Quatro anos depois do surpreendente êxito de 'A Era do Gelo' chega às salas do circuito mundial sua inevitável sequela. Aquele lançamento de 2002 e o posterior sucesso de ''Robôs'' levaram os parceiros Blue Sky (leia matéria na Folha de Londrina) e 20th Century Fox a um lugar de destaque na competitiva disputa dentro do lucrativo mercado da animação digital. Era justificada, portanto, a grande expectativa quanto a esta nova aposta conjunta na luta contra os poderosos Pixar/Disney e DreamWorks.
De modo geral, o resultado é bastante satisfatório, embora menos excitante - afinal era tudo absolutamente original, com um senso de humor bem mais aguçado - e com algum desnível de narrativa em sua parte central.
Mas isto em absoluto tira o brilho do espetáculo, do profissionalismo no acabamento técnico e da simpatia geral que cerca todo o projeto. E neste primeiro movimento de sua carreira-solo, o diretor brasileiro Carlos Saldanha ganha fôlego para ir adiante, com plena autonomia.
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Nesta segunda aventura, a era do gelo está chegando ao fim - não por acaso, o tema tem respaldo nestes tempos de questionamentos ecológicos diante do aquecimento global. É iminente o desmoronamento de enormes massas glaciais e seu inevitável degelo, o que causará inundações gigantescas, cobrindo o vale onde habita a fauna e sua diversidade. Em meio a múltiplas referências épicas, apocalípticas e bíblicas (com reminiscências da Arca de Noé), centenas de animais começam a se descolar para fugir da extinção.
E aqui estão eles novamente, os pré-históricos heróis do momento, tomando providências para ajudar, ainda que às vezes hilariamente atrapalhando.
De volta os campeões de bilheteria Manny, ou Manfred (voz de Diogo Villela), o mamute responsável e bonachão; Sid (Tadeus Melo), o bicho-preguiça entre estúpido e engraçado; e Diego (Marcio Garcia), o destemido tigre-dentes-de-sabre, nem tão predador assim, e que agora descobre sua incontrolável fobia por água, além de redobrar a paciência para conviver com Sid, subitamente paranóico e tomado pelo complexo de inferioridade.
Esta nova odisséia do trio arranca como um clã multi-étnico ao qual serão agregados novos membros. Como a surpreendente mamute-fêmea, Ellie (Claudia Jimenez na versão brasileira, Queen Latifah na original), que alivia as preocupações celibatárias de Manny.
Mas para que o casamento se consume, é preciso convencer a jovem paquiderme de que ela não é uma gambá, entre as quais foi criada - de resto, há duas autenticas entre os novos personagens.
Por último, mas não menos importante, retorna Scrat. Já sabem, o ''esquilofrênico'' obcecado por uma bolota de carvalho, seu alimento preferido. Sua muda e elétrica participação foi ampliada, e suas peripécias agora estão integradas com as do resto da turma.
A este quadro, roteiro, animadores (a tecnologia computadoriza em 3-D está ainda mais sofisticada) e direção acrescentaram a necessária dosagem de adrenalina - é como colesterol, existe da boa e da má, e aqui ela veste com uma luva -, temperada com sincera emoção.
''A Era do Gelo 2'' pode não ter soluções tão engenhosas, ou sequências tão bem resolvidas como o primeiro para varias situações criadas. Mas é o que se pode chamar de síndrome da retomada, ou do ''déjà vu'', da qual talvez o único que tenha escapado tenha sido ''Toy Story 2''. Por isso, o brasileiro Carlos Saldanha resolveu oferecer mais do mesmo. E sendo o mesmo de qualidade comprovada, dificilmente o filme incorreria em carência ou overdose.
>> Leia reportagem sobre a produtora do filme, Blue Sky Studio, na Folha de Londrina