Curitiba - Antes de assistir ao novo filme e dar o veredito final, é necessário lembrar das outras produções, principalmente para entender como o personagem e a idéia de histórias em quadrinhos mudaram no cinema na última década. Antes vistas como uma transposição da fantasia caricaturizada em imagens dinâmicas, na maioria das vezes, as adaptações conseguiam apenas reproduzir os heróis nas telonas e pouco acrescentava à mitologia dos mesmos.
Isso acontecia quando o filme funcionava, pois adaptações como ''Batman Forever'' e ''Batman & Robin'', sequer conseguiam transpor para as salas de cinema personagens tão queridos há tanto tempo e chegavam a irritar os fãs (e até mesmo quem nem sequer conhecia direito os heróis).
Batman (1989) - Dirigido por Tim Burton, com consultoria de Bob Kane e roteiro de Sam Hamm. Com Michael Keaton (Batman/Bruce Wayne), Jack Nicholson (Coringa/Jack Napier) e Kim Basinger (Vicky Vale). Alardeado com música exclusiva composta pelo cara antes conhecido como Prince, o filme chegou com a proposta de reintroduzir o personagem para a audiência da década que chegava, já que os super-heróis andavam bem em baixa de meados de 80.
Tim Burton acertou a mão ao reproduzir o clima noir e gótico de Gotham City mas pecou um pouco na sua visão do Cavaleiro das Trevas: sua amargura e obsessão não conseguiram ser convincentes através de Michael Keaton, que se parece com qualquer outro personagem do Universo DC Comics e não Batman ou Bruce Wayne. O ponto positivo ficou para a boa caracterização de Coringa por Jack Nicholson, que roubou a cena mas teve pouco tempo de vida, já que o diretor decidiu acabar com o arquiinimigo de Batman logo no início de uma franquia.
Batman Returns (1992) - Dirigido por Tim Burton, com consultoria de Bob Kane e roteiro de Daniel Waters. Com Michael Keaton (Batman/Bruce Wayne), Danny DeVito (Pinguim), Michelle Pfeiffer (Mulher-Gato/Selina Kyle), Christopher Walken (Max Shreck) e Michael Gough (Alfred).
Na continuação, Burton mais uma vez dá ênfase aos inimigos do Homem-Morcego e isso dá certo. Michelle Pfeiffer e Danny DeVito conseguem ser Mulher-Gato (bem mais que a inssossa da Halle Barry) e Pinguim como mandam as melhores histórias de seus equivalentes de papel. Keaton continua se esforçando para caracterizar um herói de vida dupla, no entanto, tropeça mais uma vez ao tentar mostrar a complexidade psicológica de Batman.
Batman Forever (1995) - Dirigido por Joel Schumacher, com consultoria de Bob Kane e roteiro de Lee Batchler. Com Val Kilmer (Batman/Bruce Wayne), Tommy Lee Jones (Harvey Duas-Caras/Harvey Dent), Jim Carrey (Charada/Edward Nygma), Nicole Kidman (Dr. Chase Meridian) e Chris O'Donell (Robin/Dick Grayson).
O diretor Joel Schumacher com certeza não leu as histórias de Batman e deve ter crescido com a imagem passada por Adam West e Burt Ward, naquele seriado do Batman gordo e cheio de onomatopéias da década de 60. Assim, apesar de ter um bom orçamento e atores de peso ao seu lado, faz um filme alegórico e psicodélico, que pouco lembra Gotham City ou o Cavaleiro das Trevas.
Schumacher, além de mudar completamente o visual, despreza totalmente as adaptações anteriores (não existe sequer uma referência de que Harvey Dent apareceu no primeiro longa de Tim Burton) e traz mais um ator incapaz de ser Batman e muito menos Bruce Wayne, nem fisicamente e muito menos psicologicamente: Val Kilmer.
O diretor até investe na diversão, mostrando a origem de Robin e a aliança do Charada e Duas-Caras para acabar com o Batman. Mas o entretenimento acaba indo para o ralo quando ele deturpa cada um dos personagens que demoraram anos para ganhar a admiração dos leitores.
Batman & Robin (1997) - Dirigido por Joel Schumacher, com consultoria de Bob Kane e roteiro de Akiva Goldsman (written by). Com George Clooney (Batman/Bruce Wayne), Arnold Schwarzenegger (Mr. Freeze/Dr. Victor Fries), Chris O'Donnell (Robin), Uma Thurman (Hera Venenosa/Dr. Pamela Isley) e Alicia Silverstone (Batgirl/Barbara Wilson)
Depois de cinco minutos, os audaciosos e esperançosos fãs que já haviam se decepcionado com o filme anterior, perguntam-se mais uma vez: por que a Warner escolheu esse cara de novo para dirigir um filme do Batman? Joel Schumacher vez mostra novamente sua ignorância com relação ao personagem e caracteriza o herói de forma ridícula: um playboy que esconde sua identidade para para beijar a mulherada de dia e brincar de socar bandidos à noite.
Nem mesmo a semelhança física de Clooney com Wayne, a sensualidade de Uma Thurman, a apresentação de mais uma personagem, a também voluptuosa Batgirl, e até a participação de quem seria o futuro governador da California, Schwarzenegger, conseguem impedir o fracasso da película.
Depois dessa -que teve até batprotetores de lábios feitos de plástico-, a Warner congelou temporariamente as adaptações do Homem-Morcego e investiu mais nos desenhos animados, que, diferente dos filmes, realmente estavam concentrados na essência do personagem.