foi de cerca de 130 milhões de dólares. A cifra supera os custos, sem incluir publicidade, de recentes e comercialmente bem sucedidas superproduções como o último Harry Potter, ''O Dia Depois de Amanhã'' e ''Eu, Robô''.
A informação é desconcertante porque no elenco de ''Sahara'' não desfila nenhum dos atuais medalhões hollywoodianos com cachê de U$ 20 milhões por filme. Para não mencionar que, comparada sua performance técnica com outras produções com propostas espetaculares semelhantes, ''Sahara'' fica devendo no quesito luxo, adereços e supérfluos que tais.
E dizem mais: que Matthew McConaughey e Penélope Cruz iniciaram um romance durante as filmagens no Marrocos. Sai Tom Cruise, entra McConaughey, e Penélope vai assim se estabelecendo no alto das marquises. Mas a moça tem talento, de verdade e a despeito do noivo de plantão.
Isto posto, a título de desdobramentos marqueteiros, vamos ao que resta, embora não seja propriamente ao que interessa. Após encontrar uma moeda mitológica, o explorador Dirk Pitt (McConaughey) sai à caça de um tesouro provavelmente escondido numa das regiões mais perigosas do oeste africano.
Ele está obcecado na busca daquilo que os nativos chamam de ''navio da morte'', uma centenária nau de batalha dos tempos da Guerra da Secessão, idos de 1865, que pode conter uma carga secreta. Quem ajuda o aventureiro é seu parceiro de sempre, Al Giordino (Steve Zhan, ladrão de cenas).
A dupla conhece a bela Dra. Eva Rojas (Penélope), pesquisadora que acredita que o tal navio pode estar ligado a uma peste que está aniquilando os africanos.
O protagonista desta agitada aventura se dedica a localizar relíquias do passado, aqui o citado couraçado que escapou da batalha da guerra civil americana e foi parar - vá lá saber por que meios - na zona mais seca da África.
Nisso e algumas outras coisinhas o filme evoca necessariamente as clássicas andanças de Indiana Jones. Mas melhor será limitar as comparações a esses dados superficiais. Por vocação, ''Sahara'' se inscreve num certo tipo de cinema que o espectador aprendeu a usar e descartar.
O que acontece aos personagens importa pouco, seja a busca do tesouro, interrompida e retomada ao sabor da arbitrariedade, seja qualquer das outras linhas do argumento ali plantadas para tentar robustecer as situações de risco.
Tanto faz que elas se refiram a inquietações de ordem sanitária com certo fundo ecológico ou aos negócios escusos de um francês inescrupuloso - aliás, a nacionalidade preferida por Hollywood depois das desavenças entre EUA e França por conta da invasão do Iraque.
O que acaba prevalecendo é a noção do espetáculo encerrado nele mesmo, as explosões, as perseguições por terra, mar e ar, as lutas sem fim repletas de piruetas impossíveis ou os planos do deserto esmagador, ainda que os personagens o atravessem em qualquer direção, de carro ou a pé, na melhor tradição dos econômicos camelos.
A estética é de postal, e o bonitão Mcconaughey se presta à perfeição para um outdoor de grife de perfume. Penélope dá conta de sua intrépida heroína, Steve Zhan é bom sempre que solicitado.