Padre Marcelo Rossi não esconde a ansiedade em tornar públicas as novas conquistas. A primeira: entregou pessoalmente ao Papa João Paulo II, em janeiro deste ano, uma cópia do primeiro filme ''Maria, mãe do filho de Deus''.
Com isso cumpriu a promessa pessoal de entregar ao Santo Padre uma prova concreta de que a mais nova mídia utilizada por ele, o cinema, é um excelente canal evangelizador além de trazer bons dividendos, claro.
A segunda novidade é que ele vai construir um novo santuário, a partir do próximo ano. A verba para erguer o novo templo virá das bilheterias de ''Irmãos de Fé'', seu segundo filme que chega a 300 salas exibidoras do Brasil.
Eis o motivo pelo qual o carismático sacerdote ou vice-versa e grande parte do elenco convocaram os principais meios de comunicação do Brasil para a entrevista coletiva ocorrida na última segunda-feira, num luxuoso hotel da Avenida Paulista, em São Paulo.
''O mais importante é que não estou jogando dinheiro fora. O filme, além de evangelizar, servirá de grande ajuda para a construção do novo santuário'', frisou Padre Marcelo. ''Irmãos de Fé'' trabalhou com um orçamento de R$ 4,5 milhões.
Se depender dos fiéis espectadores, a edificação está garantida. A nova casa de oração vai ocupar um terreno na Avenida Interlagos e terá capacidade de abrigar até 100 mil pessoas cinco vezes mais que o atual templo, instalado na região de Santo Amaro.
Toda estrutura do atual terreno, que pertencia à Brahma, será demolida para dar lugar a um santuário sem nome definido com quinze metros de altura, um grande altar e paredes removíveis que podem agregar outros 25 mil metros quadrados para grande eventos religiosos.
O padre se esmera em detalhes, mas esquiva-se a falar em valores. ''Só posso dizer que esse é um ano de realizações'', sintetiza.
Domadas as ânsias iniciais, padre Marcelo mune-se de fortes palavras e embevecimento para falar de ''Irmãos de Fé'', que ao seu ver tem um tom mais evangelizador e menos romanceado que o primeiro longa-metragem.
''Minha presença é apenas um instrumento da mensagem de Paulo que prega a conversão e a tolerância. Com esse filme eu quero falar pra todos. Nosso objetivo não é proselitista. Ninguém vai deixar de ser envagélico, por exemplo, porque viu esse filme. Ao contrário, vai ter mais amor à palavra de Deus'', disse o sacerdote referindo-se à ala radical de algumas igrejas evangélicas que por preconceito deixou de assistir à primeira produção.
''Irmãos de Fé'' centra-se na figura do apóstolo Paulo, interpretado com competência por Thiago Lacerda. O elenco conta com artistas consagrados da dramaturgia nacional como Othon Bastos (Pedro) e José Dumont (Tiago), além de breves participações de Cláudio Corrêa e Castro (Gamaliel), Elias Andreato (Ananias) e Fábio Sabag (homem judeu).
O diretor Moacyr Góes, o mesmo do filme anterior, escalou atores pouco conhecidos do grande público, alguns com desempenho fabuloso como Flávia Guimarães (Macária) e também revelações como o o modelo e agora ator Rodrigo Hilbert (Tito) e Antonia Frering (Rachel) essa última também conhecida como filha da lendária socialite Carmen Mayrink Veiga.
Padre Marcelo acompanhou de perto o desenrolar da produção. Deu palpites aqui e ali e, principalmente, pediu muita cautela ao tratar de Paulo, perseguidor de judeus.
Tantas mesuras se devem, em parte, ao polêmico ''A Paixão de Cristo'', de Mel Gibson, o católico. ''Fiz questão de ficar de olho em tudo porque tenho muita amizade com a comunidade judaica. Tentei amenizar ao máximo a história de Paulo para evitar qualquer problema anti-semita'', afirma Padre Marcelo.
Não, ele não assistiu à ''A Paixão de Cristo''. Assim mesmo diz tratar-se de um filme ''masoquista'' conforme relato feito por sua irmã. ''Meus filmes são evangelizadores e o Mel Gibson não é'', afirma.
Para deixar bem claro que não quer saber de diz-que-diz, o sacerdote fez questão de usar o ''Quipá'' (uma espécie de boné utilizado pelos judeus), numa das cenas mais politicamente corretas do filme. ''Fiz questão de ir a Jerusalém, de rezar no Muro das Lamentações e mostrar que se houve intolerância no passado, não deve haver mais agora'', diz. Então, tá!
Uma coisa é certa: ''Irmãos de Fé'' deve levar pelo menos as mesmas 2,4 milhões de pessoas ao cinema, como aconteceu em ''Maria, mãe do filho de Deus''.
Não duvidem, no entanto, se o milagre da multiplicação de espectadores acontecer já que a nova produção estrelada por Padre Marcelo Rossi tem um apelo muito mais estético do que sentimental.
E pelo jeito, o cinema fisgou de vez o mais incensado religioso. ''O filme mexe com as pessoas e as pessoas acabam buscando a espiritualidade'', raciocina. Rádio, televisão e cinema, enfim as principais mídias de massa já foram conquistadas por ele.
O que falta, então? É melhor não sugerir já que o sacerdote não pensa duas vezes quando se trata de levar suas pregações aos fiéis. É que esse padre, como todos sabem, promove verdadeiros milagres nos meios de comunicação...
Conheça a história do filme
''Irmãos de Fé'' narra a trajetória de Paulo que antes de converter-se ao cristianismo chamava-se Saulo de Tarso e era um sacerdote judeu conhecido pela fúria com que perseguia os pregadores cristãos.
Durante uma viagem feita a cavalo, uma luz de grande intensidade ofusca sua vista e o deixa cego. ''Saulo, porque me persegues'', indaga a voz de Jesus.
Com a visão recuperada graças ao perdão vindo através das mãos de Ananias, o agora Paulo torna-seu dos mais emblemáticos evangelizador cristão.
Esse evento serve de grande referência a duas outras histórias. Uma delas, passada nos dias de hoje, conta a trajetória de um adolescente chamado Paulo (Micael Borges) levado à Febem após ter sido preso por um sequestro relâmpago.
Lá, ele recebe a visita do padre Marcelo Rossi recebido inicialmente com hostilidade, mas que deixa uma Bíblia de presente. Aos poucos, Paulo passa se interessar pela sagrada escritura e começa a ler a história do apóstolo Paulo, no livro da Bíblia denominado ''Atos dos Apóstolos''.
Outra história se desenrola em 2020 com o o então rebelde Paulo visitando a Febem, agora como evangelizador.
* O jornalista viajou a São Paulo a convite da produção do filme ''Irmãos de Fé''