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Peter Parker - O filme

Claudio Yuge
15 mai 2002 às 13:55

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Homem-Aranha vai fazer sucesso nas telonas pela identificação dos telespectadores com o personagem - divulgação
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O filme Homem-Aranha, superprodução da Columbia Pictures dirigida por Sam Raimi (Evil Dead), chega às telas tupiniquins e fatalmente vai causar o mesmo efeito conseguido fora do Brasil: só nos Estados Unidos, centenas de milhares de pessoas deixaram mais de US$ 130 milhões nas bilheterias em pouco mais de uma semana de exibição.
Além da popularidade do personagem da Marvel Comics, a película do super-herói também teve investimento de peso na publicidade e, acima de tudo, trata o Cabeça de Teia com respeito. O Aranha do cinema segue a linha das HQs e é muito carismático. Seu lado humano agarra os telespectadores e as lutas do herói são direcionadas para o lado emocional, ao invés de apenas socos e pontapés.
Para aqueles que gostam de referências, o filme tem elementos bacanas de filmes colegiais "sessão da tarde" de John Hughes como Gatinhas e Gatões misturados com a aventura/ficção científica/comédia de Robert Zemeckis em De Volta Para o Futuro.
Origem
Para quem ainda não sabe, o Homem-Aranha foi criado por Stan Lee e Steve Ditko em 1962. Muitos jornais, fãs e assessorias de imprensa acabam se esquecendo do co-criador e a verdade é que, de acordo com várias autoridades do quadrinho nacional e internacional, Ditko é quem seria o maior, senão o único, criador de Homem-Aranha, o que gera até hoje uma briga judicial nos Estados Unidos. Stan Lee - que nem mais faz parte da Marvel hoje em dia - foi fundamental por ter usado sua influência na editora para publicar um personagem tão diferente na época.
Diferente? Sim, ao contrário de Super-Homem, Capitão América e Batman, que eram invencíveis e enfrentavam ameaças apocalípticas, Peter Parker era apenas um adolescente "nerd" que ganhara poderes depois de ser picado por uma aranha radioativa e, mesmo quando salvava a cidade, ainda tinha de se preocupar com sua tia, seus estudos e as contas de casa.
Algumas alterações foram necessárias para a adaptação cinematográfica como o fato de Parker ser picado por uma aranha geneticamente modificada (a ansiedade da humanidade atual gira em torno da genética e não tanto da radioatividade) e os lançadores de teias serem substituídos por uma teia orgânica criada por seu próprio corpo, já que, nas palavras de Raimi, "mesmo um gênio adolescente não teria capacidade de criar um material que nem mesmo a 3M pôde criar em décadas de pesquisa".
O filme
Homem-Aranha vai fazer sucesso nas telonas principalmente por causa da identificação e o carisma que o personagem exerce sobre seus telespectadores. É uma história sobre dois dos sentimentos mais comuns em nossas vidas e no dia-a-dia: amor e rejeição.
Peter Parker (Tobey Maguire) é o primeiro "loser" (perdedor) das histórias em quadrinhos. E no cinema isso foi conservado. Ele é motivo de chacota na escola, não consegue sequer se aproximar da garota que ama desde quando tinha 6 anos, Mary Jane (Kirsten Dunst), e seu melhor amigo Harry Osborn (James Franco) é quem consegue conquistar a garota de seus sonhos.
Tudo isso começa a mudar quando Parker ganha os poderes de uma aranha. É o que todos pensam. Quando a maioria das pessoas acha que fantásticos dotes podem ser a solução para os problemas do nosso atormentado herói, o diretor Sam Raimi mostra que só o lado humano do super-herói pode lidar com esses problemas. Não importa se o Aranha salva centenas de pessoas de um incêndio ou pode pular de prédio em prédio, isso não vai ajudá-lo a tirar notas altas na escola ou resolver sua situação amorosa.
Uma das sacadas de Raimi é o tom cômico da superprodução. O personagem é naturalmente tagarela e consegue achar graça de tudo, mesmo nas situações mais complicadas. O diretor usou a tragicomédia das HQs em diversas situações, principalmente quando Parker começa a aprender a usar seus novos poderes.
Os efeitos especiais também são responsáveis por boa parte do espetáculo. Nas HQs é muito difícil visualizar a agilidade e o Sentido de Aranha do personagem. No filme, podemos nos surpreender a cada salto e acrobacia do Homem-Aranha e até conseguimos enxergar como é que o herói pode prever as situações de perigo com seus poderes.
Como contar de forma diferente a mesma história que há 41 anos faz a cabeça de milhares de pessoas? Raimi direcionou bem o que de melhor o cinema poderia trazer para o aracnídeo: o drama. O diretor usou o lado trágico de herói e o destino o qual Parker é obrigado a carregar desde que ganhou seus poderes. A morte de Tio Ben (Cliff Robertson) e o conflito amoroso são emocionantes e peças fundamentais para o crescimento do personagem na trama.
A equipe
Já escalada para a continuação em 2003, a dupla Tobey Maguire (Garotos Incríveis) e Kirsten Dunst (Virgens Suicidas) está irresistível no filme. Maguire, conhecido por sua simpatia e a capacidade de atuar apenas com os olhos e os lábios (como disse, Parker é tagarela) encarna o adolescente nerd com muita precisão. Em um momento temos apenas um garoto indefeso e, em apenas cerca de uma hora de filme, visualizamos a mudança para um jovem que aprende a lição: "com grandes poderes vêm grandes responsabilidades".
Já Dunst tem o jeitinho de menina e sensualidade de mulher. Ela mostra com habilidade e charme os conflitos de uma adolescente que vive as coisas com o coração mas não consegue entender direito seus sentimentos. Mary Jane Watson começa a surgir como uma pessoa independente e forte, mas ao mesmo tempo frágil e incompreendida.
O destaque fica também para a atuação de William Dafoe (A Sombra do Vampiro) como o Duende Verde. Sua atuação é convincente e a dualidade do personagem é bem interpretada pelo tom cínico, comum em trabalhos anteriores de Dafoe.
Importante lembrar também de J. Jonah Jameson (J. K. Simmons). O patrão do fotógrafo free-lancer Peter Parker no Clarim Diário rouba a cena e seu jeito durão com certeza vai arrancar gargalhadas da multidões que lotarem os cinemas.
Curiosidades
- Sam Raimi mais uma vez deu um jeitinho de incluir em Homem-Aranha o ator Bruce Campbell (Evil Dead), que o acompanha desde suas primeiras produções. Campbell faz o papel de um apresentador de luta-livre.
- Stan Lee também tem uma rápida aparição numa festival organizado pela empresa de Norman Osborn.
- Parker cita como seu professor o Sr. Connors. Quem lê as HQs sabe que Curt Connors é também o conhecido vilão Lagarto.
- Ao invés de trabalhar apenas com fotografia, Parker trabalharia no Clarim Diário como assistente de internet. Dessa forma também conheceria Betty Brant (Elizabeth Banks), com quem teria um laço amoroso e isso acabaria gerando ciúmes em Mary Jane. Mas essa cena foi deletada e possivelmente pode ser utilizada na continuação.
- Músicas de fundo para as cenas de drama e amor são praticamente inexistentes do filme. Com o tom cômico da produção e as cenas um tanto piegas, músicas melosas realmente transformariam alguns momentos em dramalhões mexicanos.
Mais?
Resta agora aguardar a continuação de Homem-Aranha. Ou o sucesso de Hulk, Demolidor e X-Men 2. No entanto, nada do que virá será tão significativo para as Histórias em Quadrinhos como Homem-Aranha já é.
Muito mais que duas horas de pura diversão, para os fãs do "amigo da vizinhança", é a realização de um sonho antigo. Já quem nunca viu graça no cara ou mesmo nas HQs vai finalmente entender porquê o herói é tão cultuado por pessoas de todas as idades.
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