Estreias

O inferno nunca rendeu tantas risadas

10 jan 2001 às 17:22
Adam Sandler foi salvo de levar a fama de chato graças ao roteiro bem sacado desta comédia com cara de férias. O ator faz caretas o tempo todo, mas é impossível rir delas. Quisera ele ter ganho os créditos apenas como roteirista. No fundo, a graça é garantida mesmo pelas situações vividas pelos personagens.
O trabalho de pensar nas ridículas piadas - no bom sentido - não foi mérito apenas da estrela do filme. Adam Sandler ganhou a bem-vinda ajuda de Steven Brill, que também é o diretor, e de Tim Herlihy. Os três já trabalharam juntos em "O Paizão" (1998) e "Afinado no Amor" (1998), ambos protagonizados por Sandler. Em "Little Nicky - Um Diabo Diferente" a paisagem mudou, trocaram os personagens, mas, no geral, a coisa continua a mesma.
Novamente Adam Sandler faz o papel do herói, que, apesar de ser discípulo do mal desta vez, tem um bom coração e é meio abobado. Mas quem não seria assim se fosse filho do diabo e de um anjo, interpretado por Reese Whiterspoon ("Segundas Intenções")? Em meio a tantas trapalhadas, ele ainda encontra tempo para se apaixonar. O nome da vítima é Valerie, personagem de Patricia Arquette ("Stigmata"), que se comove com o jeito bobalhão de Nicky. De boca torta e cabelo à lá nerd, Adam Sandler chega a irritar. É evidente que ninguém é tão idiota assim e fazer de conta que isso tem graça chega a ser chato.
Adam Sandler é Nicky. Para desespero de seu pai - o diabo (Harvey Keitel, de "O Piano") -, ele é o único capaz de salvar a Terra da fúria de seus dois irmãos mais velhos, Adrian (Rhys Ifans - "The Replacements") e Cassius (Tom 'Tiny' Lister Jr). No dia da sucessão do trono no inferno, o diabo resolve prolongar seu reinado e deixa Adrian e Cassius na mão. Inconformados, os dois sobem para a Terra e resolvem fazer dela um novo inferno, rompendo o equilíbrio entre o bem e o mal.
Nicky chega logo depois com a missão de capturar Adrian e Cassius e devolver o inferno para o diabo, que, lá embaixo, começa literalmente a desintegrar-se. O problema é que Nicky é um adolescente bobo que ainda não aprendeu a controlar seus poderes malignos. Além de ter de superar a si mesmo, ele tem vários desafios como aprender a atravessar a rua, comer, dormir, amar, ir ao banheiro e ser mal quando necessário, o que rende cenas hilárias e imperdíveis.
Apesar da gafe do protagonista, o filme conta com bons atores, um roteiro esperto, uma direção mais do que técnica - o riso fica mesmo por conta do texto - e também uma direção de arte acertada. Alan Au ("Afinado no Amor" e "O Rei da Água") e Donald B. Woodruff ("Garotos Incríveis" e "Volcano") criaram uma atmosfera pesada, digna do inferno, que não destoou muito do ambiente urbano de Nova York. "Little Nicky - Um Diabo Diferente" conta ainda com cenas que parodiam outras produções, um cachorro que fala, efeitos especiais e com a participação do metaleiro satânico Ozzy Ousborne, integrante também da trilha sonora que promete vender horrores. A fórmula pode não ser tão inovadora, mas a idéia de dar ao cômico uma roupagem diabólica resultou num absurdo motivador de gargalhadas.

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