Um personagem curioso e ao mesmo tempo fascinante, o de Denzel Washington em ''Por Um Triz''. Ele é Matt, chefe de polícia na Flórida. É o herói do filme ou quase isso, mas não é exatamente inocente.
Ele é razoavelmente culpado, não pelo assassinato que acaba de ocorrer, mas por um outro crime que qualquer um poderia ter cometido nas mesmas circunstâncias. (No cofre da delegacia estão US$ 500 mil apreendidos de traficantes e que o policial tomou ''emprestado'', mas por um motivo para ele relevante porque é humanitário.)
No momento, Matt não está sendo acusado de nada. No momento ele apenas observa para onde apontam as evidências incriminadoras, e sabe que tem apenas algumas horas para resolver tudo e se inocentar.
Com um toque que lembra o melhor John Huston ao retratar perdedores, o diretor Carl Franklin (de volta à boa forma ''O Diabo Veste Azul'', de 1995, com o mesmo Washington) e o roteirista noviço Dave Collard utilizam todas as oportunidades para elevar a temperatura em benefício da emoção legítima. Assim, antes mesmo que o ''thriller'' esteja totalmente engrenado, o espectador já está nas mãos da trama. E qual é o argumento-base?
Matt é malcasado com a ambiciosa detetive Alex (Eva Mendes). Ele está tendo um caso ardente com uma mulher casada, Ann (Sanaa Lathan), e o marido é o óbvio obstáculo ao romance. Mas surge um outro, ainda maior: Ann tem câncer e apenas seis meses de vida, sem que Matt saiba da doença. Temos então amor, sexo, paixão e uma sentença de morte e nem bem se passaram vinte minutos.
E mais complicações a caminho, já que ''Por Um Triz'' é generoso em novidades. Quando dois assassinatos são cometidos, o filme revela, e bem, sua real natureza, a de um sólido, tenso drama de suspense. Na maior parte dos 105 minutos, a ansiedade é a companhia do espectador enquanto Matt se desdobra simultaneamente em duas frentes, cada uma parecendo mais impossível que a outra: anular as evidências que o incriminam e encontrar o(s) assasino(s) antes que ele se complique de vez o filme, aliás, também é bom quando torce as inverossimilhanças para deixar tudo muito natural.
Denzel Washington esbanja categoria num papel complicado, um personagem conflituoso do ponto de vista ético e legal, alguém que permanece basicamente bom embora tenha trânsito eventual por aquele território cinza que lhe valeu o Oscar em ''Dia de Treinamento''.