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O pesadelo, quase absoluto

Carlos Eduardo Lourenço Jorge - Folha de Londrina
18 jan 2008 às 15:31

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Além do cão fiel, o cientista carrega por Nova York esvaziada o trauma por não ter conseguido conter o tal vírus mutante - Divulgação
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Antes desta pomposa adaptação que chega às salas brasileiras, o clássico da literatura de FC ''Eu Sou a Lenda'', assinado por Richard Matheson, conheceu duas notáveis, embora insuficientes, versões cinematográficas.

A primeira, a co-produção ítalo-americana ''Mortos que Matam'' (1964), de Sidney Salkow e Ubaldo Ragona, tinha Vincent Price como protagonista, o tom de elegia por uma humanidade condenada e uma estética áspera que deixou descendência, a mais célebre ''A Noite dos Mortos-Vivos'', de George A. Romero.

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Já ''A Ultima Esperança da Terra'', de Boris Sagal (1971), tomava mais licenças em relação ao original, a fim de que a ficção se adequasse sob medida ao estrelato de Charlton Heston - o herói mais apocalíptico da década com outro título do gênero, ''No Mundo de 2020''. No entanto, curiosamente o tempo jogou a favor desta versão, hoje cultuada.

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O ponto de partida do filme é verdadeiramente sugestivo, apresentando ao público o cientista Robert Neville (Will Smith), um dos raros sobreviventes de um vírus que causou uma pandemia e transformou quase toda a humanidade em uma espécie de zumbis, humanóides de hábitos noturnos.

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Neville, além do cão fiel, carrega por Nova York esvaziada o trauma por não ter conseguido conter o tal vírus mutante. Ele vaga pela megalópole deserta em busca de outros não infectados, e ainda mantém esperanças de uma cura para livrar o mundo da praga.


O resultado na tela é um produto de impecável acabamento, e que no geral resulta capaz de entreter qualquer platéia exposta aos seus 101 minutos - o bom senso recomendava uma extensão que não excedesse as duas horas: conveniente para o filme, ótimo para o espectador.

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Mas ''Eu Sou a Lenda'' poderia ter sido um trabalho de intenso brilho nas mãos de alguém melhor dotado do que o diretor Francis Lawrence, formado na escola do vídeo musical. Sua performance obteve o melhor e o pior. A primeira parte é um legítimo tour de force, com Smith e o pastor alemão Sam vagando na vastidão desolada de NY, tomada pelo mato e por manadas de cervos.


Neste ponto o cineasta se revela capaz de tornar possível e palpável qualquer imagem. A primeira aparição dos zumbis - um grupo visto de costas, em presumida comunhão de sangue no coração das trevas - prenunciava um promissor controle da morbidez. Mas infelizmente esta expectativa vem abaixo, o pesadelo se abranda, os monstrengos passam a se mover como peças de videogame e o conjunto acaba sendo uma traição àquilo que havia de mais fascinante no texto de Matheson: a extrema solidão de um homem cuja única companhia no mundo é um cão.

Quase toda a sobrevivência do filme se dá pelas mãos de Will Smith, um dos poucos atores hollywoodianos dedicados ao cinema de entretenimento com a capacidade de encher a tela de inquestionável carisma. Não há qualquer dúvida de que Smith, e somente ele, seja o responsável pelo enorme êxito de bilheteria do filme até o momento: 250 milhões de dólares em apenas um mês de exibição.


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