‘Piaf - Um hino ao amor’, em cartaz nos cinemas de Curitiba, é daqueles filmes que, mesmo com defeitos narrativos, não se apagam facilmente da memória. Provavelmente pelo peso do enredo, a trajetória de vida da cantora francesa Edith Piaf (interpretada pela atriz Marion Cotillard, em atuação singular).
Mérito, em boa medida, do diretor Olivier Dahan, que ao invés de se concentrar numa única fase de Piaf, optou por mostrar todas as fases da cantora, desde a infância, quando abandonada pelos pais, passando pelo início da vida adulta, já sob holofotes, até seus últimos dias.
Piaf nasceu em 1915 e morreu doente, aos 47 anos de idade. Mas, não se trata, claro, de fazer um pretensioso registro biográfico, e o diretor nem mesmo opta pela linha reta da passagem do tempo. Infância e vida adulta se misturam até o último instante.
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Dahan resolveu unir a carreira de Piaf (iniciada aos 9 anos, quando cantava na rua para ganhar um dinheiro) aos principais acontecimentos da sua vida (perdas doloridas, inacreditáveis) e deu um peso único a tudo, fazendo, habilidosamente, com que o espectador também carregasse tudo, toda a vida de Piaf, e em 140 minutos.
Destaque para as cenas finais, quando é a própria memória já debilitada de Piaf que nos leva a trechos do seu passado ainda desconhecidos para o espectador. Triste de doer.
Há falhas narrativas, entretanto. Há mais de uma figura importante na vida de Piaf, por exemplo, que se perde entre um deslocamento e outro do tempo, ou permanece ali, mas quase de forma figurativa. A morte de Louis Leplée (interpretado pelo ‘representante da França’ Gérard Depardieu), dono de casas noturnas e o primeiro a ‘descobrir’ a voz de Piaf, também não é bem explicada.
Nem outros fatos da vida da cantora. Se a intenção do diretor era apenas ‘passar’ pela vida de Piaf, admitindo a incapacidade de dar vez a todos, ela não ficou clara.