Desconcertante, auto-referente, divertido. Sim, divertido porque o senso do absurdo ocupa todo o espaço da tela e aí o risível se instala. Mas ''A Dama na Água'' é também, antes de mais nada, ridículo, solene e grandiloquente. É um filme que eleva à enésima potência os outros longas do diretor M. (de Manoj) Night (N de Nelliyatu) Shyamalan, ''O Sexto Sentido'', ''Corpo Fechado'', ''Sinais'' e ''A Vila''. Mas que, por outro lado, também as parodia.
Travestido de J.R.R.Tolkien, mas sem o dom da maravilha do autor de ''O Senhor dos Anéis'', o indiano Shyamalan desenvolve aqui toda uma mitologia própria - a esta altura todos os seres do planeta já estão informados de que esta é uma história escrita por ele para seus filhos, que ainda a ouviam na cama, na hora de dormir.
Seus entes atendem pelos nomes de scrumps, narfs, tamutics e ealones. Tudo muito forçado. Habitam o Mundo Azul e irrompem em meio ao cotidiano terrestre mais banal. Na piscina de um condomínio, para ser mais exato. Não um condomínio qualquer, mas um com exuberante diversidade racial: brancos anglo-saxões, asiáticos, latinos, todos obviamente representando um núcleo representativo do globalizado mundo contemporâneo. Shyamalan quer ser muito pessoal e desafiador, mas é muito provável que o ego bloqueie sua visão artística.
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Quem primeiro entra em cena é uma espécie de ninfa aquática chamada Story (bedstory? mas que original!), interpretada por Brice Dallas Howard. Logo atrás dela, louca para devorá-la, vem uma besta asquerosa. Story é uma narf e o monstro verde que a persegue, um scrump. Para que ela volte salva ao Mundo Azul, todos os habitantes do condomínio, liderados pelo síndico (o ótimo Paul Giamatti, agitadíssimo), terão que praticar ritual que permita que a água chamada Grande Ealón leve a moça pelo ar, enquanto três macacos asquerosos (os tais tamutics) despedaçam o scrump. O próprio Shyamalan reservou um papel para ele como escritor cujas idéias muito avançadas permitirão que, no futuro, um menino nascido no Meio Oeste dos EUA se converta no Messias que a cristandade espera.
O que temos de concreto: mitos de segunda mão, ''salvacionismo'' de terceira, transcendentalismo de quarta e messianismo de quinta. Um roteiro convulsionado por arbitrariedades e que tais - aliás, seria curioso ver Shyamalan trabalhando com outros roteiristas que não ele, que não é mau diretor.
''A Dama na Água'', na apertada conta de chegada, não passa de um pesadelo new age.